Sobre as Testemunhas de Jeová
Os 144 Mil e a Grande Multidão – Quem São? – William Gadelha
Os 144 Mil e a Grande Multidão – Quem São? – William Gadelha

Os 144 Mil e a Grande Multidão – Quem São? – William Gadelha

Copyright © 2000 William Gadêlha

Atualizado 2021

“Há um só corpo, e um só espírito, assim como também fostes chamados em uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo.” – Efésios 4:4-5

O texto acima deixa bem claro que há uma só esperança. A Sociedade, no entanto, diz que os textos das Escrituras Gregas se aplicam apenas aos ungidos, isto é, os mesmos 144 mil de Revelação (Apocalipse) 7:9. Mas onde é que a Bíblia diz isto? Em lugar nenhum!

Segundo o Corpo Governante, Jesus se referia a uma classe terrena, “a grande multidão” (Rev. 7:9), quando mencionou as “outras ovelhas” em João 10:16:

“E tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco, a estas também tenho de trazer, e elas escutarão a minha voz e se tornarão um só rebanhoum só pastor.”

Quem seriam essas outras ovelhas? Que a própria Bíblia esclareça o assunto. Por ocasião do Concílio de Jerusalém, em 49 E.C., Tiago recordou à congregação a profecia de Amós 9:11,12, de que os judeus seriam ajuntados a pessoas das nações para buscar a Jeová. – Atos 15:16,17:

“Depois destas coisas voltarei e reconstruirei a barraca de Davi, que está caída; e reconstruirei as suas ruínas e a erguerei de novo, a fim de que os remanescentes dos homens possam buscar seriamente a Jeová, junto com pessoas de todas as nações, pessoas chamadas por meu nome, diz Jeová…”

Antes disso, no versículo 9 deste mesmo capítulo, Pedro declarara que Deus já não fazia distinção entre judeus e gentios, visto que cerca de 13 anos antes, Cornélio e outros haviam se tornado os primeiros gentios a entrar na congregação cristã. Lembremo-nos de que Jesus proferiu as palavras em João 10:16 ainda durante seu ministério terreno, antes, portanto, dos acontecimentos narrados no livro de Atos.

Já que, EM PARTE ALGUMA da Bíblia se diz que as ovelhas que já estavam nesse aprisco eram os 144 mil, e que as “outras ovelhas” eram da “grande multidão” de Revelação 7:9, a conclusão bíblica a que se pode chegar é que as “outras ovelhas” de João 10:16 eram os cristãos DAS NAÇÕES, REUNIDOS AOS SEUS IRMÃOS JUDEUS, sob a liderança do ÚNICO PASTOR, o cabeça da congregação cristã. Jesus cumpriu, assim, o que disse que faria em João 10:16.

A Sociedade rejeita esse entendimento numa longa exposição em A Sentinela 15 de janeiro de 1981, páginas 23-27. Começa dizendo (página 23, parágrafo 6) que as “igrejas da cristandade” ensinam isso. Com esta expressão, altamente negativa para as Testemunhas, visa-se desacreditar a opinião contrária, além de passar a impressão de que todos que a adotam pertencem a essas igrejas, o que não é verdade, principalmente no que diz respeito aos escritores dessa homepage. Além disso, é um raciocínio falso o de que, pelo mero fato de as igrejas adotarem certo ensino, este ensino esteja automaticamente errado. A maioria delas ensina que a Bíblia é a Palavra de Deus, que Jesus morreu em sacrifício pela humanidade, e que há uma vida eterna pela frente. Isto não torna tais ensinos errados, não é verdade?

No mesmo parágrafo 6, afirma-se que o entendimento de judeus e gentios juntos no “um só rebanho” de João 10:16 “discorda de outros textos bíblicos sobre o assunto”. Esta é uma afirmação sem fundamento! Que texto bíblico exclui a possibilidade de Jesus ter se referido aos gentios quando mencionou as “outras ovelhas” em João 10:16? Pessoas de ambos os grupos não vieram, de fato, a ser reunidas por meio da aceitação de Cristo?

Na página 23, parágrafo 7, da mesma revista, a Sociedade põe-se a discorrer sobre o que João “pode muito bem ter recordado” quando registrou as palavras de Jesus no capítulo 10, versículo 16 de seu evangelho. O autor desse artigo de A Sentinela presume que João tinha a respeito dos 144 mil de Revelação o mesmo conceito que a Sociedade tem hoje. Além de ser uma suposição, ele se esquece de que as palavras de João 10:16 não se originaram do próprio João, que apenas as ouviu e escreveu. Foram palavras do PRÓPRIO JESUS, logo, o que João porventura estivesse pensando naquele momento, nós não sabemos e nem vem ao caso.

Outro argumento empregado pela Sociedade está em A Sentinela 1/11/1974, páginas 671, 672. Primeiro ela cita vários textos em que Jesus chama seus discípulos de “irmãos”. Até aí, tudo bem. Depois, recorda a parábola das ovelhas e cabritos em Mateus 25:31-40, onde no final, Jesus diz às ovelhas que lhe deram assistência simbólica:

“Ao ponto que o fizestes a um dos mínimos destes meus irmãos a mim o fizestes”.

Então, vem a conclusão: “revela-se assim que as ‘ovelhas’ mencionadas aqui são diferentes dos irmãos de Cristo.” Pela dedução da Sociedade, não é possível que alguém seja “irmão de Cristo” e “ovelha” ao mesmo tempo, e em João 10:16 Jesus estaria se referindo aos 144 mil e às “outras ovelhas” com esperança terrestre.

Ela, no entanto, aplica outra regra, quando se trata da parábola do “Escravo Fiel e Prudente”, de Mateus 24:42-47, onde há o “escravo” e os “domésticos”. Em A Sentinela 1/9/81, página 24, ela determina: “o ‘escravo’ é composto por todos os cristãos ungidos como grupo… os ‘domésticos’ são esses seguidores de Cristo como indivíduos“. Observe bem: neste caso, os cristãos ungidos são, ao mesmo tempo, os que dão o alimento e os que o recebem. E este é um princípio biblicamente correto! O cristão verdadeiro tanto serve aos seus irmãos como é servido por eles. Isto também se ajusta às palavras de Jesus a Pedro, em João 21:17:

“Apascenta as minhas ovelhinhas”.

Pedro era também uma das ovelhas de Jesus, presentes no aprisco de João 10:16, e assim mesmo foi admoestado a apascentar outras ovelhas deste aprisco. Do mesmo modo, Pedro tanto poderia ser um dos “irmãos” de Cristo, quanto uma das “ovelhas”, na parábola das ovelhas e dos cabritos.

O apóstolo Paulo, em notável paralelo com João 10:16, dirigiu-se a cristãos gentios de Éfeso, descrevendo o processo de unificação dos dois grupos, em Efésios 2:11-18.

“Portanto, persisti em lembrar-vos de que anteriormente éreis pessoas das nações quanto à carne; fostes chamados ‘incircuncisão’ por aquilo que é chamado ‘circuncisão’, feita na carne, por mãos – que naquele tempo específico estáveis sem Cristo, APARTADOS do estado de Israel e estranhos aos pactos da promessa, e não tínheis esperança e estáveis sem Deus no mundo. Mas agora, em união com Cristo Jesus, vós, os que outrora estáveis longe chegastes a estar perto pelo sangue de Cristo. Pois ele é a nossa paz, aquele que DAS DUAS PARTES FEZ UMA SÓ, e que DESTRUIU O MURO NO MEIO, QUE OS SEPARAVA. Por meio de sua carne ele aboliu a inimizade, a Lei de mandamentos, consistindo em decretos, para que, DOS DOIS POVOS, EM UNIÃO CONSIGO MESMO, criasse UM NOVO HOMEM e fizesse paz; e para que RECONCILIASSE PLENAMENTE AMBOS OS POVOS COM DEUS, EM EM SÓ CORPO, por intermédio da estaca de tortura, porque ele matara a inimizade por meio de si mesmo. E ele veio e declarou as boas novas da paz a vós, os que estáveis longe, e paz aos que estavam perto, por intermédio dele, NÓS, AMBOS OS POVOS, temos a aproximação ao Pai, por um só espírito.”

Eis aqui o processo pelo qual Jesus reuniu num mesmo rebanho as “ovelhas” judias e as “ovelhas” das nações. Se o destino final destes dois grupos fosse, como afirma a Sociedade, respectivamente o céu e a terra, com funções e posições diferentes em relação a Deus e a Cristo, estes dois grupos de ovelhas JAMAIS SE TORNARIAM UM SÓ REBANHO. Estariam antes, definitiva e eternamente separados. De fato, poder-se-ia dizer que acontecerá o inverso, pois, a ser verdadeiro o ensino da Sociedade, os dois rebanhos estariam, até agora, juntos na terra, os membros das “outras ovelhas ” com os remanescentes dos 144.000 (cerca de 8.000 participantes dos emblemas). Com o tempo, no entanto, de acordo com o Corpo Governante, estes ungidos restantes morreriam e ressuscitariam aos céus, enquanto que as “outras ovelhas” permaneceriam aqui na terra. Em outras palavras, no final de tudo, os dois grupos ficariam em diferentes apriscos, um no céu e outro na terra. Não é isso, porém, o que está escrito na Palavra de Deus e sim o que está registrado em João 10:16.

  • Os 144 Mil

Evidentemente, em várias de suas publicações, a Sociedade afirma que várias passagens das Escrituras Gregas se aplicam EXCLUSIVAMENTE AOS 144.000 mencionados em Revelação. Ela diz, por exemplo, que apenas os 144 mil reinarão com Cristo no céu. Já que é preciso fundamento bíblico para isso, podemos considerar os DOIS ÚNICOS textos da Bíblia em que se mencionam os 144 mil.

1) Rev. 7:4 – “E ouvi o número dos selados: cento e quarenta e quatro mil, selados de toda tribo dos filhos de Israel” (E passa a alistar, até o versículo 8, 12 mil selados por CADA TRIBO dos filhos de Israel)

2) Rev. 14:1, 3 – “E eu vi, e eis o Cordeiro em pé no monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que têm o nome dele e o nome de seu Pai escrito nas suas testas… e ninguém podia aprender esse cântico exceto os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados das terra.”

  • Um Entendimento Literal

Como se pode constatar, nenhum dos DOIS ÚNICOS textos bíblicos que se referem aos 144.000 diz que eles REINARÃO COM CRISTO. Os textos afirmam que eles são de toda tribo dos filhos de Israel e que foram comprados da Terra. Mostra, porém, a Bíblia que estes 144 mil seriam os ÚNICOS comprados? Em Revelação 5:9,10, João se refere a um grupo com características diferentes das do grupo dos 144 mil:

“Foste morto e com o teu sangue compraste pessoas para Deus dentre toda tribo, e língua e povo e nação, e fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus, e reinarão sobre a terra.”

Este texto não pode estar se referindo aos 144 mil de Rev. 7:4 e 14:1,3, pois estes últimos pertencem a “toda tribo” dos filhos de Israel, enquanto que o grupo mencionado no capítulo 5 é composto de pessoas dentre “toda tribo, língua, povo e nação“. Com maior probabilidade, estas palavras se referem à “grande multidão” mencionada em Revelação 7:9:

“Depois destas coisas eu vi, e, eis uma grande multidão, que nenhum homem podia contar de todas as nações, e tribos, e povos e línguas…” Agora, compare Revelação 5:9,10 com Revelação 7:9. Ambos mencionam as mesmas características, isto é, de todas as tribos, povos, línguas e nações, sendo que Revelação 5: 9,10 acrescenta que os desse grupo REINARÃO SOBRE A TERRA. Em seguida, compare estas duas passagens com Revelação 14:1-4: diz-se dos 144 mil que têm o nome de Deus e do Cordeiro em suas testas, que cantam um novo cântico que ninguém mais aprendia, que foram comprados da terra, que não se poluíram com mulheres, que seguem o Cordeiro para onde ele vai e são primícias para Deus, mas EM PARTE ALGUMA diz-se que estes 144 mil REINARÃO sobre a terra! Revelação 20:6 tampouco faz menção aos 144 mil.

É claro, a Sociedade sustenta o contrário, dizendo que Revelação 5:9,10 refere-se ao grupo de Revelação 7:4 e 14:1,3; e que a “grande multidão” de Revelação 7:9 não tem nada a ver com isso. Mas, o que devemos seguir? A Bíblia ou o Corpo Governante? É óbvio, também, que a Sociedade exclui totalmente a possibilidade de que os 144 mil sejam israelitas carnais. Em Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, página 117, par. 12, ela argumenta que a lista de tribos em Revelação 7:4-8 não pode ser literal porque “diverge da costumeira listagem tribal”, citando o capítulo 1 de Números. Quem determinou, porém, que esta listagem de Números, capítulo 1, é a “costumeira”? Em Números 13:4-16 há uma listagem que difere daquela do capítulo 1; em Josué, capítulos 13 ao 19, aparece outra diferente daquelas duas. Já Deuteronômio 33:6-24 apresenta uma listagem diferente de todas as outras. Conclusão: NÃO existe uma “costumeira listagem”. E ainda que existisse, é inteiramente arbitrário o argumento de que isso determinaria o entendimento dos 144.000 como não sendo literais.

  • Outra Explicação: A Figurativa

Há um problema com a interpretação dada pelo Corpo Governante às palavras de Revelação. Todos reconhecem que grande parte do livro tem sentido figurativo. A questão é determinar quando as coisas descritas são FIGURATIVAS ou LITERAIS.

Na interpretação do Corpo Governante (obrigatória para todas as Testemunhas de Jeová) para Rev. 7:4 e 14: 1,3, o número 144.000 tem de ser literal. Já as parcelas de 12.000 têm de ser figurativas, visto que ela rejeita totalmente a possibilidade de que as tribos sejam literais. Se o total é literal, as parcelas tribais também deveriam ser. Se se considerar que as parcelas são figurativas, o mesmo deveria ser aplicado ao total. A interpretação da Sociedade, portanto, não tem coerência.

Ao ensinar a existência de DUAS CLASSES, o Corpo Governante explica que os 144 mil não são do Israel literal, e sim do Israel espiritual, simbólico, e que estes “israelitas” são, de fato, pessoas de todas as nações. Neste caso, o que os distingue da “grande multidão” de Rev. 7:9, que também é formada de pessoas de todas as nações? NADA.

Vale a pena repetir aqui que, em Revelação 5:9, 10, onde se menciona o grupo que reinará com Cristo, não se faz referência alguma aos 144.000, como crê a Sociedade. Para ser coerente e argumentar em favor da participação dos 144 mil no reino, a Sociedade teria de estender a participação no reinado também à grande multidão. Mais uma vez, ela se mostra incoerente e se fixa na existência de DUAS CLASSES.

Se o número de 144 mil for simbólico (o que a Sociedade nega) poderíamos dizer, por exemplo, que ele representa o total de todos os que estarão no céu com Cristo. Defendendo, neste caso, a literalidade, a Sociedade argumenta que em Revelação 7:4 dá-se um número fixo, 144 mil, ao passo que no versículo 9 lemos que “Depois destas coisas” vê-se a “grande multidão” que ninguém podia contar. Por outro lado, ao explicar os vinte e quatro anciãos com coroas de ouro (Rev. 4:4), no livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo, página 77, parágrafos 8 e 9, o Corpo Governante diz que eles são representativos de TODOS OS UNGIDOS RESSUSCITADOS, isto é, 24 NÃO são realmente 24, mas um número maior! Aqui a Sociedade optou pelo simbolismo, em mais uma prova de incoerência de interpretação. Pergunta-se: se 24 podem representar um número maior de ungidos, por que os 144 mil não podem representar o total dos que vão para o céu com Cristo?

Outro indício em favor do simbolismo desses números está em Revelação 14:3, onde se diz que os 144.000 estão cantando um novo cântico diante dos anciãos, os mesmos que segundo a Sociedade “simbolizam o grupo inteiro dos 144 mil na sua posição celestial.” (Clímax de Revelação, página 201, parágrafo 11). O entendimento literal deste versículo implicaria em 144 mil pessoas cantando diante de outras 24. Total: 144.024 pessoas. Este cenário incoerente (do ponto de vista literal) é retratado nas páginas 202 e 203 de Clímax de Revelação. A explicação (interpretação) da Sociedade é que os 144 mil e os 24 anciãos são o mesmo grupo “visto de dois ângulos diferentes”. Logicamente vem a pergunta: por que o mesmo não pode se aplicar à “grande multidão”? Vale ressaltar que na gravura das páginas 202 e 203, os dois grupos aparecem usando coroas, embora o texto de Revelação informe que apenas os 24 anciãos têm coroas.

Por outro lado, Revelação 14:3 diz que, mesmo estando presentes os 24 anciãos, ninguém, exceto os 144 mil, podia aprender o “novo cântico”. Torna-se realmente, nesta base, muito difícil para a Sociedade sustentar, de modo coerente, que os 144.000 sejam obrigatoriamente um número literal em meio a tantos contextos figurativos.

Ainda falando dos números de Revelação, podemos citar os 7 espíritos (1:4), as 7 estrelas (1:16), os 10 dias (2:10), os 24 tronos e as 7 lâmpadas (4:4,5), as 4 criaturas viventes (4:6,7), os 7 chifres e os 7 olhos do Cordeiro (5:6), a quarta parte da terra (6:8), os 4 anjos e os 4 cantos da terra (7:1), a terça parte das árvores, das criaturas e dos rios (8:7-12). Todos estes são apresentados pela Sociedade como sendo figurativos. Por que também não podem sê-lo os 144.000?

  • “Diante do Trono”


O ensino oficial da Sociedade Torre de Vigia a respeito dos 144 mil é, conforme vimos, de que apenas eles irão para o céu enquanto que os da “grande multidão” ficarão na terra. Será que há na Bíblia fundamento para tal crença? Será que a Bíblia ensina a existência de duas classes distintas de cristãos?

Para deixar que a própria Bíblia fale, é necessário examinar os textos que o Corpo Governante aplica ao que ele entende como sendo um grupo NO CÉU e outro NA TERRA.

A “grande multidão” é mencionada em Revelação 7:9:

“Depois destas coisas eu vi… uma grande multidão”.

Em Revelação 19:1, lemos:

“Depois destas coisas ouvi o que era como a voz alta duma grande multidão NO CÉU”.

A Sociedade aplica, arbitrariamente, as palavras de Revelação 5:9 aos 144.000 dizendo que são comprados “dentre toda tribo, e língua e povo e nação”. O mesmo, porém, se diz da “grande multidão”em Revelação 7:9, de “todas as nações, e tribos e povos, e línguas”.

O texto de Revelação 14:3, segundo o Corpo Governante, se aplica APENAS aos 144 mil, que “estão cantando como que um novo cântico diante do trono“. Por esta expressão “diante do trono” a Sociedade entende que os 144 mil estão no céu. Veja, no entanto, o que se declara a respeito da “grande multidão” em Rev. 7:9:

“Eis uma grande multidão em pé DIANTE do trono e DIANTE do Cordeiro”.

“Diante do Cordeiro” estão também os 24 anciãos (que segundo a Sociedade, representam os 144 mil) de Revelação 5:8: “…prostraram-se DIANTE do Cordeiro”.

Revelação 6:11 diz:

“E a cada um deles foi dada uma comprida veste branca…“. Este versículo a Sociedade aplica aos 144.000, os “ungidos” (Clímax de Revelação, pág. 102, par. 11). Todavia, o mesmo se diz da “grande multidão”, em Revelação 7:9: “uma grande multidão… trajados de compridas vestes brancas“.

O Corpo Governante aplica Revelação 19:1 a pessoas que estão NO CÉU, quando dizem: “A salvação, e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus”. De modo semelhante ocorre com a “grande multidão” em Revelação 7:10: “Devemos a salvação ao nosso Deus”.

Revelação 7:14 ainda nos informa que os da grande multidão, “…lavaram as suas vestes compridas e as embranqueceram no sangue do Cordeiro”, enquanto em Rev. 22:14, que segundo a Sociedade se refere aos ungidos (Clímax de Revelação, pág. 317, par. 8) diz: “Felizes aqueles que lavam as suas vestes compridas…”.

Por fim, num dos aspectos mais significativos destes paralelos que assemelham os 144 mil à “grande multidão”, encontramos o seguinte em Revelação 11:1:

“E foi-me dada uma cana igual a uma vara, ao dizer-me ele: ‘Levanta-te e mede [o santuário] do templo de Deus e o altar e os que nele adoram“.

Em Clímax de Revelação, página 168, par. 6, a Sociedade explica que essa passagem se aplica aos ungidos, os 144.000. E, tal como em outras passagens, o “templo de Deus” representa o céu. Aí, encontramos em Revelação 7:15, sobre a “grande multidão”:

“É por isso que estão diante do trono, e prestam-lhe serviço sagrado, dia e noite, no seu templo“.

Tanto em Revelação 11:1 como em Rev. 7:15, a palavra grega para templo é NAÓS, o que deixa bem claro que a “grande multidão” e os 144.000 são descritos pela Bíblia como estando no mesmo lugar, o céu. Ao invés de simples e humildemente aceitar o que diz a respeito do assunto a soberana Palavra de Deus, o Corpo Governante esforça-se para provar que o NAÓS de Revelação 11:1 e o NAÓS de Revelação 7:15 não são a mesma coisa!

Em A Sentinela de 15 de fevereiro de 1981, página 15, a Sociedade diz que NAÓS “muitas vezes refere-se ao santuário interior, que representa o próprio céu“. Em seguida, procura demonstrar que NAÓS pode também referir-se ao templo inteiro, ou sua parte exterior, para logo em seguida, arbitrariamente, concluir que a “grande multidão” está servindo a Deus, não no céu, mas no pátio terreno do templo! Chamamos a atenção para o fato de que em parte alguma Revelação diz tal coisa.

Confira o que dizem, a respeito do assunto, outras publicações da Sociedade:

A Sentinela 15 de janeiro de 1961, página 40, diz:

“E HIERÓN referia-se a todo o terreno do templo, ao passo que NAÓS se aplicava ao edifício do próprio templo, sucessor do tabernáculo do deserto”.

Também o livro Cumprir-se-á Então o Mistério de Deus (1971), página 260, parágrafo 4, declara:

“O santuário do templo ou NAÓS (em grego) ocupava apenas parte da área do templo“.

Como se vê, estas duas publicações da Sociedade distinguiram a área total do templo (grego: hierón) do edifício do templo (grego: naós). Daí, na já citada revista, de 15/02/81, página 15, parágrafo 5, ela se contradiz afirmando que “Fica bem evidente que templo, santuário ou naós, não se referem apenas ao santuário interior, mas à inteira área do templo, com todas as suas edificações”.

Toda essa discussão em torno de palavras gregas, todavia, se mostra desnecessária diante do fato simples de que a Bíblia usa a mesma palavra, NAÓS, para descrever o lugar em que se encontram tanto os 144.000 como a “grande multidão“. Estão no mesmo lugar, O CÉU! Qualquer coisa que vá além disso, será interpretação humana (1 Coríntios 4:6).

Negando-se a admitir que os da “grande multidão” estão no céu (o templo), à Sociedade não resta outra coisa senão dizer o que lemos em A Sentinela 1 de julho de 1973, página 402, parágrafo 22:

“Esta bela visão apresenta a ‘grande multidão’ internacional como servindo a Jeová no seu templo, quer dizer, nos pátios terrestres reservados aos que não são israelistas espirituais, como se estivessem no ‘pátio dos gentios’“.

A interpretação do Corpo Governante da Torre de Vigia coloca a “grande multidão” no “pátio dos gentios”. O que diz a Bíblia sobre este pátio? Revelação 11:2 responde:

“Mas, quanto ao pátio que está DE FORA do (santuário) do templo, lança-o completamente fora e não o meças, porque foi dado às nações, e elas pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses.”

A Tradução Almeida Revista e Atualizada traduz este mesmo versículo por “foi dado aos gentios“.

A Tradução Interlinear do Reino (em inglês), publicada pela Sociedade, na página 1089, mostra que a palavra grega em Revelação 11:2 é NAÓS, ou seja, o pátio que está fora do “NAÓS”, do templo!

Quanto a este pátio, nenhuma dúvida pode haver de que, no simbolismo de Revelação, ele está na terra, pois é inadmissível que o “pisoteamento” da cidade santa possa ocorrer nos céus.

O texto diz que o pátio deve ser “lançado completamente fora”, não deve ser “medido”. Fica bem claro que os que nele estão, não estão numa condição aprovada, são opressores da adoração de Deus, e não apoiadores dela. Como é possível, então, que ali esteja a “grande multidão”, que afirma dever sua salvação a Deus e ao Cordeiro (Rev. 7:10) e que, diante do trono de Deus, prestam-lhe serviço sagrado, dia e noite, NO SEU TEMPLO? (Rev. 7:15) A Bíblia é clara: a “grande multidão” está no templo e não fora dele! NO CÉU, NÃO NA TERRA.

Para ver de modo bem claro o ponto de vista da Sociedade, compare a gravura do templo na página 17 de A Sentinela 15 de fevereiro de 1981 com a planta e a gravura do templo que aparecem na página 1534 da Tradução do Novo Mundo Com Referências (1986), e verá que é exatamente no pátio dos gentios, “lançado completamente fora” e “não medido”, que a Sociedade coloca a “grande multidão”. Resta alguma dúvida de que a Bíblia diz uma coisa e o Corpo Governante ensina outra?

  • O “Pequeno Rebanho”

Há ainda o texto de Lucas 12:32, que a Torre de Vigia acredita referir-se também a um número fixo de 144.000 pessoas. O que ele diz?

“Não temas, pequeno rebanho, porque aprouve a vosso Pai dar-vos o Reino”.

Na ótica da Sociedade, o “pequeno rebanho” contrasta-se com a “grande multidão”. Seria preciso, no entanto, haver apoio bíblico para este entendimento, e tal apoio não existe. Esta passagem e as que falam dos 144 mil não estão no mesmo contexto. Em parte alguma da Bíblia se faz ligação entre Lucas 12:32 e Revelação 7:4 e 14:1. Tampouco é difícil entender o que Jesus quis dizer com estas palavras, “pequeno rebanho”. A quem Jesus tinha diante dele quando as proferiu? Lucas 12:22 nos informa que, naquele momento, Jesus se dirigia aos seus discípulos, os discípulos que ele tinha NA OCASIÃO, e estes eram poucos, um grupo pequeno. Nada mais apropriado, então, que, ao encorajá-los com a promessa do reino, ele os chamasse de “pequeno rebanho”. Caso se pretenda dar a estas palavras um alcance maior do que o daquele momento, e aplicá-los aos cristãos de todas as épocas, podemos lembrar-nos do que o próprio Jesus ensinou em Mateus 7:13, 14. Em relação aos muitos que rejeitariam segui-lo, preferindo a “larga e espaçosa estrada da destruição”, o número de seus seguidores, que acham o “caminho estreito e apertado da vida”, seriam sempre poucos. A própria “grande multidão” torna-se pequena em comparação à população total da terra que perde a oportunidade de entrar no rebanho de Cristo.

  • Conclusão

Quase todos os textos que se aplicam aos 144 mil também se aplicam à “grande multidão”. Contudo, menciona-se dos 144 mil que são selados (Rev. 7:4), que eles estão de pé no monte Sião (Rev. 14:1), e que só eles podem aprender o novo cântico (Rev. 14:4). É verdade que não se diz isto da “grande multidão”. Por outro lado, não é dos 144 mil que se diz que “hão de reinar sobre a terra”, em Revelação 5:9, 10. NÃO HÁ MENÇÃO AOS 144 mil no capítulo 5, embora a Sociedade insista em dizer que estes dois versículos se aplicam a eles. A Sociedade deixa de levar em conta que os mencionados em Revelação 5:9,10 são “comprados dentre toda tribo, língua, povo e nação“. Revelação só afirma a mesma coisa a respeito da “grande multidão” (Rev. 7:9). É destes, de toda tribo, povo, língua e nação, que se faz um “reino e sacerdotes” (Rev. 5:10). Em momento algum, no capítulo 5 de Revelação, se relaciona isto aos 144 mil. No capítulo 20, versículo 6, diz-se dos que têm parte na primeira ressurreição que “serão sacerdotes de Deus e do Cristo, e reinarão com ele [durante] os mil anos”. A Sociedade também aplica isto aos 144 mil, mas novamente os 144 mil não são mencionados neste capítulo. Igualmente não se fala dos 144 mil como sentados em tronos e como usando coroas de ouro, isto só é dito dos 24 anciãos (Rev. 4:4). A Sociedade ensina que os 24 anciãos representam os 144 mil, mas em Revelação 14:4 fala-se deles como grupos separados, um diante do outro (Clímax de Revelação, páginas 202, 203).

Se tomarmos o texto de Revelação só pelo que ele diz, os 144 mil não reinarão com Cristo. Mas, se pensarmos bem, devemos levar em conta também o que ele NÃO diz! Como assim? Revelação NÃO diz que os 144 mil NÃO reinarão com Cristo, como também NÃO diz que a “grande multidão” está na terra. Revelação diz que os 144 mil estão no Monte Sião, mas NÃO diz que os da “grande multidão” NÃO estão. Revelação NÃO diz que os da “grande multidão” não são selados. Em muitos casos, Revelação AFIRMA coisas mas NÃO NEGA outras!

Se aceitarmos os 144 mil como número literal, temos de aceitar também como literais as parcelas tribais de 12.000, e as próprias tribos de Israel em Rev. 7:4-8 como sendo literais, carnais. E assim mesmo, eles não seriam os ÚNICOS a ir para o céu, pois Revelação, como já vimos, retrata a “grande multidão” como estando lá. Esta é, pelo menos, uma interpretação coerente.

Se, por outro lado, considerarmos os 144 mil como mais um número figurativo dentre tantos outros números figurativos de Revelação, poderemos muito bem entendê-los como representativos de TODOS OS QUE VÃO PARA O CÉU, do mesmo modo que os 24 anciãos podem representar a totalidade dos 144 mil. Poderíamos entender os 144 mil como simbólicos, um número ideal, a soma completa de todos os que se tornam israelitas espirituais, independentemente de quantos eles venham a ser. A “grande multidão”, neste caso, poderia simplesmente representar TAMBÉM os israelitas espirituais, vistos do ponto de vista da realidade, o cumprimento do ideal simbólico representado pelos 144 mil. Esta é, também, uma interpretação coerente com os simbolismos de Revelação.

A própria Sociedade, outrora, considerava a “grande multidão” também como CLASSE CELESTIAL (livro Proclamadores, página 161), vindo a mudar sua interpretação em 1935, por meio de um discurso que Joseph Rutherford proferiu em Washington em 31 de maio daquele ano (Proclamadores, páginas 166 – 168, e A Sentinela 1/03/1988, página 12). Ele, Rutherford, proveu esta interpretação, à qual, nem as Testemunhas de Jeová daquela época, nem as da atualidade é permitido refutar.

Não temos aqui a pretensão de Rutherford e do Corpo Governante atual, de sermos porta-vozes de Deus, ou “seu canal exclusivo”. Tampouco achamos que somos “dirigidos pelo espírito santo”, como se auto-proclama a Sociedade Torre de Vigia, mesmo tendo já cometido inúmeros e graves erros no campo das profecias, das doutrinas e das normas de saúde.

O que aqui se veicula é uma opinião humana (tal como as da Sociedade), formada com base na leitura de vários textos bíblicos. Que os que a virem, possam julgar por si próprios quanto à sua procedência ou não.

No entanto, um ponto está bem claro em nossas mentes: a Bíblia mostra que os 144 mil e a “grande multidão” estão juntos NO CÉU.

Suscita-se uma pergunta: por que se apega a organização, de modo tão ferrenho, à sua interpretação oficial, já que se mostra em desacordo com a Palavra de Deus? É simples: sem tal entendimento, desapareceria todo o arcabouço de autoridade que ela reivindica para si com o ensino de DOIS GRUPOS – UM NO CÉU E O OUTRO NA TERRA; UM GOVERNANDO E OUTRO SENDO GOVERNADO. E, afinal de contas, é exatamente desse modo que ela perpetua sua autoridade!

O que aqui foi considerado, naturalmente, levantará questões quanto à continuidade da vida na terra, quem ficará sobre ela, os “novos céus e a nova terra” de 2Pedro 3:13, o reinado de mil anos de Cristo e outras. No momento, só podemos dizer que NADA DO QUE FOI DITO aqui elimina essas expectativas. Muitos dos arranjos futuros de Deus, afinal de contas, sairão dos novos rolos.

Do que Jeová estabeleceu em Sua Palavra, TUDO se cumprirá, e nisso CONFIAMOS PLENAMENTE.