Sobre as Testemunhas de Jeová
Orientações Perigosas – Parte 2 – As Vacinas – William Gadelha
Orientações Perigosas – Parte 2 – As Vacinas – William Gadelha

Orientações Perigosas – Parte 2 – As Vacinas – William Gadelha

Copyright © 2011 William Gadêlha

Atualizado 2021

“As vacinas são substâncias tóxicas, que ao serem introduzidas no organismo de um animal, suscitam uma reação do sistema imunológico semelhante à que ocorreria no caso de uma infecção por um determinado agente patogênico, de forma a tornar o organismo imune a esse agente (e às doenças por ele provocadas).” – Wikipedia, 2006.http://pt.wikipedia.org/wiki/Vacinas

Muito relacionado às vacinas é o soro, que é qualquer medicamento derivado do sangue ou do seu fluido, muitas vezes envolvendo anticorpos, tais como os antídotos, os antivenenos ou drogas antivirais. http://en.wikipedia.org/wiki/Serum

Jonas Salk em 1955 segurando dois frascos de cultura para a vacina contra a poliomielite.

A história das vacinas começa em 1796, quando Edward Jenner (abaixo) fez pesquisas sobre imunização contra a varíola bovina. No século 19, Louis Pasteur tornou-se o definitivo descobridor das vacinas, que dali em diante passaram a desempenhar importante papel em favor da saúde da humanidade.

 Edward Jenner, cerca de 1824, em arte de Vigneron Pierre Roch

 


Como se posiciona hoje em dia a Associação Torre de Vigia acerca das vacinas?

Uma de suas manifestações mais recentes apareceu na revista Despertai! de 8 de agosto de 1993. página 25:

“Visto que as imunizações passivas são as que preocupam pela questão do sangue, que posição adotará o cristão consciencioso? Artigos anteriores publicados nesta revista e na sua companheira, A Sentinela, têm apresentado uma posição consistente: cabe à consciência do próprio cristão, treinada pela Bíblia, decidir se aceita ou não este tratamento para ele e para a sua família.”

Não há, portanto, nada contra o emprego das vacinas, o que mostra ser a agência oficial das Testemunhas de Jeová uma organização em dia com o progresso da ciência no que ela traz de benéfico para a humanidade. Ou, pelo menos, é essa a idéia que a declaração transcrita quer transmitir ao leitor.

Retrocedamos, pois, à primeira metade do século 20, para conferir o que dizia então a organização que já se afirmava como agência terrestre por meio da qual Jeová, o Deus todo-poderoso, torna conhecida sua vontade e seus propósitos para toda a humanidade.

Em 1919 a organização criava mais uma publicação quinzenal, que passava a ser companheira de The Watchtower (conhecida em português como A Sentinela). Tratava-se de The Golden Age (A Idade de Ouro), cujo nome foi mudado para Consolation (em português, Consolação) em 1938 e depois Awake! (Despertai!) em 1946.

Esta revista, apenas dois anos após sua criação, dizia:

A vacina nunca evitou coisa alguma e nunca o fará, e é a prática mais bárbara… Estamos nos últimos dias e o diabo está fazendo, no ínterim, um esforço estrênuo para causar todo o dano que puder e é a ele que devemos atribuir tais males… Use seus direitos de cidadão americano para abolir para sempre a prática demoníaca da vacina.” (The Golden Age, 12 de outubro de 1921, página 17)

Numa edição alguns anos depois, ela declarava:

“As pessoas ponderadas fariam melhor em ter varíola do que em vacinar-se, pois a vacina espalha as sementes de sifílis, câncer, eczema, erisipela, escrófula, até a lepra e várias outras doenças repugnantes. Portanto, a prática da vacina é um crime, um abuso e um engodo.” (The Golden Age, 5 de janeiro de 1929, página 502)

As afirmações acima citadas eram francamente opostas ao uso das vacinas, embora pelo seu próprio tom parecessem opiniões pessoais. Ao mesmo tempo, como claramente mostram, revestiam-se de preconceito e ignorância quanto a verdades científicas básicas.

É verdade que certos avanços da ciência não aconteceram sem muita luta contra as mentes fechadas, o preconceito e a ignorância. Cerca de 20 anos antes de A Idade de Ouro veicular tais conceitos, o Brasil foi palco de um conflito que quase derrubou um governo, a Revolta das Vacinas.

No início do século 20 o Rio de Janeiro era assolado por inúmeras epidemias (febre amarela, peste bubônica, varíola, etc). O presidente Rodrigues Alves encarregou o grande médico Oswaldo Cruz de acabar com as doenças que tornavam o Rio um perigo não só para os seus moradores como para os que o visitassem. O motivo da revolta foi a lei federal que obrigava as pessoas a se vacinarem contra a varíola. Entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904, a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as tropas da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. O governo declarou estado de sítio (16 de novembro de 1904). Centenas de pessoas foram presas e muitas delas deportadas para o Acre. A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. A charge ilustrativa publicada por uma revista da época, dá uma ideia do que aconteceu:

Trágica reação a uma provisão médica, cujo objetivo era imunizar a população dos terríveis efeitos da varíola! Ignorância e preconceito deram-se as mãos para gerar aqueles distúrbios.

O grande sanitarista responsável pela erradicação das doenças do Rio de Janeiro, Dr. Oswaldo Cruz, foi ridicularizado numa revista da época, que aqui vemos:

Como vimos, as duas edições já citadas de The Golden Age, publicadas pela Torre de Vigia quase duas décadas depois deste evento no Brasil, refletiam atitude semelhante, isto é, ignorância e preconceito.

Em 1931, a Torre de Vigia não só ainda mantinha sua aversão às vacinas como a reforçava, como mostra The Golden Age de 4 de fevereiro daquele ano, sob o subtítulo ‘A Santidade do Sangue Humano (Razões pelas quais a vacina não é bíblica)’, na página 293:

“Visto que a vacina tornou-se tema de debate, não posso refrear-me de escrever a respeito deste grande malA lei da vacina não é uma lei justa. Todos os pais e mães devem ter o direito de dizer o que deve ser feito aos corpos de seus próprios filhos; assim, a lei da vacina reduz pais e mães à condição de meros escravos, situação quase tão ruim quanto a das pessoas de cor, quando seus filhos eram postos em exibição e vendidos. Em muitos casos de venda de escravos, sequer se permitia aos pais derramar lágrimas.” (O grifo é meu)

Tal como no caso dos transplantes, recorre-se a uma ilustração absurda e que apela para as emoções dos leitores, visando impor-lhes seu ponto de vista. Até aí, porém, parecia tratar-se de uma opinião pessoal. Mas logo em seguida, lemos:

“A vacina é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio. Em Gênesis 9:1-17, lemos…” (O grifo é meu)

E passa a transcrever toda esta passagem bíblica, onde, naturalmente, nada há que proíba as vacinas, já que tal coisa não existia na época em que a Bíblia foi escrita. Confira uma fotocópia do original da revista The Golden Age:

http://corior.blogspot.com/2006/02/80-o-corpo-governante-e-as-vacinas-1.html

Todo a argumentação se fundamentava na proibição estabelecida por Deus quanto a usar o sangue como alimento, interpretação que viria a gerar sérios problemas para todos os que viessem a filiar-se a esta religião.

As declarações das citadas edições da revista significavam que os adeptos da organização Torre de Vigia, até 1931 conhecidos como Estudantes da Bíblia, não podiam fazer uso das vacinas até então disponíveis. Com o passar do tempo, a medicina tornaria disponíveis vacinas contra outras doenças, mas as Testemunhas de Jeová, obedecendo às ordens, não de Jeová, mas de seus dirigentes humanos, continuariam a privar-se deste avanço da ciência médica.

Certo dia, uma pessoa, provavelmente Testemunha ou simpatizante, nos escreveu questionando que a edição de The Golden Age de 4 de fevereiro de 1931 estivesse realmente condenando as vacinas. Alegava que ao lado do subtítulo aparecia o nome (Charles A. Patillo) do autor da matéria, seguido das letras “Va.”, provavelmente significando Virgínia (estado americano). Segundo ele, isto indicaria que era a carta de um leitor e não a opinião expressa da Torre de Vigia. É bom lembrar, todavia, que já havia no mínimo duas condenações anteriores publicadas (edições de 12 de outubro de 1921 e 5 de janeiro de 1929). Fica difícil imaginar, independentemente de quem fosse Charles A. Patillo, que a Sociedade Torre de Vigia publicasse este artigo se não concordasse plenamente com essa opinião.

Mas não precisamos ficar na dúvida. Houve uma figura que apareceu um ano mais tarde na edição de The Golden Age (A Idade de Ouro) de 30 de março de 1932, página 409 que era típica dos desenhos e caricaturas usadas naquela época nas publicações da Torre de Vigia e a vacina ali era representada por um demônio. Aos seus pés, pessoas que se vacinam e crianças com marcas de varíola.

A imagem passa terrível ideia de repugnância pela vacina, mas o fato é que esta erradicou não só a varíola como também outras enfermidades comuns em crianças. Destas, porém, continuaram a sofrer as Testemunhas.

Outra manifestação semelhante veio em The Golden Age de 31 de maio de 1939, página 5, em que a gravura expressava de modo estridente, a posição adotada na época pela Torre de Vigia. A legenda ao pé da imagem dizia: “Envenenando, desnorteando e roubando a humanidade”. A análise da imagem, porém, falava muito mais: via-se o “Bar da Vacina e do Soro”. Sentado, John Public (representando o público ingênuo) era servido pelo garçon da A.M.A. (Associação Americana de Medicina) com vários coquetéis (pus de bezerro, vaca, gato, cachorro) que representavam as vacinas e os soros). O ladrão que batia a carteira do cliente representava a indústria dos soros.

Não há, portanto, nenhum erro de interpretação. Há evidência inquestionável de que a organização Torre de Vigia, entidade legal das Testemunhas de Jeová, condenava o uso de vacinas. Apresentando-se a seus adeptos como a agência de Deus na Terra, ou a única religião que Jeová usa para tornar sua vontade conhecida à humanidade, os conceitos que são publicados em suas revistas têm força de lei. Os membros dessa religião seguiam essa orientação e não tinham nenhuma dúvida de que, como afirmou The Golden Age de 4 de fevereiro de 1931, a vacina era “uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio.” Era, diziam, a vontade de Deus. E qual membro da organização ousaria vacinar-se em violação à lei de Deus?

Mais duas décadas passam. É lançada The Watchtower (no Brasil, A Sentinela) de 15 de dezembro de 1952. (Por ser muito antiga, não conseguimos localizar a edição correspondente em português) Nesta encontramos, na página 764, a pergunta dos leitores que dizia:

“É a vacina uma violação da lei de Deus que proíbe a introdução de sangue no sistema circulatório?”

A resposta da organização começava assim:

“A questão da vacina cabe ao indivíduo que tem de enfrentá-la decidir por si mesmo. Cada pessoa tem de assumir as conseqüências por quaisquer posições ou ações que tomar com respeito a um caso de vacina obrigatória, fazendo-o de acordo com sua própria consciência e sua consideração do que é bom para sua saúde e para os interesses da promoção da obra de Deus. E nossa Sociedade não dispõe de recursos para envolver-se legalmente no assunto ou assumir a responsabilidade pelos rumos que o caso venha a tomar.” (O grifo é meu)

É interessante avaliar o que as palavras acima expressam. Primeiro, que o tom mudou bastante em relação à revista The Golden Age de 1931. Se a vacina agora é obrigatória, cada pessoa pode decidir se a toma ou não. Incentiva-se ao uso da consciência pessoal e ao que é bom para a saúde. O último trecho sublinhado, porém, é ainda mais interessante. Será que as leis americanas estavam na época ameaçando com sanções em dinheiro (multas ou indenizações) aqueles que pusessem obstáculos aos programas de vacinação? Quando a revista diz que a Sociedade “não dispõe de recursos para envolver-se legalmente no assunto”, não estaria a organização preocupada em sofrer perda de dinheiro? Teria sido a mudança de posição motivada em parte por essa preocupação?

Mas prossegue o segundo parágrafo da Sentinela (em inglês) de 15 de dezembro de 1952, página 764:

“Após uma consideração da questão, ela não nos parece estar em violação do pacto eterno feito com Noé, conforme estabelecido em Gênesis 9:4, nem contrário ao mandamento de Deus em Levítico 17:10-14.” (O grifo é meu)

Note-se que o trecho acima afirma exatamente o oposto da revista de 1931, que dizia:

“A vacina é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio.” (O grifo é meu)

Foi assim, com mais uma flagrante contradição, que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová apagou sua condenação às vacinas. E acrescentava ainda no início do parágrafo seguinte:

“Desta forma, parece que falta base bíblica a todas as objeções á vacina.” (O grifo é meu)

Pode conferir a fotocópia da página 764 de A Sentinela 15.12.52 em inglês:

Mais explicações em: http://corior.blogspot.com/2006/02/81-o-corpo-governante-e-as-vacinas-2.html

A semelhança com a questão dos transplantes não é mera coincidência. Após mais de três décadas de franca oposição a que as pessoas se vacinassem, a Torre de Vigia descobriu que “faltava base bíblica”! Isto quer dizer que aqueles que ao logo daquele período foram fiéis à orientação recebida do Corpo Governante sofreram na carne todas as suas conseqüências negativas, e sofreram inutilmente, pois Jeová Deus nada tinha dito sobre o assunto.

A vacina estava definitivamente liberada. Aquilo que durante tantos e tantos anos havia sido motivo de restrições para os seguidores desta religião foi eliminado como que por um decreto.

Depois de tanta reprovação, condenação, ignorância e puro preconceito, os membros do Corpo Governante acharam por bem decidir:

“… ela [a vacina] não NOS parece estar em violação do pacto eterno feito com Noé…

E tardiamente, muito tardiamente descobriram que: falta base bíblica a todas as objeções à vacina.”

No entanto, faltou humildade para reconhecerem publicamente que a organização tinha estado em sério erro desde os anos 20! Quando veio a revogação, nem uma palavra foi dita sobre a situação anterior, como é que tinha sido antes. Faltou uma explicação do tipo:

“Até agora NÓS acreditávamos assim. Agora, porém, NÓS concluímos de modo diferente.”

Preferem deixar os irmãos na ignorância dos dogmas passados, no desconhecimento da conduta desabonadora da liderança da religião. Isto, afinal de contas, poderia ser altamente prejudicial para a aura de sapiência bíblica e de orientação divina que o Corpo Governante diz ter. Alguém poderia raciocinar assim:

“Ora, se os irmãos do Corpo Governante puderam estar tão seriamente enganados, e num assunto tão grave, que envolvia a vida e a saúde de nossos co-adoradores, como crer que eles de fato têm orientação divina? Quem tem a orientação divina não poderia ter tomado a decisão errada! Se, por outro lado, tomaram a decisão errada, é porque não tinham mesmo a orientação divina!”

Os que naquela época sofreram danos irreparáveis devem agora, em sua grande maioria, estar mortos. Dos mais de seis milhões de atuais adeptos da Torre de Vigia, poucos, muito poucos devem ter conhecimento deste episódio das vacinas. TUDO ISSO, PORÉM, ACONTECEU. E aconteceu porque alguns princípios bíblicos elementares foram esquecidos.

1 Coríntios 4:6:

“Não vades além das coisas que estão escritas.”

O Corpo Governante não se satisfaz com aquilo que Deus acha suficiente colocar em sua Palavra, a Bíblia. Desenvolve preceitos e idéias próprios e tenta impô-los aos seguidores. Quando a Bíblia não diz especificamente o que os homens do Corpo Governante (abaixo) querem que ela diga, eles forçam uma interpretação e dizem que isto ou aquilo é a vontade de Deus.

Salmo 146:3:

“Não confieis nos nobres, nem no filho do homem terreno, a quem não pertence a salvação.”

O “filho do homem terreno”, no caso, é qualquer homem que se ponha em posição de autoridade e estabeleça suas próprias normas para que outros as sigam. A Torre de Vigia declarou por muitos anos que a vacina era algo a ser rejeitado. Achou que a “salvação” ou o melhor era abster-se da vacina.

Assim, mentiu. Enganou a si própria e a outros e fez pior que isso: disse que a rejeição à vacina era a vontade de Deus, quando afirmou que a vacina era “uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio.”

Que os adeptos da Torre de Vigia, as Testemunhas de Jeová sinceras, de boa vontade, que têm como alvo fazer aquilo que Deus realmente quer, e não o que homens imperfeitos afirmam, meditem sobre o que viram nesta informação; confiram as publicações citadas e pensem em como, no futuro, resguardar-se de orientações que possam prejudicar sua vida e sua saúde.