O Uso do Nome Jeová – William Gadelha

Copyright © 1999 William Gadêlha

Atualizado 2021

“Eu sou Iahweh, este é meu nome.” (Isaías 42:8 – “A Bíblia de Jerusalém”)

“…que apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó… mas não lhes revelei o meu nome: Javé.” (Êxodo 6:3 – “A Bíblia Mais Bela do Mundo”)

“Para que saibam que tu, a quem só pertence o nome de JEOVÁ, és o Altíssimo sobre toda a Terra.” (Salmos 83:18 – “Almeida Revista e Corrigida”)

As Testemunhas de Jeová fazem grande publicidade em torno do nome Jeová, considerando isto como um dos sinais identificadores de que elas são a única religião verdadeira. No mesmo sentido, argumentam em favor do rótulo “Testemunhas de Jeová”, adotado em 1931.

Jeová, porém, não é a pronúncia correta do nome divino, e isto até a própria Sociedade Torre de Vigia já admitiu em algumas de suas publicações. A maioria dos eruditos diz que o mais aproximado da pronúncia original é IAVÉ (“Estudo Perspicaz das Escrituras”, Vol. 2, página 493). A Sociedade prefere usar Jeová por ser a forma mais tradicional. Mas desde quando ela argumenta em defesa da tradição contra aquilo que é mais exato? Ela não rompeu diversas vezes com as tradições da cristandade quando achou que algo estava mais próximo da exatidão?

É o caso das palavras madeiro ou estaca que ela prefere usar ao invés de CRUZ. Por que não manteve a tradição neste caso? Porque, no entendimento dela, “estaca” era uma tradução mais exata, assim como “Iavé” é a pronúncia mais exata do nome divino.

A Sociedade admite que, antes dela, muitos tornaram o nome Jeová conhecido (Brochura “Nome Divino”, páginas 10 e 11), logo a Sociedade Torre de Vigia não tem e NUNCA teve a exclusividade do uso deste nome, que além disso, aparece em enciclopédias, livros didáticos de História Geral e em cânticos de várias igrejas. (Como exemplo, veja esse cântico de 1857 [“Louvai a Jeová, ó Nações!”], exatamente 74 anos antes de Rutherford adotar o nome “Testemunhas e Jeová”: Veja aqui: http://www.hymntime.com/tch/non/pt/j/e/o/v/jeovasng.htm para ler e ouvir esse cântico [letra abaixo da fig. Ou este outro de 1745: https://hymnary.org/text/praise_jehovah_all_ye_nations.

O mero uso de um nome não é o fator mais importante, do ponto de vista de Deus (Mat. 7:22, 23), e sim as ações, principalmente as ações em favor da pessoa representada pelo nome. O que conta não é o uso do nome em si, mas a obediência, a fidelidade ao portador do nome, a autoridade dele, seu poder, sua fama, sua reputação (Prov. 10:7; 22:1; Ecl. 7:1). É o que ocorre em Mateus 28:19, que manda que se batize em “nome do espírito santo”, e como todos sabem, o espírito santo não tem nome.

É no mesmo sentido que as pessoas são batizadas “em nome do Pai”. É o mesmo caso de quando se diz “em nome da lei” (“Ajuda ao Entendimento da Bíblia”, página 1195).

A “Tradução do Novo Mundo” reconhece que inseriu Jeová 237 vezes nas Escrituras Gregas (Novo Testamento), e que em nenhuma das cópias mais antigas o tetragrama está presente nestas passagens. Não é o caso de se negar o nome de Deus ou de não revelá-lo. O que se questiona é o fato de não se fazer uma “tradução fiel às cópias disponíveis”, de se fazerem especulações e conjecturas sobre O QUE é que realmente estava escrito nos manuscritos originais. Além disso, há sete livros das Escrituras Gregas (Filipenses, 1 Timóteo, Tito, Filêmon e as três cartas de João) em que o nome Jeová não aparece, nem na “Tradução do Novo Mundo”. Será que a Sociedade lança alguma dúvida quanto as qualificações dos apóstolos Paulo e João por não terem feito uso do nome divino nestes livros? Você consegue imaginar algum livro ou revista da Sociedade em que o nome não apareça?

Um bom exemplo do uso do nome Jeová em lugar indevido nas Escrituras Gregas da “Tradução do Novo Mundo” está em Romanos 14: 8, 9. O versículo 8 parece não se harmonizar com o versículo 9. O contexto indica que ambos os versículos se referem a Jesus. Por que dizemos isso? Ora, o texto grego que serviu de base para a “Tradução do Novo Mundo” (“Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas”, em inglês, publicada pela Sociedade Torre de Vigia em 1985, página 719) diz nessa passagem: “…pois quer vivamos, vivemos para o Senhor [Kyrios], quer morramos, morremos para o Senhor [Kyrios]. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor…” Aqui não se esclarece a quem se refere a palavra “Kyrios” (Senhor). Poderia ser tanto a Jeová como a Jesus, mas veja a continuação: “Pois, para este fim morreu Cristo e passou a viver novamente, para que fosse Senhor [Kyrios] tanto sobre mortos como sobre viventes.” Não acha que a referência à morte e a vida em ambos os versículos indica com maior probabilidade que as ocorrências de “Kyrios” no versículo 8 aplicam-se a Jesus? Por que se referiria necessariamente a Jeová? Pura interpretação da organização do próprio texto grego original que ela usa!

A Sociedade afirma (Brochura “Nome Divino”, página 3) que Jesus mencionou repetidas vezes o nome Jeová em suas orações e cita os textos de João 12:28, João 17:6, 26, Mateus 6:9. Vejamos:

João 12:28

“Pai, glorifica o teu nome. Saiu, portanto, uma voz do céu: ‘Eu tanto o glorifiquei como o glorificarei de novo.'”

João 17:6,26

“Tenho feito manifesto o teu nome aos homens que me deste do mundo… E eu lhes tenho dado a conhecer o teu nome e o hei de dar a conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu em união com eles”.

Mateus 6:9

“Portanto, tendes de orar do seguinte modo: ‘Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome’.”

Como podemos observar, em NENHUM destes textos, Jesus proferiu o nome “Jeová”. Se as orações de Jesus nos devem servir de modelo por que razão o nome não é mencionado por ele nestas e em outras orações? Examinemos:

Mateus 11:25,26

“Naquela ocasião, Jesus disse, em resposta: ‘Eu te louvo publicamente, ó Pai, Senhor do céu e da terra, por que escondeste estas coisas dos sábios e dos intelectuais, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque fazer assim veio a ser o modo aprovado por ti’.”

Mateus 26:39,42

“Pai meu, se for possível, deixa que este copo se afaste de mim. Contudo, não como eu quero, mas como tu queres.” …Novamente, pela segunda vez, afastou-se e orou, dizendo: “Pai meu, se não é possível que isto se afaste de mim sem que eu o beba, realize-se a tua vontade.”

Será que por não ter usado o nome “Jeová” em nenhuma dessas ocasiões Jesus estava tentando menosprezar seu Pai? Será que por não ter proferido o nome em todas estas oportunidades Jesus estava se negando a reconhecer que Deus tinha nome? EVIDENTEMENTE QUE NÃO! Em todos estes casos, Jesus glorificou, manifestou e santificou o nome de Deus, e isto significava dar a conhecer o PODER, a HONRA e o PROPÓSITO do portador do nome, e não simplesmente PRONUNCIÁ-LO. Ademais, como se dirige você, leitor, ao seu pai carnal? Pelo nome dele ou como “pai”, “meu pai”, “papai”, etc?

A Sociedade argumenta que “o nome ímpar de Deus, Jeová, serve para diferenciá-lo de todos os outros deuses.” (“Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna”, p.24, par.6) Diz também que “uma grande vantagem de usar o nome do verdadeiro Deus é que isso o mantém separado de todos os deuses falsos.” (Brochura “O Nome Divino Que Durará Para Sempre”, p. 20, sexto parágrafo)

Esta argumentação visa, mais uma vez, chamar a atenção para a religião que adota o nome “Testemunhas de Jeová,” pretendendo que isto a identifique como a única que Deus aprova.

Terá isto precedente bíblico?

Bem, em 1 Coríntios 8:5, Paulo reconhece:

“Pois, embora haja os que se chamem ‘deuses’, quer no céu, quer na terra, assim como há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’. . . “

O apóstolo admitia a existência de outros “deuses,” todos falsos evidentemente. Teve ele, porém, o mesmo pensamento da Sociedade Torre de Vigia, de usar o tetragrama ou um nome equivalente para fazer tal distinção entre o único Deus verdadeiro e os falsos deuses? Vejamos como ele o fez em 1 Coríntios 8:6, continuação do texto acima citado:

“. . . para nós há realmente um só Deus, o Pai, de quem procedem todas as coisas, e nós para ele.”

Como vimos, Paulo não sentiu a necessidade recomendada pela Torre de Vigia.

Além disso, no areópago de Atenas, Paulo fez seu célebre discurso a uma multidão de pagãos, acostumados a adorar muitos deuses e deusas, todos com nomes específicos. (Zeus, Poseidon, Vênus, Hermes). Pelo raciocínio da Sociedade, seria essa, por excelência, uma oportunidade para se proferir o nome divino, apresentando àquelas pessoas um Deus a quem elas não conheciam. De fato, elas viam a Paulo como alguém que “publicava deidades estrangeiras.” (Atos 17:18) O apóstolo deu-lhes o testemunho das boas novas conforme relatado dos versículos 22 ao 31 do capítulo 17 de Atos. Em todo o seu discurso Paulo não pronunciou o tetragrama, sob qualquer forma, uma única vez, embora a ocasião, sob a ótica da organização, fosse bastante propícia para isso.

Por que Paulo não o fez? Porque era membro da “religião falsa”? Porque pertencia à “cristandade alienada de Deus”? Por que será que ele deixou de seguir os conselhos que a Torre de Vigia daria 19 séculos mais tarde? Será que Paulo não tinha a bênção de Deus por ter deixado de proferir o nome divino naquela importante ocasião, entre pessoas que conheciam tanto deuses falsos, inclusive por nome?

Mesmo sem seguir as recomendações do Corpo Governante de Brooklyn, Paulo obteve bons frutos naquela ocasião, pois “alguns homens juntaram-se a ele e se tornaram crentes, entre os quais havia também Dionísio, juiz do tribunal do areópago, e uma mulher de nome Dâmaris, e outros além deles.” (Atos 17:34)

Vemos, portanto, que a bênção de Deus nada tem a ver com o uso ou o desuso do tetragrama, em qualquer de suas pronúncias. A alegação da Sociedade fica, assim, sem precedente bíblico.

E, mais uma vez, quererá tudo isso dizer que Deus não tem nome ou que não se pode proferir esse nome em nenhuma de suas formas? (Jeová, Iavé ou Javé) De modo algum! A Bíblia simplesmente nada diz a respeito, como também nada diz sobre o uso verbal ou escrito do nome de Deus. E ninguém na terra deve ir “além das coisas escritas” (1 Cor. 4:6), nem mesmo o Corpo Governante da Torre de Vigia.

A questão principal não é se Deus tem nome, pois Ele o tem! Nem se a forma mais apropriada é JEOVÁ, JAVÉ ou IAVÉ; qualquer uma delas é aceitável. A questão é: É válido, à luz da Bíblia, fazer da ênfase ao uso do nome, um dos sinais identificadores do cristianismo?

Atos 15:14 diz que no primeiro século Deus “voltou sua atenção para as nações, a fim de tirar delas um povo para o seu nome”.

Será que este versículo queria dizer que os verdadeiros adoradores deveriam ter o nome divino como um rótulo, tal como “Testemunhas de Jeová”, nome oficial escolhido por Joseph Rutherford em 1931, em pleno século XX, VINTE SÉCULOS APÓS a morte de Jesus e a fundação da congregação cristã? Claro que não! Os cristãos primitivos passaram muito bem e PROSPERARAM, levando a mensagem de salvação à grande parte da terra habitada sem esta denominação oficial criada por Rutherford. Tornaram-se, DESTE MODO, “um povo para o nome de Deus”, lá no primeiro século!

O nome pelo qual os adoradores do verdadeiro Deus, seguidores de Jesus, ficaram conhecidos está em Atos 11:26:

“…e foi em Antioquia que os discípulos, POR PROVIDÊNCIA DIVINA, foram chamados ‘CRISTÃOS'”.

Este nome foi providenciado pelo próprio Jeová, e NÃO por um homem chamado Rutherford. (Livro “Proclamadores”, pág. 152, par. 1) Além de “cristãos”, a primitiva comunidade cristã também foi chamada de “O Caminho”. (Atos 9:2; 19:9; 22:4)

A própria organização também cresceu bastante durante mais de cinquenta anos (1879-1931) ANTES de ter adotado a denominação “Testemunhas de Jeová”. E ela própria admite que em suas primeiras décadas deixou de usar o nome “Jeová” com a devida frequência. Como foi este crescimento possível sem se dar ao nome a ênfase que a Sociedade hoje declara ser indispensável? Como explicar também o imenso crescimento numérico de organizações tais como as dos Adventistas do Sétimo Dia, das Assembleias de Deus e dos Mórmons, que não usam “Jeová” com tanta ênfase?

A congregação cristã do primeiro século, orientada pelos apóstolos, acompanhada pela ação sobrenatural do espírito santo de Deus, NÃO USOU a denominação “Testemunhas de Jeová”, e se tivesse usado o nome “Jeová” com tanta ênfase como sugere a Sociedade Torre de Vigia, seria difícil de entender porque ele não aparece nas cópias mais antigas disponíveis das Escrituras Gregas.

Chega-se à conclusão, portanto, de que não é por levar um rótulo, uma etiqueta ou um diferencial de marketing religioso, que alguém pode hoje reivindicar para si a posição de “única religião aprovada por Deus.”

Em uma de suas publicações, (“Poderá Viver Para Sempre”, página 185, par. 6) a Sociedade Torre de Vigia pergunta: “Se falar a seus vizinhos e amiúde referir-se a Jeová, com que organização acha que eles o associarão?”

Além da resposta óbvia, pode-se acrescentar o seguinte:

Eles o associarão a uma religião que ficou conhecida por marcar datas para o fim do mundo sem que este fim viesse; uma religião que por MUITAS ANOS negou a seus adeptos o direito a vacinas, que até 1980, negou-lhes o direito a um transplante de órgãos; eles o associarão a uma religião cujos membros preferem morrer ou deixar seus filhos e entes queridos morrerem a receber uma transfusão de sangue integral, enquanto libera o uso de certas frações do sangue, separadamente; eles o associarão a um grupo de pessoas que até dezembro de 1999 vendiam (consulte um dicionário sobre o vernáculo “VENDER”) insistentemente livros e revistas de porta em porta (de janeiro/2000 em diante, solicitam “donativos”), e finalmente, poderão associá-lo também à religião que desassocia (expulsa) seus membros pelo único pecado de não concordarem com os ensinos sem base bíblica decretados pelo seu “Papa Coletivo”, o Corpo Governante, negando-lhes um simples cumprimento, afastando-os dos vínculos de amizade, destruindo relações de pais com filhos, irmãos com irmãos, transformando o amor em ódio. Para muitas pessoas que conhecem de perto essa “religião”, esta é a imagem (não divulgada nas revistas da Sociedade) que se tem das “Testemunhas de Jeová”.

Sem dúvida alguma, um grande vitupério foi trazido sobre o Deus Altíssimo por parte da Sociedade Torre de Vigia. O nome divino que ela usa como um rótulo, não a livrou de cometer tantos erros, de acumular inclusive culpa de sangue pelos que morreram em resultado de suas orientações, não a impediu de ir “além das coisas escritas” e de fazer audaciosos acréscimos e distorções à Palavra de Deus. Qual será o julgamento dela por parte do Deus cujo nome ela vituperou e desonrou pelos seus ensinos?