Como as Religiões Atraem Adeptos – Cid Miranda

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Atualizado em 03/11/2020

  • Fins proselitistas 

O leitor lerá a seguir sobre como as religiões utilizam eficientes mecanismos com a finalidade proselitista e retenção de membros e também sobre como várias destas ferramentas são geralmente utilizadas no mundo comercial.

As pessoas que estão dentro dos apriscos religiosos não imaginam como as armas de convencimento, a neuro-linguística, os jargões exclusivos, os treinamentos que são dados para trazer noviços para as igrejas, etc, são também métodos de persuasão utilizados no comércio tanto para prospectar como para fidelizar membros. É interessante analisar como funciona o controle de fidelização e retenção de membros com o objetivo de novos auges nas franquias religiosas mundo afora.

Obviamente, alguma medida de treinamento, controle e regras é necessária. Algumas regras são vitais para o bom funcionamento de qualquer tipo de organização, pois do contrário teríamos de viver em sistemas anárquicos ou simplesmente esperar que o caos se auto organizasse dentro das mais diversas instituições do mundo.

Portanto, não seria razoável sermos contra a existência de organização e de controle em uma religião. No entanto, é sufocante fazer parte de uma “organização religiosa” de modelo legalista e de autoridade central soberana e auto eleita como único “canal de comunicação de Deus na terra”, tendo um punhado de homens de um tal “Corpo Governante” a literalmente governar e legislar perigosamente sobre milhões de vidas humanas.

As Testemunhas de Jeová não são a única religião a possuir o tipo de organização mencionada. Muitas outras igrejas que alegam ser cristãs também têm suas organizações dominadoras. Portanto, a pergunta natural que algumas pessoas reflexivas fazem é: estão as organizações religiosas neste novo milênio cumprindo seu dever cristão de SERVIR às pessoas ou usam seu poder para DOMINÁ-LAS?

Parece até que algumas religiões aprenderam de empresas comerciais, suas técnicas de persuasão e fidelização de “clientes” ou “consumidores” pois utilizam um marketing muito bem elaborado, magnético. São expedientes ou artimanhas que têm funcionado eficazmente, como observaremos nos próximos parágrafos.

Que fique claro que o objetivo dessa página é simplesmente analisar e refletir sobre os processos de domínio mental do homem sobre o homem (Eclesiastes 8:9).

Durante a leitura dessa página, que cada visitante possa por si mesmo discernir até que ponto sua vida tem sido absorvida pelas esponjas psicológicas de um cativeiro religioso e/ou o quanto já permitiu que sua liberdade individual, sua alma, tenha sido afetada.

Essa análise pretende ser apenas mais uma modesta tentativa de lembrar aquilo que o apóstolo Paulo aconselhou em 1 Coríntios 7:23: “Parai de vos tornardes escravos de homens”.

Podemos estar sabotando nossa felicidade e destruindo nossa própria identidade ao escolhermos uma religião exageradamente controladora.

Vamos alistar abaixo várias abordagens semelhantes na maioria das religiões ditas cristãs, incluindo-se aqui as Testemunhas de Jeová.

  • Controle muito além do Recomendado pela Bíblia

A maior parte das religiões controlam excessivamente a vida de seus membros lhes determinando o que é bom ou ruim e o que é condenável de se ver ou fazer no mundo hodierno. Controlam o que seus membros deveriam ou não ler, ouvir, ver, etc. Vigiam sobre a vida uns dos outros. Aqueles que se rebelam e se tornam críticos do sistema religioso, é considerado como herege ou apóstata – alguém a ser evitado. Tais membros “fracos” são postos de lado. Argumentos contrários ao sistema são combatidos e os mais intelectualizados, que vêem os erros e desmantelos do sistema religioso, do conjunto de artigos de fé, etc, são isolados, ilhados!

  • Terminologias Especiais e Jargões Impactantes que Impressionam

Terminologias tais como “doutrina sã”, “a verdade”, “verdadeira felicidade”, “mundanos”, “novo mundo de Deus”, “verdadeira igreja de Cristo”, “Corpo Governante”, etc, são termos fabricados para limitar o raciocínio e manter as rédeas do sistema sempre bem apertadas e curtas. Tais termos servem como elementos facilitadores para quando surgem questionamentos ou críticas ao sistema. Eles propiciam uma saída fácil e de certo modo, “tranquila”. Frases do tipo: “não fale do Corpo Governante, os irmãos de Cristo”, ou “não fale contra a Igreja de Deus”, “não destrua a obra de Deus”, “não se torne apóstata, cuspindo no prato em que comeu…”, etc, são recursos verbais táticos de intimidação que funcionam como algemas atitudinais, comportamentais.

  • Julgamento Adverso de Deus aos de FORA do Sistema

Os descrentes (antes apelidados de “mundanos”) — e dentre eles algumas pessoas genuinamente boas e altruístas — estão a adorar e prestar serviço sagrado aos “seus deuses” e “infelizmente” merecerão julgamento adverso por parte de Deus no dia de Seu acerto de contas.

  • Proteção Apenas aos que Estiverem DENTRO do Sistema

Condenação certa aos que desistem do sistema! Os que ousam adotar outro sistema religioso ou outro modo de vida, devem esperar garantidamente sofrer condenação divina. Por que? Porque “a obra está sob a proteção e orientação de Deus e somente os que pregam ou defendem os ensinamentos do sistema religioso estão sendo salvos por perseverarem na pregação e no serviço sagrado” do sistema.

Eis os relatos sobre como Deus está a abençoar os que se mantém fiéis, zelosos, fervorosos e cativos do sistema!

Intercâmbio de encorajamento! Que sejam então relatadas as experiências maravilhosas que dão aos demais irmãos, uma boa medida de segurança em sentido espiritual, emocional e mental.

  • Branqueamento da História da Organização Religiosa

As raízes de cada religião muitas vezes é branqueada. Em muitas delas, as origens, comumente carregadas de extremismos e erros graves, é usada mais tarde como pretexto para demonstrações de humildade e estridentes pedidos de perdão. Quando não, a história é virtualmente mudada, branqueada, justificada através de inúmeras versões suavizantes. Números, índices, dados e fatos são alterados; muitas particularidades relevantes da história são omitidas ou contadas de forma a dar uma impressão positiva ou atenuada sobre o que de fato ocorreu no passado da organização religiosa.

  • Uma Agenda Exaustiva

Tão logo a pessoa ingresse em um nova estrutura religiosa, sua agenda terá de se ajustar rapidamente aos novos compromissos. A programação semanal será sistematicamente preenchida por reuniões, visitas “fraternais” de membros “amorosos”, eventos especiais, encontros para encorajamento e louvor, e assim por diante. Os membros não podem deixar muito espaço para atividades seculares pois existe o risco do materialismo. Devem frequentar o novo lugar de adoração e cumprir os compromissos “cristãos” assumidos(?!). Agindo assim, os membros garantem para si a devida preparação e possível vitória na luta contra os desejos carnais, o engodo do mundo, o brilho ofuscante das riquezas, etc.

Cuida-se para que os adeptos tenham suas agendas lotadas e há constante vigilância para que os irmãos se engajem, se apeguem e se acostumem à rotina “cristã”, suprindo sistematicamente às exigências do sistema. Tudo isso, é claro, em prol de uma pretensa aprovação divina.

  • Unidade Através de Confissões

Os membros são persuadidos a confessar seus pecados graves e buscar conselhos. Devem reajustar a conduta para que ela se conforme aos padrões sustentados pela organização. Os pastores são conselheiros que empregam boa parte de seu tempo a tratar de falhas sérias, mesmo as de natureza íntima, pessoal, privativa, familiar e assim por diante. Quando um membro foge às regras da religião, a confissão contribuirá para seu realinhamento aos moldes ensaiados pela organização. Isso cria diferentes graus de dependência e abre espaço para maior controle sobre a vida dos adeptos; permite-se com isso que a liderança pastoral exerça forte autoridade sobre os “fracos” e os conduza através de rédeas (comumente) não bíblicas, dogmas, opiniões e interpretações pessoais, preconceitos individuais ou do próprio sistema.

  • Manipulação da Autoridade Divina (Ad Baculum)

Relatos bíblicos relacionados a fracassos humanos seguidos de punições divinas são abundantemente usados para pressionar os membros a agir em harmonia com códigos de conduta especialmente adaptados para o sistema. A ameaça de receber castigos de Deus acompanha a implantação de sentimentos de culpa em discursos eloquentes.

  • Ofertas Tentadoras

As religiões, apropriando-se das promessas, dádivas e bênçãos contidas na Bíblia, negociam cada uma delas com diferentes etiquetas de preço.

O paraíso! Quão inspirador! Mas ele não pode ser ganho facilmente. E, embora apenas Deus possa ofertar este prêmio tão valioso, prometido em Sua Palavra, as religiões apresentam ao adepto uma longa lista de tributos extra-bíblicos a serem pagos por ele. A regra é: receba seu prêmio mas primeiramente pague bem caro por ele. Em outras palavras: “submeta-se à organização/igreja Dele urgentemente e garanta seu passaporte para a felicidade eterna!”

  • Bênçãos ou Maldições – Apenas Duas Perspectivas

Os fiéis usufruem de constantes bênçãos que supostamente são derramadas em suas vidas. Novamente, entusiásticos relatos e experiências carregadas de conteúdo emotivo são amplamente utilizadas em grandes ajuntamentos (congressos, assembleias, etc).

Quão bom é “apegar-se à verdadeira fé” e “como é triste o destino dos que saem”.

E caso o membro decida sair, qualquer coisa negativa que acontecer com ele dali em diante será atribuída ao fato de não mais ter ajuda e proteção divina. Terríveis maldições podem espreitar o incauto fugitivo do sistema. Mais uma vez, exemplos bíblicos e parábolas como a do filho pródigo são fartamente dissecadas em tais ocasiões.

  • Créditos e Descréditos de Fontes – O Controle de Informação

Fontes tendenciosamente selecionadas são comumente citadas em defesa do sistema ao passo que fontes que contradizem o sistema são fortemente desacreditadas e pesadamente criticadas. Muitas vezes, essa triagem tendenciosa e comprometida leva ao controle de informações e gera no adepto uma tendência de desenvolver uma visão míope e completamente parcial dos assuntos.

  • Técnicas de Persuasão

Criação de um falso dilema, que faz parecer que há apenas duas escolhas, uma que é elogiável e a outra que é indesejável, espúria. Essa tática também é responsável pelo desenvolvimento de uma mentalidade maniqueísta – “nós versus eles”, “o bem versus o mal”, “o certo versus o errado”, “o cristão versus o mundano”, etc, sem quaisquer alternativas.

Ataque Ad Hominem (que significa “Ao Homem”). Consiste basicamente em atacar a pessoa ao invés do argumento.

Falsas analogias nas quais as similaridades existem mas não as do tipo necessário para provar as conclusões.

Provincialismo é o método empregado que apela uma tendência de se examinar crenças, raciocínios, cultura, costumes a partir do ponto de vista de um grupo particular. Grupo A versus Todos os Grupos.

Desconversar – Técnica de falar sobre irrelevâncias ou questões periféricas para distrair a atenção do leitor ou interlocutor sem que se vá diretamente ao ponto em questão.

Raciocínio circulatório – Tentativa de se provar algo sem usar fatos. Apela-se quase sempre para achismos, premissas de um sistema, paradigmas ou opiniões sem comprovação, etc. Ex.: “Minha religião é a verdadeira porque ela é a única que mostra a verdade.”

  • Teoria da Purificação (Iluminação Progressiva)

Há sempre a alegação de que a religião se purifica através dos anos de sua história e por isso demonstra que é a única orientada ou que tem o favor de Deus. Afinal de contas, Ele permite que seus servos cresçam e se adaptem aos “novos tempos”, às “novas luzes” ou “revelações”. (Deus parece, nesse caso, um ser instável/mutável, que altera Suas orientações através dos séculos a fim de se ajustar às novas necessidades, aos novos tempos e modas humanas). As Testemunhas de Jeová usam muito a citação do texto de Provérbios 4:18 como se ele justificasse o imenso número de mortos causado pelas “novas luzes”/”entendimentos” a respeito de proibições criminosas que a organização TJ impôs: transplantes de órgãos, vacinas, frações de sangue, serviço civil alternativo, transfusões ou até mesmo as especulações proféticas de 1914, 1925, 1975 que mexeram demais com as vidas de milhões de pessoas ao longo da história dela.

  • Pureza a todo Custo

Muitos são mantidos como reféns de um sistema através de técnicas intimidatórias usadas para fazer as pessoas sentirem medo das conseqüências caso aventem a possibilidade de sair do sistema. Quando tudo se torna bastante polarizado no sistema, acontece então um mergulho in/voluntário nos ensinamentos e regras dele.

Muitos temem as represálias dos pastores e a vergonha social que poderão encarar se não forem obedientes. Muitas vezes isso gera um tipo perigoso de escapismo que pode causar o desenvolvimento de dupla personalidade ou “vida dupla”. Neste ponto, o membro perde a habilidade comum de encarar os problemas da vida.