Sobre as Testemunhas de Jeová
Será Realmente o “Escravo Fiel e Prudente”? – William Gadelha
Será Realmente o “Escravo Fiel e Prudente”? – William Gadelha

Será Realmente o “Escravo Fiel e Prudente”? – William Gadelha

Copyright © 2000 William Gadêlha

Atualizado 2021

A fim de poder alegar autoridade sobre mais de 8 milhões de Testemunhas de Jeová na face da terra, o Corpo Governante delas apela para o texto de Mateus 24:45-47, onde Jesus pergunta:

Quem é realmente o escravo fiel e prudente a quem o seu amo designou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo assim! Deveras eu vos digo: ele o designará sobre todos os seus bens.

  • A INTERPRETAÇÃO DA TORRE DE VIGIA

O Corpo Governante explica que estes versículos não se aplicam à indivíduos, e sim a uma “classe especialmente designada de pessoas”, originalmente as 144 mil pessoas mencionadas em Revelação 14:1, e atualmente, de alguns milhares de remanescentes delas na terra, uma parcela ínfima, apenas 8 homens que professam ser ungidos, são os que, de fato, têm poder decisório na organização Torre de Vigia, sim, apenas os 8 homens (2020/2021) que atualmente fazem parte do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Estes, e apenas eles, exercem autoridade sobre a comunidade mundial das testemunhas de Jeová.

Será útil examinar a definição de “escravo fiel e prudente” publicada em A Sentinela, 1 de setembro de 1981, página 24:

As Testemunhas de Jeová entendem que o ‘escravo’ é composto por todos os cristãos ungidos como grupo na terra em qualquer tempo determinado durante os 19 séculos desde Pentecostes. Por conseguinte, os ‘domésticos’ são esses seguidores de Cristo como indivíduos.

Esta revista deixou bem claro que “o escravo”, como classe, estava atuante durante todos os séculos DESDE PENTECOSTES, 33 E.C. Em acréscimo, a Sociedade explica:

A Sentinela, 15 de julho de 1975, página 430:

…Cristo os fortaleceria para alimentar seus ‘domésticos’ durante todos os séculos. Evidentemente, uma geração do ‘escravo’ alimentava a geração seguinte, além de continuar a alimentar a si mesma.

Nesta mesma revista, página 431, lê-se ainda que este método de alimentar seu povo foi trazido à atenção pelo próprio Cristo, “não como pessoas isoladas, independentes, mas como grupo muito unido, que têm verdadeiro amor e cuidado de uns para com os outros”.

  • A DÚVIDA SUSCITADA

A pergunta agora é: Onde estava esse grupo durante todos esses séculos? Um grupo tal como o dos membros ungidos da organização da Torre de Vigia? A história fala de diversos grupos religiosos ao longo desses séculos, mas nenhum deles se encaixa na descrição de A Sentinela, 15 de junho de 1984, página 19, parágrafo 19:

Os membros ungidos, individuais, dessa congregação unida receberiam todos o mesmo alimento espiritualPara tal fim, seu “amo” designou a classe do “mordomo fiel“, um corpo coletivo de cristãos ungidos na terra desde Pentecostes de 33 E.C.

A Sociedade diz também sobre a identidade desse “escravo fiel” em A Sentinela 1 de setembro de 1981, página 26, terceiro parágrafo:

Esta clara identificação da classe do “escravo fiel e prudente” não havia de continuar durante todos os séculos… Os apóstolos advertiram que haveria uma grande apostasia… e que esta continuaria até a presença de Cristo.

Continuou, portanto, sem conseguir dizer ONDE ESTAVA ESTE GRUPO nos séculos que antecederam o século 19.

O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 33, afirma:

Apesar da apostasia, os semelhantes ao trigo se evidenciavam durante os séculos de trevas espirituais.

Mesmo dizendo que eles SE EVIDENCIAVAM a Sociedade NÃO OS IDENTIFICA! Portanto, não se sabe quem eram eles.

  • INCOERÊNCIA DOS ARGUMENTOS

Se, como a Torre de Vigia ensina, uma geração do “escravo” alimentou a geração seguinte, onde está o registro histórico da geração que antecedeu Charles Taze Russell, e QUE O ALIMENTOU? Russell foi criado na Igreja Presbiteriana, depois filiou-se à Igreja Congregacional, e, finalmente, restaurou sua fé com os Adventistas, “sob a orientação de Deus“, nas próprias palavras dele (Proclamadores, páginas 43 e 44), TODAS ESTAS fazendo parte da chamada “religião falsa”. Não podiam, segundo o entendimento da Sociedade, ser parte da classe do “escravo”.

Mais tarde, Russell reuniu-se com alguns conhecidos, e passaram, POR CONTA PRÓPRIA, e de modo INDEPENDENTE, a pesquisar a Bíblia em busca da verdade.

Observe:

Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975), páginas 185 e 186:

…houve um pequeno grupo de homens, não associados com os adventistas, nem afiliados com qualquer das seitas religiosas da cristandade… Estudavam independentemente, a fim de evitar encarar a Bíblia através de óculos sectários. Entre estes homens encontrava-se Charles Taze Russell, que estava entrando nos seus vinte e poucos anos.

Enquanto isso acontecia, por volta de 1870, a classe do “escravo”, pelo entendimento do Corpo Governante, já tinha mais de 1800 anos de existência! Como foi possível que as pesquisas de Russell e seus amigos progredissem sem a assistência e a orientação do “escravo fiel e discreto” que estava atuante na época dele? Afinal de contas, Russell não nasceu como membro do “escravo”.

Além disso, a Sociedade declara, no Proclamadores, página 707, parágrafo 2, a respeito de Russell:

restabeleceu as grandes verdades ensinadas por Jesus e pelos Apóstolos, e voltou a luz do século vinte sobre elas.

Como é, então, que lemos em A Sentinela 15 de janeiro de 1961, página 51, parágrafo 14?

Desde Pentecostes do ano 33 E.C., e até o momento presente, tal ação tem sido feita amorosa e cuidadosamente. Sim, e os domésticos foram alimentados com sustento espiritual progressivo que os manteve em dia com “a luz brilhante que se torna cada vez mais clara, até o dia ser firmemente estabelecido”. (Provérbios 4:18, NM)

Se tudo isso é verdade, por que as “grandes verdades de Jesus e dos Apóstolos” precisavam ser RESTABELECIDAS? Não deveriam Russell e seus companheiros ter recebido essas “verdades” da geração do “escravo” anterior a eles? Após 19 SÉCULOS DE ILUMINAÇÃO PROGRESSIVA, não deveria a “luz brilhante” já estar num estágio bem avançado?

Não existe, todavia, nenhum registro de tal coisa !

Russell estudou a Bíblia POR CONTA PRÓPRIA, sem receber orientação de nenhum grupo similar ao dos membros ungidos da Torre de Vigia. E isto tudo, apesar do que o próprio Corpo Governante afirma em A Sentinela 15 de agosto de 1981, página 19:

Não há dúvida sobre isso. Todos nós precisamos de ajuda para entender a Bíblia, e não podemos encontrar a orientação bíblica de que precisamos fora da organização do “escravo fiel e prudente”.

Observe ainda o que diz A Sentinela 1 de junho de 1968, página 327, parágrafo 9:

Assim, a Bíblia é um livro de organização e pertence à congregação cristã como organização, não a indivíduos, não importa quão sinceramente creiam poder interpretar a Bíblia. Por esta razão, a Bíblia não pode ser devidamente entendida sem se ter presente a organização visível de Jeová.

Não há como fugir da contradição. Por um lado, o Corpo Governante ensina que Russell e seus associados, em determinado momento, passaram a receber esclarecimento de Jeová, SEM NENHUM CANAL VISÍVEL que os ajudasse. Por outro, afirma claramente que o entendimento das Escrituras SÓ É DADO A UMA ORGANIZAÇÃO, e NÃO A INDIVÍDUOS.

Russell e seus companheiros, repetimos, não nasceram já membros do “escravo”. Nem é preciso lembrar que em 1870 não existia a revista A Sentinela (criada em 1879), nem a Sociedade Torre de Vigia (formada apenas em 1884) e nenhum Corpo Governante funcionava em Warwick, NY, EUA ou em qualquer outra parte da Terra.

A conclusão que se tira é que o jovem Russell não precisou de nenhuma organização pré-existente ou de algum suposto “escravo fiel e discreto” para chegar a muitas das conclusões que hoje a Sociedade tem como verdadeiras.

Onde, então, diz a Bíblia que nós, os que vivemos hoje, só podemos entender as Escrituras Sagradas por meio da organização liderada pelo Corpo Governante?

  • EM PARTE ALGUMA!

Tudo isso mostra ser uma estrutura frágil, criada como fonte de autoridade e controle do Corpo Governante e que, além de não ter sustentação bíblica, carece de lógica e coerência, como acabamos de mostrar.

  • AS QUALIFICAÇÕES DESSE “ESCRAVO”

Não é só pelo que vimos até agora que não se pode aceitar o Corpo Governante (ou a direção da Sociedade Torre de Vigia) como o “escravo fiel e discreto”. Com base nas próprias afirmações do Corpo Governante chega-se à conclusão de que este grupo de homens que exerce a liderança espiritual entre as Testemunhas de Jeová NÃO É E NUNCA FOI o “escravo fiel e discreto” ou parte dele.

Façamos uma análise honesta do assunto começando com A Sentinela 1 de maio de 1992, página 31, terceiro parágrafo:

Não é provável que alguém, por apenas ler a Bíblia, sem se aproveitar das ajudas divinamente providas, consiga ver a luz. É por isso que Jeová Deus proveu o “escravo fiel e prudente”, predito em Mateus 24: 45-47. Atualmente, este escravo é representado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

A fórmula é bastante simples: toma-se uma parábola de Jesus (em que ele ilustra dois tipos de indivíduos, os que bem o servem e os que não o fazem); transforma-se esta parábola numa predição; diz-se que não basta ler a Bíblia para se ver a luz, que é preciso uma ajuda divinamente provida; que esta ajuda vem por meio de um grupo especial de homens, o “escravo fiel e discreto”; e que o Corpo Governante representa este escravo.

O raciocínio é que as palavras de Jesus em Mateus 24:45 ATRAVESSARAM 19 SÉCULOS (como já vimos não existem elos nos séculos intermediários) e transformaram-se numa designação que veio cair diretamente sobre os ombros dos membros do Corpo Governante em Brooklyn, NY, EUA, no passado (agora em Warwick, NY, EUA), no século XX!

Outras declarações, fruto exclusivo da imaginação de seus autores, dizem em A Sentinela de 15 de março de 1990, página 15, parágrafo 4, o seguinte:

Em 1918, o entronizado Rei Jesus Cristo encontrou um pequeno grupo de cristãos que haviam abandonado as igrejas da cristandade e se ocupavam em cuidar dos interesses terrestres de seu Amo. Depois de refiná-los como que com fogo, Jesus conferiu aos seus escravos, em 1919, uma autoridade ampliada. (Malaquias 3:1-4; Lucas 19:16-19) Designou-os “sobre todos os seus bens.” – Lucas 12:42-44.

O trecho acima transcrito diz que Jesus, após inspecionar a situação religiosa da cristandade em 1918, REFINOU os membros da Torre de Vigia (então chamados “Estudantes da Bíblia”), e em demonstração de sua aprovação ele lhes conferiu, em 1919, uma “autoridade ampliada”. Por tê-los considerado como um “escravo fiel e discreto” Jesus os designou “sobre todos os seus bens”.

Creio pessoalmente que é algo muito sério e uma pesada responsabilidade que homens imperfeitos afirmem, com tanta certeza, que o Filho de Deus fez uma determinada coisa (que a Bíblia não diz), num determinado ano (que a Bíblia também não diz), e ainda mais que isto ocorreu DE MODO INVISÍVEL. Mas, enfim, cada um prestará contas a Jeová de seus atos…

Apeguemo-nos, então, às palavras “fiel” e “prudente”. Elas expressam as qualidades necessárias para se receber a aprovação e a designação de Jesus. Qual seria a principal questão a ser analisada durante a inspeção de Jesus, supostamente ocorrida em 1918?

Vejamos o que diz o livro Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975), páginas 350 e 351, parágrafo 40:

A questão era servir alimento, a espécie correta de alimento no tempo apropriado. Tinha de ser sobre isso que o retornado amo precisava fazer uma decisão… Não só constituiu a regularidade um problema, mas também se devia considerar a qualidade do próprio alimento. Neste respeito, o grupo de cristãos odiados e perseguidos, que sempre procuraram ser escravos fiéis de Jesus Cristo enfrentou a prova.

Como se saiu nesta prova?

A FIDELIDADE, a DISCRIÇÃO e a QUALIDADE do alimento servido estavam em jogo.

Examinemos alguns exemplos do “alimento” que estava sendo servido nos anos que antecederam 1918. O que teria Jesus encontrado ao fazer, naquele ano, a inspeção que a Sociedade diz ter ocorrido?

1) Sobre 1914, o ano marcado, o ensino da Sociedade era o seguinte:

O Tempo Está Próximo (1889), página 99:

Em vista da forte evidência bíblica relativa aos Tempos dos Gentios, consideramos como uma verdade estabelecida que o final definitivo dos reinos deste mundo e o pleno estabelecimento do Reino de Deus estarão cumpridos por volta de fins de 1914 A.D. (Este livro é mencionado no rodapé da página 53 do Proclamadores)

Venha Teu Reino (1891), página 153:

E com o fim de 1914 A.D., aquilo que Deus chama de Babilônia e os homens chamam de Cristandade terá passado, conforme já demonstrado pela profecia. (Este livro é mencionado no rodapé da página 53 do Proclamadores)

Isto foi alimento servido até 1914. Como os reinos do mundo não se acabaram e nem a cristandade deixou de existir isto mostrou ser alimento de má qualidade, falsa profecia. (Deuteronômio 18:21,22)

2) A partir de 1918 A Torre de Vigia continuou a preocupar-se com “os tempos e as épocas”, e os destaques foram:

– Sobre 1918, data em que, segundo o Corpo Governante, começou a ressurreição celestial dos “ungidos”:

Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo, página 103, parágrafos 11 e 12:

Isto cumpre também a promessa de Jesus aos fiéis cristãos ungidos… Toda a evidência indica que essa ressurreição celestial começou em 1918, após a entronização de Jesus em 1914, e ele sair cavalgando para iniciar sua vitória como rei por eliminar dos céus a Satanás e seus demônios.

Não há na Bíblia NENHUMA EVIDÊNCIA de tal acontecimento em 1918. Mas o que poucas Testemunhas de Jeová sabem é que DESDE 1881 o ensino da Sociedade era de que a ressurreição dos ungidos tinha começado a ocorrer em 1878.

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 148:

Por exemplo, foi em 1927 que a Torre de Vigia apontou que os membros fiéis do corpo de Cristo que dormiam não foram ressuscitados em 1878 (como certa vez se pensava), que a vida está no sangue e que o assunto de roupas sóbrias seria corretamente modificado.

Como se vê, de fins do século XIX e até 1927 (oito anos depois da alegada designação de 1919) o Corpo Governante estava ensinando que a ressurreição espiritual JÁ ACONTECERA! A este propósito, o apóstolo Paulo, referindo-se à apostasia de Himeneu e Fileto, escreveu:

2 Timóteo 2:18: “Estes mesmos se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já ocorreu, e estão subvertendo a fé de alguns.”

Não há dúvida sobre o que acontecia em 1918. O chamado “escravo fiel e discreto” alimentava seu povo naquela época com um ensino falso de que a ressurreição já tinha acontecido QUARENTA ANOS ANTES. O mesmo pecado de Himeneu e Fileto lá no primeiro século! Será que Himeneu e Fileto poderiam ter sido alistados como escravos fiéis e discretos? DE MODO ALGUM! OS MEMBROS DA TORRE DE VIGIA EM 1919 TAMBÉM NÃO.

A tendência de especular com datas não cessou depois da suposta designação de 1919.

– Sobre 1925, que levaria para os céus os “ungidos” e que traria de volta os servos de Deus do passado, ela afirmava o que segue:

Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (1920), páginas 110 e 111:

… desde que outras escrituras definitivamente estabelecem o fato, de que Abraão Isaque e Jacó ressuscitarão e outros fiéis antigos, e que estes seriam os primeiros favorecidos, podemos esperar em 1925 a volta desses homens fiéis de Israel, ressurgindo da morte e completamente restituídos à perfeição humana. (Confira no livro Proclamadores, página 78, parágrafo 3.)

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 146, parágrafos 1 e 2:

“Pensava-se que então o restante dos seguidores ungidos de Cristo iria para o céu, para ser parte do reino… Veio e foi-se o ano de 1925. Os seguidores ungidos de Jesus ainda estavam na terra… Abraão, Davi e outros – não foram ressuscitados… “1925 foi um ano triste para muitos irmãos. Alguns deles tropeçaram; suas esperanças foram despedaçadas.

Pode-se considerar o livro que causou tal dano aos membros da organização como “alimento no tempo apropriado”? Não terá sido antes ALIMENTO ESTRAGADO QUE FEZ MAL AOS QUE O CONSUMIRAM?

3) O Mistério Consumado (The Finished Mystery) é um livro muito citado na história das Testemunhas de Jeová. O livro Clímax de Revelação (1988), página 165, parágrafo 16, refere-se a ele como “um poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”. No Proclamadores, página 69, diz-se que ele atingiu o número de 850.000 exemplares, que só perdeu em vendas para a Bíblia e que ele foi um sucesso. Hoje, no entanto, ele está FORA DE CIRCULAÇÃO, NÃO É MAIS RECOMENDADO PARA LEITURA das Testemunhas de Jeová e poucas delas têm alguma idéia de sua existência e muito menos do seu conteúdo.

Do que, enfim, tratava esse livro?

Eis aqui alguns destaques:

– Na página 258, explicando o significado de Revelação 16:20 (“Também toda ilha fugiu e não se acharam os montes”), ele diz:

Até as repúblicas desaparecerão no outono de 1920. Todos os reinos da terra passarão, serão tragados pela anarquia.

– Na página 485, a explicação de Ezequiel 24: 25, 26:

Também, no ano de 1918, quando Deus destruir as igrejas em escala total e os membros das igrejas aos milhões, ocorrerá que qualquer um que venha a escapar virá em busca das obras do Pastor Russell para descobrir o significado da derrocada do ‘cristianismo’.

– E ainda na página 542, explicando Ezequiel 35:15:

Assim como os apóstatas de mentalidade carnal do cristianismo, aliados aos radicais e revolucionários, regozijar-se-ão diante da herança de desolação que virá a ser da cristandade, depois de 1918, assim fará Deus ao movimento revolucionário triunfante; será completamente desolado, “mesmo toda ela”. Não sobreviverá nenhum vestígio dele nas ruínas da anarquia mundialmente abrangente no outono de 1920.

Tudo isto foi publicado no ano de 1917. Nada aconteceu. A Bíblia realmente não predizia nada disto. Os autores deste livro (na época tido como “alimento espiritual no tempo apropriado”) não foram FIÉIS a Deus e Sua Palavra. Divulgando tais invenções humanas em 850.000 exemplares TAMPOUCO FORAM DISCRETOS. Este é o quadro “profético” que Jesus teria encontrado em sua inspeção de 1918. Aqui aplicam-se as palavras de Jeremias 23:21:

“Não enviei os profetas, no entanto, eles mesmos correram. Não falei com eles, no entanto, eles mesmos profetizaram.”

Além disso, no que diz respeito ao tipo de “alimento”, esta obra entre outras coisas explicava que:

– No cumprimento de Revelação 14:20 (página 230) os “mil e seiscentos estádios” representavam e se cumpriam na distância entre Scranton, Pensilvânia (onde o livro Mistério foi redigido) e Brooklyn, Nova York, EUA (antiga sede da Sociedade, agora em Warwick, NY, EUA). Segundo o livro isto correspondia ao “pisamento do lagar”, mencionado em Revelação!

– Na página 230 o “beemote” descrito em Jó 40:16-20 prefigura a “máquina a vapor”, que se destacou na época da Revolução Industrial. Hoje a Sociedade entende o beemote como sendo o hipopótamo.

– O “leviatã”, descrito em Jó 41:1-34 (página 231) simbolizava a “locomotiva“, surgida no século XIX. Atualmente a Sociedade ensina que o leviatã é o crocodilo.

– O profeta Naum, segundo O Mistério Consumado (página 93), em seu livro, capítulo 2, versículos 3 a 6 estava tendo a visão profética de UM TREM EM MOVIMENTO! E explica que o “escudo tingido de vermelho” do versículo l é o “farol da locomotiva”; os “homens de energia vital” são “o maquinista e o foguista” e o “pano carmesim” representa as “chamas da caldeira quando iluminam a cabina do maquinista à noite”. As “lanças de junípero” representavam os “postes de telégrafo ao lado da ferrovia”. Já no versículo 4 os “carros de guerra” representam os “vagões do trem”, e as palavras “correndo como os relâmpagos” referiam-se à fabulosa velocidade daquele novo meio de transporte.

E assim prossegue o livro.

Será possível que se possa honestamente considerar tudo isso como ‘alimento no tempo apropriado’ de algum valor espiritual?

Na época da Primeira Guerra Mundial O Mistério Consumado foi proscrito nos Estados Unidos e no Canadá. Mais tarde, a própria Sociedade o relegou ao esquecimento, deixando de imprimir e publicar este “poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”. A razão parece bem clara.

Se Cristo tivesse realmente feito essa inspeção em 1918 o que teria achado do livro O Mistério Consumado? Teria Ele dito ‘muito bem’ aos seus editores?

5) A neutralidade nas guerras, item tão prezado pela Sociedade Torre de Vigia, que a coloca como um sinal de que ela é a única religião verdadeira (embora haja outros, como os Cristadelfianos, desde 1860, que não participam nas guerras), nem sempre foi plena, mas transigente. Isto é admitido nas seguintes publicações:

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 119:

Uma transigência foi o corte das páginas de O Mistério Consumado… Outra ocorreu quando a Torre de Vigia, em inglês, de 1 de junho de 1918, declarou: “De acordo com a resolução do Congresso, de 2 de abril, e segundo a proclamação do Presidente dos Estados Unidos, de 11 de maio, sugere-se que o povo do Senhor em toda parte torne o dia 30 de maio um dia de oração e súplica“. Comentários subseqüentes exaltaram os Estados Unidos e não se harmonizaram com a posição cristã de neutralidade.

A Sentinela, 15 de junho de 1987, página 15, parágrafo 3:

Quando Jeová acompanhou seu “mensageiro do pacto” ao templo espiritual, encontrou o restante em necessidade de refinação e de purificação. Por exemplo, A Sentinela (em inglês) havia exortado seus leitores a reservar o dia 30 de maio de 1918 como dia de oração pela vitória das potências democráticas, conforme solicitado pelo Congresso dos Estados Unidos e pelo Presidente Wilson. Isto importava numa violação da neutralidade cristã.

Proclamadores, página 191, parágrafos 3 e 4:

…sua posição nem sempre foi de estrita neutralidade… Assim, em concordância com uma proclamação feita pelo presidente dos Estados Unidos, The Watch Tower instou com os Estudantes da Bíblia que participassem em observar o dia 30 de maio de 1918 como um dia de orações e súplicas com respeito ao resultado da guerra mundial… A maneira de agirem em tais situações foi também variada. Sentindo-se obrigados a obedecer às “autoridades existentes”… alguns entraram nas trincheiras de combate com fuzis e baionetas. Mas, tendo em mente o texto “não matarás”, atiravam no ar ou tentavam simplesmente derrubar a arma das mãos do inimigo.

Note que tudo isso aconteceu em 1918. Se Jesus fez realmente uma inspeção naquele ano ENCONTROU OS MEMBROS DA ORGANIZAÇÃO em “violação da neutralidade cristã”, participando em “orações pela vitória na guerra” e alguns chegando até a pegar em fuzis e baionetas e tentando desarmar o “inimigo”.

Se a Sociedade considera, nos dias de hoje, que as religiões que agem de modo similar (como os Adventistas) não têm a aprovação de Jeová, como puderam eles receber, LÁ EM 1918, essa aprovação, e ainda mais, uma designação de escravo fiel e prudente?

6) Até os anos 20 os membros da organização comemoravam não só aniversários como o Natal. O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 147, parágrafo 2, diz:

Sim, naqueles dias iniciais, os cristãos dedicados comemoravam aniversários. Bem, então por que não celebrar o suposto aniversário de Jesus? Também fizeram isto por muitos anos. Nos dias do Pastor Russell, o Natal era celebrado na antiga Casa da Bíblia… “Um costume que certamente não seria levado a efeito hoje em dia era celebrar o Natal com uma árvore de Natal no refeitório de Betel. O costumeiro ‘bom dia para todos’ do irmão Russell era mudado para ‘feliz Natal para todos’.”

E o parágrafo 3 prossegue:

O que moveu os Estudantes da Bíblia a parar de celebrar o Natal? Richard H. Barber deu a seguinte resposta: “Foi-me solicitado que proferisse um discurso de uma hora… sobre o assunto do Natal. Foi proferido em 12 de dezembro de 1928… Esse discurso apontava a origem pagã do Natal. Depois disso, os irmãos em Betel jamais celebraram de novo o Natal.

O parágrafo 4 do Anuário completa dizendo que depois disso eles se livraram de coisas como os ANIVERSÁRIOS NATALÍCIOS e o Dia das Mães. Observe que tudo isso ocorreu APÓS DEZEMBRO DE 1928, isto é, NOVE ANOS APÓS a suposta designação por Jesus da Sociedade como “escravo fiel e discreto” (em 1919). Toda esta informação (com exceção de uma pequena discrepância quanto à data, 1926) pode ser confirmada nas páginas 199 a 201 do livro Proclamadores.

Como pôde a Torre de Vigia presumir receber tal honra da parte de Jesus quando AINDA estava tão comprometida com algumas das mesmíssimas coisas que as outras igrejas faziam?

7) A Grande Pirâmide de Gizé, no Egito, monumento funerário pagão inspirado na imortalidade da alma, foi muito usado pela Sociedade para se fazer cálculos sobre eventos bíblicos. Este ensino, lançado em 1886, foi confirmado em 1912 no livro Venha Teu Reino, página 342, onde entre outras coisas está escrito:

Temos esta data-chave na junção da “Grande Passagem Ascendente” com a “Grande Galeria”. Esse ponto assinala o nascimento do nosso Senhor Jesus, enquanto o “Poço”, 33 polegadas adiante, indica sua morte… Este cálculo mostra 1915 A D como assinalando o começo do período de tribulação… Assim, a Pirâmide testemunha que o final de 1914 será o início do tempo de tribulação tal como nunca houve desde que as nações existem – não, e tampouco haverá depois.

Este ensino piramidológico AINDA estava em vigor em 1918 e 1919, pois em 1922 A Sentinela (em inglês), de 15 de junho , página 187, dizia:

Nas passagens da Grande Pirâmide de Gizé, a concordância de uma ou duas medidas com a cronologia da verdade atual pode ser acidental, mas a correspondência de dúzias de medidas prova que o mesmo Deus desenhou tanto a pirâmide como o plano – e prova ao mesmo tempo a exatidão da cronologia.

Tudo isso foi revogado em A Sentinela, 15 de novembro de 1928, página 341, que reconheceu o seguinte:

Se a pirâmide não é mencionada na Bíblia, então seguir seus ensinos é ser levado pela vã filosofia e pela falsa ciência, e isso não é seguir a Cristo.

Raciocínio correto! Só que se chegou a esta conclusão NOVE ANOS APÓS 1919! Naquele ano a Sociedade atribuía a Jeová ALGO QUE ELE NÃO FEZ, o projeto de um monumento pagão que NADA TINHA A VER COM A BÍBLIA! Estava sendo “levada pela vã filosofia e pela falsa ciência”, e não estava “seguindo a Cristo”, TAL COMO AS ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS QUE ELA TANTO CONDENAVA.

Terá sido isto uma demonstração de FIDELIDADE a Deus e a Jesus? Que espécie de escravo FIEL era este, merecedor de ser “designado sobre todos os bens” do Amo?

Esta informação pode ser conferida no Proclamadores, página 201, e em A Sentinela, 1 de janeiro de 2000, página 9, parágrafos 16 e 17.

8) A reverência à bandeira e a exaltação de criaturas por parte da Sociedade, pode ser observada em A Sentinela de 15 de maio de 1917, página 150:

A bandeira americana foi adotada como um símbolo de liberdade. Ela é um símbolo nacional. Enquanto alguns têm insistido em que agora ela representa a guerra, isto dificilmente se harmoniza com os fatos. Ela pode representar guerra para aqueles que desejam a guerra, mas para os que amam a liberdade e a paz a bandeira representa liberdade e paz… Desde que o Lar de Betel foi fundado, em um canto da Sala de Visitas, vem sendo mantido um pequeno busto de Abraham Lincoln com duas bandeiras americanas hasteadas sobre ele. Isto é considerado altamente apropriado, tendo em vista o que o Sr. Lincoln fez pelo governo e pelo povo dos Estados Unidos, e nisto nada vemos de incompatível com o dever de um cristão.

Além do visto acima, havia também nessa época um considerável CULTO À PERSONALIDADE em torno de Charles T. Russell, fundador e primeiro presidente da Sociedade, falecido em 1916. Isto faz parte de uma lista de “práticas babilônicas”, que segundo o Corpo Governante tornava a organização impura aos olhos de Deus. (A Sentinela 1 de maio de 1989, páginas 3 e 4.)

9) O preconceito racial é hoje combatido por praticamente todas as religiões da cristandade e a Sociedade Torre de Vigia é firmemente contra ele. Mas nem sempre foi assim. No começo do século XX era ainda muito difundida a idéia de que os brancos eram uma raça superior ou favorecida. Mesmo sendo contra a escravidão as igrejas pareciam endossar esse pensamento, e nem a organização da Torre de Vigia estava totalmente livre desse preconceito. Veja o que dizia, por exemplo, A Sentinela (em inglês) de 15 de julho de 1902, páginas 215 e 216:

Embora seja verdade que a raça branca apresenta algumas qualidades de superioridade sobre qualquer outra, devemos lembrar que há amplas diferenças dentro da mesma família caucasiana (semita e ariana); e devemos recordar também que algumas das qualidades que deram a este ramo da família humana sua proeminência no mundo não são aquelas que se possam chamar de admiráveis em todos os aspectos… O segredo da maior inteligência e aptidão dos caucasianos deve ser, sem dúvida, a mistura de sangue entre seus vários ramos; e isto foi evidentemente forçado em grande parte por circunstâncias sob controle divino.

Será que ficou bem claro? O que este artigo defende não é que a mistura das raças contribuiu para a maior inteligência e aptidão de todos, não. O que ele diz é que a mistura entre os diversos ramos da raça caucasiana (branca) aprimorou as qualidades dos próprios caucasianos. E por “circunstâncias sob controle divino”!

Em 1929, a Sociedade ainda não havia se livrado de seu preconceito, insinuando que os negros foram feitos para servir e, como ensinavam os filósofos do racismo, eles [os negros] são mais felizes assim.

A Idade de Ouro (antigo nome de Despertai!), 24 de julho de 1929, página 702:

Acredita-se de modo geral que a maldição proferida por Noé sobre Canaã deu origem à raça negra. É certo que quando Noé disse, “Maldito seja Canaã, um servo dos servos é o que ele será de seus irmãos,” ele delineou o futuro da raça de cor. Eles foram e são uma raça de servos, mas agora na alvorada do século XX, estamos todos passando a ver este assunto da servidão em sua verdadeira luz e a descobrir que a única verdadeira alegria da vida está em servir aos outros, não em comandá-los. Não há no mundo um servo tão bom quanto um bom servo de cor, e a alegria que ele obtém em prestar um serviço fiel é uma das mais puras alegrias do mundo.

Observe que o contexto aqui não é o de servir a Deus, mas sim o de servir a homens. Se fosse o contrário o artigo estaria dizendo que os negros servem melhor a Deus que os brancos, o que também não é verdade.

Estas duas citações, feitas entre 1902 e 1929, comprovam que em 1918 a Torre de Vigia estava ainda maculada, como outras igrejas da época, pela nódoa do preconceito racial. Teria sido ela, MESMO ASSIM, considerada apta a receber a mordomia de todos os bens de Jesus sobre a terra?

10) O uso da cruz, hoje tão condenado pelas Testemunhas ungidas do Corpo Governante como símbolo pagão, foi adotado por muitos e muitos anos na organização.

Uma cruz adornava o teto do Brooklyn Tabernacle, escritório da Sociedade, cuja foto pode ser vista no canto superior direito da página 216 do livro Proclamadores. Nesta foto a cruz é a letra “T” da palavra “tabernacle”.

Gravuras de Jesus na cruz aparecem nos livros Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (1920), página 95; Criação, página 225 e Vida, página 230, ambos de 1929.

O símbolo pagão de CRUZ E COROA, foi usado como alfinete de lapela ATÉ 1928 e apareceu nas capas de A Sentinela até a edição de 15 de outubro de 1931, ou seja, 11 anos depois de 1919, quando a Sociedade afirma ter sido designada por Jesus SOBRE TODOS OS SEUS BENS!

Fotos de capas de A Sentinela (The Watch Tower) com a cruz e coroa aparecem nas páginas 200, 576 e 724 do livro Proclamadores.

  • A CONCLUSÃO DE TUDO ISSO

Será interessante lermos as declarações do próprio Corpo Governante, “representante do escravo fiel e discreto” acerca do que aconteceu naquele período, 1914-1919.

A Sentinela, 15 de junho de 1981, página 26, parágrafo 17:

Assim como os israelitas dos dias de Isaías, os israelitas espirituais venderam-se por causa de práticas erradas e passaram a estar em servidão ao império mundial de religião falsa, a saber, Babilônia, a Grande, e aos amantes mundanos dela.

A Sentinela, 15 de janeiro de 1961, página 51, parágrafo 18:

As Testemunhas de Jeová da Torre de Vigia provaram ser vigias espiritualmente atentos. Mas as escrituras os descreviam como tendo vestes impuras, por causa de sua longa associação com a apostasia cristã. Ainda tinham muitos costumes, características e crenças similares às das seitas da cristandade, que eram como joio.

Ainda na mesma revista, página 52, parágrafo 19:

Tudo isso aconteceu em relação com a transgressão da parte deles por terem medo dos homens, não se comportando de modo estritamente neutro durante os anos da guerra e ficando manchados por muitas práticas religiosamente impuras. Jeová e Jesus Cristo permitiram que estas testemunhas fossem vituperadas, perseguidas, proscritas, e que seus encarregados fossem encarcerados pelas nações deste velho mundo.

Portanto, a Sociedade ADMITE CLARAMENTE que os membros da organização “venderam-se por práticas erradas”, andavam com “vestes impuras” e tinham ainda “muitos costumes, características e crenças”similares às da cristandade, como “joio”. Tinham “medo dos homens”, não foram “estritamente neutros” e estavam “manchados”por práticas religiosamente impuras. E ESTA ERA A SITUAÇÃO DELES em 1918 e 1919, por ocasião da inspeção e aprovação de JesusE continuaram com tais práticas ainda por vários anos APÓS 1919!

E apesar de tudo isso o livro Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975) diz:

Página 354, parágrafo 47:

O Senhor Jesus declarou feliz o “escravo fiel e prudente”, por causa do que o aguardava como recompensa por fazer o que o seu amo lhe mandou fazer. Recebe uma promoção, com maiores responsabilidades para com o amo, a quem é tão fiel ( ! )

Página 355, parágrafo 51:

Ao inspecionar os do restante de seus discípulos ungidos, no ano de 1919 E.C., o Rei reinante Jesus Cristo achou o “escravo” designado como fiel e prudente(?) na alimentação de seus “domésticos”. Por conseguinte, designou esta classe do “escravo” sobre todos os seus bens. (!!)

E no parágrafo 52:

Todos estes são privilégios, responsabilidades, dignidades e honras reservados para os do restante da classe do “escravo fiel e discreto” que lhes são conferidos pelo seu Amo celestial, e Rei reinante, Jesus Cristo… Serem encarregados de tais coisas preciosas indica deveras seu enaltecimento.

Indica deveras UMA ENORME PRESUNÇÃO!

O autor deste livro, o falecido Frederick Franz, certamente deixou de levar em conta, em nome da “classe” que ele representava, as palavras de Romanos 12:3:

… digo a cada um aí entre vós que NÃO PENSE MAIS DE SI MESMO DO QUE É NECESSÁRIO PENSAR.

Ninguém viu essa designação dos Estudantes da Bíblia em 1919. Foi invisível! A Bíblia não confirma a nomeação dessas pessoas, homens e mulheres associados com a Torre de Vigia, como recebendo uma mordomia sobre toda a humanidade. Os fatos, conforme acabamos de ver, também não comprovam essa habilitação.

Se todos os itens que aqui mencionamos tornavam os membros da organização tão impuros, conforme eles mesmos admitem, sendo até necessário que o entronizado Rei os deixasse cair no cativeiro, como foi possível que, no mesmo ano da inspeção, 1918, este mesmo rei aprovasse seu desempenho? Em que base teria Jesus designado a eles como “escravo fiel” dentre todas as religiões da terra, estando ainda tão comprometidos?

De que modo se qualificaram para “maiores privilégios” se ainda carregaram por uma década os mesmos erros de que tinham sido culpados?

Não é lógico raciocinar que, para se reabilitarem no favor divino e receberem uma PROMOÇÃO eles deveriam ter se purificado de tudo isso ANTES da promoção?

É como se uma comissão judicativa avaliasse um irmão transgressor arrependido e, LOGO EM SEGUIDA, sem ele ter passado por um período de observação, os anciãos o recomendassem como servo ministerial ou ancião.

Ron Frye, que serviu à organização em tempo integral por mais de 30 anos, fez a seguinte ilustração:

“É como se você fosse a um negociante que, devido à própria insensatez dele, meteu-se em problemas financeiros e perdeu uma grande soma de dinheiro seu, tendo de declarar falência. E você lhe dissesse: ‘Muito bem! Você perdeu uma pequena fortuna minha, e portanto, vou agora entregar aos seus cuidados toda a minha fortuna’.”

A pergunta que serve de tema a este artigo, “Será Realmente o Escravo Fiel e Discreto?” só pode ter como resposta, baseada nas próprias afirmações e publicações provindas da Sociedade, que nem os mais de 8.000 participantes dos emblemas (que não tomam parte das decisões emitidas de Brooklyn) e nem os homens que estão hoje no Corpo Governante são o Escravo Fiel e Discreto de Mateus 24:45.

Ao longo dos anos as publicações da Sociedade trataram desta pergunta num contexto tal como se ela requeresse uma resposta do tipo: ” é Fulano”, ou “é Sicrano”, ou “é o grupo tal”.

De fato, como já vimos, o que ela diz é que o “escravo” é uma CLASSE e que não pode se aplicar a INDIVÍDUOS. Porém, como podem eles ter certeza disto?

Não se pode esquecer dos inúmeros erros de interpretação passados e recentes cometidos pela Sociedade, desde que Charles Russell iniciou a publicação de A Torre de Vigia em julho de 1879 (1914, 1925, a nova identidade da grande multidão, a identidade das “autoridades superiores”, a geração de 1914 que veria o fim, a época da separação das ovelhas e cabritos, etc).

Ela aplica erradamente Provérbios 4:18 (que simplesmente descreve a vereda do justo, assim como o versículo 19 descreve o caminho dos iníquos) como justificativa para modificar periodicamente suas interpretações. Eles chamam o conjunto de seus ensinamentos de “a verdade”, mas a teoria da “luz crescente” serve de pretexto para o fato de haver uma parte desta verdade que é DESCARTÁVEL. A verdade, porém, não pode ser descartável! Se um ensino antigo é revogado e substituído por um novo ensino’, isto significa que aquilo NUNCA FOI VERDADE. E se não era verdade era um ENSINO FALSO. E quem ensinou e divulgou tais ensinos esteve ENSINANDO FALSIDADE!

A Sociedade ensinou errado no passado e pode estar ensinando errado agora. Vimos que suas credenciais de FIDELIDADE E PRUDÊNCIA no suposto ano da designação (1919) são falhas. O alimento que serviu deixou muito a desejar. QUEM É ENTÃO O ESCRAVO?

  • A RESPOSTA MAIS SIMPLES

Mateus 24:45-51 nos conta uma PARÁBOLA, e toda parábola tem uma lição a transmitir. Examinemos algumas destas parábolas.

O homem que construiu sobre a rocha (Mateus 7:24-27)

Enaltece aquele que ouve e pratica as palavras de Jesus. Qualquer pessoa que tome isso a peito terá como resultado a segurança da “casa fundada sobre a rocha”; ela é capaz de resistir às tribulações do mundo e não vir abaixo, como acontece com a casa construída sobre a areia. Não existe uma “classe” reservada para estes fins. Os INDIVÍDUOS simplesmente se encaixam num situação ou na outra.

O bom samaritano (Lucas 10:30-37)

Representa a importância do amor ao próximo. Jesus acabara de responder a um homem que perguntara sobre isso (vv.27-29). O sacerdote e o levita representam as pessoas que não têm amor ao próximo (no caso, um desconhecido abandonado à beira da estrada). Qualquer pessoa que, igual ao samaritano, demonstre amoroso cuidado até para com um estranho, estará aplicando a lição da parábola, sem precisar fazer parte de alguma “classe” do bom samaritano.

O rei que perdoou a dívida (Mateus 18:23-35)

Esta ilustra o valor do perdão. Os indivíduos que absorvem esta lição de Jesus mostrarão sempre a disposição de perdoar os outros pelas ofensas (dívidas) que lhe fazem, não importando o tamanho destas. Os que não mostram a qualidade cristã do perdão, por outro lado, são condenados por sua falta de misericórdia. Esta é a lição. Não temos de sair atrás de descobrir quem é a “classe” do rei misericordioso ou a “classe” do escravo iníquo. Por sua conduta os INDIVÍDUOS mostram que são de um ou de outro tipo.

O homem que ajuntou bens em celeiros (Lucas 12:16-20)

Aqui a lição é a do perigo do materialismo. As pessoas que levam suas vidas unicamente visando as riquezas e depositando nelas a sua confiança perdem a aprovação de Deus e a bênção da vida eterna. Para fugir desse perigo, será que precisamos identificar a “classe” dos “corvos que não semeiam” (Lucas 12:24) e a “classe” dos “lírios que não labutam nem fiam”? (Lucas 12:27)

A parábola do escravo fiel e prudente, tal como as outras, transmite uma lição importante: a de bem servir a Jesus e a Deus por meio de SERVIR AOS OUTROS. NÃO DIZ QUE SE APLICA A UMA CLASSE. Tal como as parábolas anteriores dirigem-se a INDIVÍDUOS, pessoas que por suas atitudes mostrarão, caso a caso, quem é “escravo fiel e discreto” (Mateus 24:45) e quem é “escravo mau” (Mateus 24:48).

E o “alimento no tempo apropriado”? Qualquer coisa que contribua para o bem-estar dos outros. Veja 1 Pedro 4:10:

Na proporção em que cada um recebeu um dom, usai-o em ministrar uns aos outros,,, como mordomos excelentes da benignidade imerecida de Deus, expressa de vários modos.

Podem ser as boas novas a respeito de Jesus (Atos 5:42), que são fonte de alegria e de esperança na vida eterna. Podem ser também o alimento físico, a bebida que mata a sede, a hospitalidade, a vestimenta, o cuidado com os doentes e a solidariedade humana. (Mateus 25:35,36) Todos que, destes “vários modos”, ministram uns aos outros estão cumprindo as palavras de Jesus. Esta é a atitude recíproca, em que todos podem “servir alimento” e todos podem ser “domésticos”, de acordo com a situação.

E ser designado “sobre todos os bens”de Jesus? Ora, a recompensa maior, como Ele mesmo declarou, em Mateus 25:34:

“Vinde… herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo”.

Observe também que todo o contexto dos capítulos 24 de Mateus diz respeito à terminação do sistema de coisas (Mateus 24:3 em diante) e à imprevisibilidade da presença do Filho do homem. Veja:

Mateus 24:36

Acerca daquele DIA e daquela HORA ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai.

Esse DIA e essa HORA ainda não chegaram. Estão NO FUTURO.

Mateus 24:39

… e não fizeram caso, até que veio o dilúvio e os varreu a todos, ASSIM SERÁ a presença do filho do homem.

Mateus 24:42

Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis em que dia virá o vosso senhor.

Mateus 24:44

Por esta razão, vós também mostrai-vos prontos, porque o Filho do homem vem numa hora em que não pensais.

Todos esses textos referem-se a ALGO QUE AINDA VAI ACONTECER, não é verdade?

O próximo versículo desta seqüência é o 45, que menciona o escravo fiel e discreto e que, como todo o contexto, refere-se ao futuro. Não aconteceu em 1918 ou 1919, como já vimos. NADA, na Bíblia ou nos fatos, comprova isto!

O apóstolo Paulo, concordemente, escreveu sobre a APROVAÇÃO que se dará com a VINDA de Jesus, em 1 Coríntios 4:5:

Por isso, não julgueis nada antes do tempo devido, ATÉ QUE VENHA O SENHOR… e então cada um TERÁ o seu louvor da parte de Deus.

Conseqüentemente, também as palavras de Jesus em Mateus 24: 46 e 47 ainda vão se cumprir, QUANDO ELE CHEGAR:

Feliz aquele escravo, se o seu amo, AO CHEGAR, o achar fazendo assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens.

Esperemos humildemente, sem a pretensão de querer saber em detalhes e com datas marcadas que a Bíblia não especifica, para ver como Cristo Jesus fará isso.