Sobre as Testemunhas de Jeová
Diálogo Surpreendente – Cid Miranda
Diálogo Surpreendente – Cid Miranda

Diálogo Surpreendente – Cid Miranda

Copyright © 2006 Cid Miranda

Sem alteração – Outubro de 2020

O que você, leitor, lerá a seguir é a parte final de um diálogo entre uma Testemunha de Jeová e 2 ex-membros da Torre. 

Essa conversa aconteceu em abril de 2006 e demorou mais de duas horas.

A transcrição ilustra o padrão de mentalidade de uma Testemunha e surpreende em trechos que evidenciam claramente como um tipo de fé baseada em uma organização humana, repleta de contradições e graves erros, leva à cegueira espiritual e à dependência psico-emocional.

O diálogo reflete o modo de falar típico da região onde ele ocorreu e o português muito informal e com erros, a intimidade existente entre as 3 pessoas.

Os títulos (abreviados) e a não identificação dos participantes (2 mulheres e um homem) funcionam como blindagem contra investigações de membros delatores da organização, essas Testemunhas que se aventuram em páginas supostamente “apóstatas”  como essa, e que se acham vacinadas contra tal “apostasia”; são TJ que corriqueiramente acessam as seções dessa página. Não há interesse em deixar pistas que conduzam à TJ que dialogou demoradamente com esses dois ex-membros.

O objetivo dessa transcrição, em razão de sua natureza elucidativa, é ajudar Testemunhas e ex-membros em vários aspectos. Cada um pode descobrir COMO. Basta ler todo o diálogo.

  • TJ: (Testemunha de Jeová)
  • Ex-m 1: (Ex-membro 1)
  • Ex-m 2: (Ex-membro 2)

TJ: (Em tom moderado) …Cadê a pregação? Vocês estão pregando sobre os propósitos de Jeová Deus?

Ex-m1: (Voz normal) Toda vez que a gente fala das coisas da Bíblia, isso é um tipo de pregação. Só não contamos mais as horas num “relatório de serviço”.

TJ: (Sarcasticamente) Quer dizer que tu pregas? Como? Pela Internet? Mas, menino! Isso é lá pregação…!

Ex-m1: Mas tu estás falando de quê? Do modelo, de dois em dois, ou do conteúdo da pregação? Se for do modelo, tu tens de lembrar que a org. tem o “testemunho por telefone”, “testemunho por carta”, “testemunho informal” e outras formas de “pregação” de que a própria “associação” fala…

TJ: (Mostrando desdém) Ai, ai… isso aí lá é pregação! Pregação é falar do Reino de Jeová de casa em casa… é uma obrigação bíblica. Agora, ficar atacando as pessoas boas de uma religião…, isso lá é pregação…!

Ex-m1: (Surpreso, após explicar o texto de Atos 20:20, acrescenta) …E quem te disse que a gente “ataca” as “pessoas boas de uma religião”?! Eu te pergunto: até que ponto a mensagem das Testemunhas de Jeová é inteiramente bíblica? Sugiro que tu reexamines essa “mensagem da Bíblia” que tu pensas que estás levando às pessoas nessa pregação. Olha…, a org. cometeu gravíssimos erros e ensinou/divulgou ensinamentos e normas que prejudicaram e ainda prejudicam milhares de pessoas mundo afora. Que bons resultados de pregação, não?!

TJ: (Irritada) Tu estás é delirando, rapaz! A organização nunca prejudicou ninguém. Tem mais, segue as regras quem quer…

Ex-m1: (De cenho franzido) Tá…! Então, revisa as proibições que ela impôs e vê se tem sido assim, “segue quem quer”! Tem a proibição das frações de sangue, do serviço civil alternativo, das vacinas, dos transplantes de órgãos, e das transfusões, e outras. Essa organização já contrariou várias vezes o texto de Atos 1:7. Fez especulações proféticas ao longo da história dela nos anos de 1914, 1918, 1925, 1942, 1975, ano 2000. Tu já pensaste no que ela se tornou ao fazer profecias pro fim?

TJ: (Careta de desdém) Ai, ai, meu Deus! Só falta tu chamares a organização de “falso profeta” como os crentes “véi” da cristandade. A organização nunca fez profecias! O Corpo Governante explica os textos mais complexos. Tu num lembra não, o que a gente diz na pregação, que “ninguém sabe o dia nem a hora”?

Ex-m1: Leeeeembro! Mas quando comecei a pesquisar melhor na literatura da org., foi muito duro ver profecias escritas nas publicações. Lembra do caso…? (Ex-m1 faz citações de artigos como os em várias seções dessa página)

Ex-m2: Tá aí…! Por conta disso aí tudinho é que hoje em dia acho essa organização uma das piores religiões do mundo. Muita gente se prejudicou por causa dessas expectativas erradas que ela criou e alimentou. Fora os ensinos errados que levaram muitos até mesmo a morrer.

TJ: (Injuriada) Oh, ex-m2, mas tu também, héin? Vou te contar…! Daqui a pouco tu vais dizer que até a Católica tá mais certa que a organização… Eu, héin?! Vocês também…!

Ex-m2: (Irritadamente) A Igreja Católica pelo menos tá mais tolerante embora tenha sido intolerante no passado, tratando como “hereges” os que discordavam dela… (Pausa breve) Ah, se a org. pudesse queimar os “hereges” que saem dela, a gente tava frito… (Sorriso leve para quebrar as tensões)

Ex-m1: (Em tom reflexivo) Além do quê, muitas igrejas mataram em tempos de guerra mas a org. mata em tempos de paz. Basta conferir os casos que já citei.

TJ: (Tom tenso, ríspido) Ô Besteira…! Coisa idiota…! Quem morreu por causa da consciência treinada na Bíblia, Jeová vai ressuscitar; num vão nem se lembrar disso. O importante é terem sido fiéis a Jeová. Ah, e o que é a eternidade comparada à essa vidinha curta da gente…?

Ex-m1: (Tom grave, desafiador) “Fiéis a Jeová” ou à organização que se auto-elegeu Dele? Tu num pensas na culpa de sangue da org.? Ela que acusa tanto as outras de “irem para guerra”, numa “não-neutralidade cristã”? Onde fica a culpa da org. pelo sangue derramado?

TJ: (De maneira nervosa) Ah, lá vem tu… a cristandade é super errada. Num tá vendo um negócio desses…? Vamos mudar o assunto porque já ficou até ridículo comparar a organização de Jeová com essas religiões ‘véas’ de satanás.

Ex-m1: (Com voz calma) É cômodo, né? Condenar o cristianismo alheio…. espalhar por aí que TODAS as religiões do mundo são “Babilônia, a Grande, o Império Mundial da Religião Falsa”. Meu Deus, tu não achas isso muita presunção, não?!

TJ: (Com sorriso vitorioso no rosto) Tu lembra é bem de tudo, né?

Ex-m1: (Retribuindo o sorriso) Leeeeembro! Ôh! E como…! Lembro também de como as Testemunhas desconhecem o lado negro da história delas porque tudo é branqueado…, enfeitadinho…! Veem só as gravuras do paraíso… recebem os tapinhas nos ombros nas reuniões, os elogios; e os estudos de “A Sentinela”?! Cheios de auto-glorificação da org. TJ..?! Por isso que Barbara Anderson, uma das responsáveis pela escrita do livro “Proclamadores”, só decifrou os erros muitos anos depois.

TJ: (Levemente irritada) Eu sei…! Mais uma “apóstatazinha” no mundo…! E tu fica é feliz, né?

Ex-m1: (Leve sorriso) Ora, essa foi mais uma pessoa que conseguiu enxergar a “apostasia” da organização. A org. é que ensina um monte de coisas fora da Bíblia, não eu nem outros que estão saindo. Só hoje eu sei o quanto é difícil assumir que a religião esteja errada depois de tanto investimento: (Mostrando com as pontas dos dedos) tempo, energia, talentos, recursos de vários tipos e… sacrifícios pessoais… É difícil ver os erros! É difícil…! A intensa programação mental, dia após dia, semana após semana, nos congressos, reuniões, estudos “bíblicos”, associação… é difícil…!

TJ: (Chateada) E por que tu num fala mal das outras religiões também, rapaz? Por que tu só sabe falar mal da gente? Ou tu só acha erro nessa de onde tu aprendeste tudo da Bíblia? Por que é que tu fica aí divulgando essas coisas contra a gente?

Ex-m1: (Expressão de surpresa) Mas… de novo? Eu já te disse que não falo de pessoas individuais. Não sou bobo! Seria anti-ético, até. Para mim, basta esclarecer os fatos reais baseados na própria literatura da org. Tudo de errado nos ensinos e práticas da org. eu só mostro a quem ouvir, é claro, porque É MUITO DIFÍCIL uma TJ juntar tudo, peça por peça, erro por erro, e chegar ao conjunto inteiro de erros graves da org. A TJ lê uma coisinha contra a org. aqui e acolá, mas logo dá de ombros e pensa que é só aquilo ali. Mas o conjunto de erros é enorme, suficiente p/ uma pessoa honesta largar tudo…

TJ: (Pose de soberba e desprezo) Se saiu é por que não pensou na adoração de Jeová… Isso é que importa…

Ex-m1: (Agitando-se na cadeira) O que a org. mais quer é que a pessoa que sai dela se sinta indigna, suja, iníqua, impura pra Jeová quando ela, a org., é que nem é digna nem pura como pensam os membros dela. Ela não tem moral para expulsar ninguém… O passado e o presente dela a condenam… (pausa e continua agora em tom jocoso) As publicações dela… tão cheias de valores morais e de decência…, princípios da Bíblia…, mas que autoridade ela tem…?

TJ: (Com pesado sarcasmo) Ah, e tu é o puro, né?! Mas rapaz…! (Ironizando) Agora tu virou o defensor da verdade…?!

Ex-m1: (Com ênfase, nervosamente) Ah, tudo que desonra a Deus, eu exponho mesmo…! E quando tu vais “ao campo”, tu pensas que fazes exatamente isso, né, não?! Tu achas que estás alertando as pessoas para saírem do “erro religioso”, né, não?! (e acrescenta imitando ironicamente a voz de um idoso guru) “Saí dela povo meu…!”

TJ: (Corta ex-m1 e diz cheia de si) Num tenho dúvida que levo “a verdade” para as pessoas “no território”. Combater ensinos errados como “Trindade”, “inferno de fogo”, e outros, é obrigação do cristão. (Pausa breve e franzindo o cenho, questiona) Mas tu ainda não me respondeste porque não falas mal das outras também…

Ex-m1: Menina, as “outras” têm seus críticos aos milhares – tu, por exemplo és uma. Ademais, é essa religião aqui q/ eu conheço bem, que “servi” enganado. É essa que prejudica minha amizade contigo, de quem eu gosto tanto, e com pessoas que ela fez que me odiassem. As outras orgs. não me prejudicam. Essa, sim. E é essa que se auto-recomenda como a única que é “de Deus”, “orientada pelo espírito santo” Dele. É essa que atira pedras no telhado do vizinho mas num quer que ninguém jogue no dela. Engraçado…!

TJ: (Tom nervoso, agitando-se na cadeira) Ora, ela É MESMO “a verdade”. Eu CREIO que Jeová orienta minha religião…, os ungidos. Sinceramente, tu nem devia criticá-la porque tu passou 20 anos nela. Às vezes eu NÃO entendo como é que tu tens coragem para falar mal… É por isso que teus irmãos carnais (e outros que te conheceram) têm raiva de ti…

Ex-m1: (Chateado) Ah, mas pera aí, se ela critica TODAS as religiões do mundo e coloca todas “num só rebanho de condenados”, então que esteja preparada para receber escrutínio, críticas também, não achas?

TJ: (Vociferando) Ruuuuuum…!

Ex-m1: …E quem pode fazer isso senão quem já esteve tanto tempo na estrutura dela e a conhece bem? Tem mais…, eu me vejo numa obrigação moral de me defender porque ela me chama de ”apóstata”. Tem termo pior do que “apóstata” na Bíblia…? É osso um negócio desses…!

TJ: (Rindo nervosamente) Vingancinha, né…?!

Ex-m1: (Devolvendo o sorriso) Nãããâo…! De jeeeeito nenhum…! Mas… você há de convir que tenho de provar que ELA É QUE É APÓSTATA e não eu. Ela é que vai MUITO “além do que está escrito”?! Né, não?!

Ex-m2: (Voz paciente) Ela DETESTA críticas, TJ. Sabe por quê? Para controlar as informações pois sabe que, se pessoas como você estiverem bem esclarecidas e informadas, terminarão com dúvidas como tivemos… e depois vão querer sair também…

TJ: (Voz alterada, enfática) Eu jaaaamaaaais vou sair da organização!!! Pra tu teres idéia, mesmo que hoje eu descobrisse que tudo isso que vocês estão dizendo é correto, mesmo assim não sairia. Mesmo que a org. mudasse a doutrina do sangue, por exemplo, eu num sairia.

Exm2: (Tom calmo, como se estivesse com pena) Ela jamais vai mudar TJ, porque os processos judiciais acabariam com ela. Quem já perdeu um ente querido num ia ficar calado. Igrejas já faliram por causa de processos…

TJ: (Tom impaciente) Pois eu daqui num saio… gosto das regras, adoro minhas reuniões, meus irmãos, gosto de tudo…

Ex-m1: Como é que tu gostas das regras se… (citando exemplo muito pessoal)

TJ: Ah, isso foi horrível mesmo… (comentários longos) Nunca vou esquecer… (a TJ se contradiz no relato).

Ex-m1: (Tom amigável) Mas tu não gostas das normas, menina? Essa outra TJ estava só seguindo as regras quando… (assunto pessoal)

TJ: (Irritadíssima com a lembrança) Vamos mudar de assunto porque eu já tive um problemão por conta disso.

Ex-m2: Olha aí… O “problemão” foi causado pela existência das normas humanas.

Ex-m1: Pior que esse “problemão” é saber que pessoas morrem por causa das normas da org. como a do sangue…

TJ: Ex-m1, tu estás tão desinformado em relação ao sangue, rapaz! (Desdenhosamente) Tem médico fazendo cirurgias sem sangue e tu fica falando aí essas bobagens! É uma ignorância tua e das pessoas apelarem p/ questão do sangue quando o mundo está tão avançado nesse assunto…

Ex-m1: (Baixando a cabeça) Tá certo. Digamos que o sangue não fosse mais um transtorno p/ organização, (levantando a cabeça e fixando o olhar na TJ) o que dizer dos que morreram por causa dele e de outras questões como a proibição de transplantes de órgãos por 13 anos (1967-1980)?

TJ: (Sem hesitação) Já te disse: para Jeová ressuscitar quem foi fiel a Ele, não vai ser nada demais. E eles terão a eternidade…

Ex-m1: (Estampando surpresa) E o Corpo Governante que ensinou isso e outros erros? Como fica?

TJ: (Careta de aborrecimento) Ah, que idiotice! Jeová permitiu erros nos tempos de Moisés e de outros servos fiéis na antiguidade. Na organização hodierna Dele num é diferente. Ora, que besteira essa tua…!

Ex-m1: Não sei onde tu vês “besteira” quando vidas foram perdidas. Isso que tu dizes é exatamente o que tu condenas quando outras religiões do mundo argumentam nessa mesma linha de raciocínio…

TJ: (Tom vibrante, nervoso) Rapaaaaz, eu gosto muito dos meus irmãos espirituais, dos amigos que tenho dentro da organização, do modo de vida, DE TUDO! Eu AMO a organização de Jeová!!! Quero ir para o paraíso com meus irmãos/ãs. Não posso falar pelo Corpo Governante e por outros irmãos, por ninguém, enfim. Não meto mais a mão no fogo por ninguém.

Ex-m2: Pois é… Mas a (nome de outra TJ) foi dizer que tinha pena da gente porque a gente não iria mais pro paraíso por “estarmos afastados de Jeová”. Quem é ela para julgar e condenar? Por acaso é ela que tem as chaves do paraíso? É ela quem determina que entra e quem não entra? Acaso não é Jeová quem decide quem sobrevive ao Armagedom? Ainda mais essa, uma “juíza de Jeová”…!

TJ: (Ajeitando-se na cadeira e mostrando irritação) Ah, isso eu também acho. Eu hoje só falo por mim, minha filha. Mas tu ainda acreditas na Bíblia…, nas coisas de Jeová?

Ex-m2: Fé nas coisas de Deus, sim, mas nos homens que se dizem orientados por Ele, claro que não!

TJ: (Com largo sorriso vitorioso no rosto) Tu dizes isso tudo mas sai falando mal de Jeová…

Ex-m2: (Espantada) Quem te disse isso? Ninguém aqui fala mal de Jeová. Sabe qual o problema das Testemunhas de Jeová? CONFUNDEM JEOVÁ COM ORGANIZAÇÃO! Falar mal dos erros da org. não tem nada a ver com falar contra Jeová.

TJ: (Em tom de revolta “solene”) Ah, mas para mim falar mal da organização de Jeová é igual a falar mal Dele… Eu tenho certeza que estou na organização que Ele dirige e aprova. (pausa breve) … (TJ agora fala baixo em tom de reflexão e desânimo) Só hoje eu vejo como estamos distantes… e divididos…! E eu… que tinha certeza de que um dia vocês voltariam para organização de Jeová…

Ex-m2: (Irritadamente) A divisão é culpa dessa religião. Para mim os frutos falam mais alto, tá?! Jesus disse que pelos frutos a gente ia saber se a árvore era boa ou imprestável. Uma organização que afasta as pessoas desse jeito e acusa de “apóstata” quem discorda dela, não pode ser de Deus porque Deus é amor. O amor é o fruto principal do espírito de Deus e ela pratica o contrário desse amor… Eta religiãozinha “injusta, anticristã… e desamorosa”!!! Quanto a voltar, Deus nos livre de uma loucura dessas…!

Ex-m1: (Com ênfase) No dia em que entreguei minha carta de dissociação eu tinha mais certeza do que estava fazendo do que quando me batizei, sem saber de um monte de coisas. Hoje eu sei que essa NÃO É, NUNCA FOI, a org. de Deus!

Ex-m2: (Exasperadamente) Como pode uma organização ser de Deus se a pessoa entra e depois não pode sair simplesmente dizendo: “olha, pessoal, mudei de idéia. Não concordo mais. Vou sair mas vamos continuar amigos. Não vamos falar mal uns dos outros, ok?” Ao contrário, não há acordo algum. Ela instila ódio nas pessoas contra a gente. Rotula todo mundo que sai de “filho do diabo”, de “apóstata”, de “leprosa espiritual” e de outras coisas horríveis. Isso lá é coisa de Deus…!

TJ: (Mecanicamente) Mas ex-m2, a Bíblia diz para “remover a pessoa iníqua” do meio…

Ex-m2: (Em grande espanto com a declaração) Ah, então eu sou uma “pessoa iníqua”? E o (ex-m1) também? A Bíblia diz para “não ter associação com ninguém que se chamar irmão que for extorsor, beberrão, adúltero, etc”. Tu achas mesmo que a gente é TUDO ISSO AÍ? Que a gente se enquadra nessas coisas?

TJ: (Em tom mecânico, robótico, “teocrático”) A Bíblia manda que a gente nem cumprimente quem sai do meio cristão…

Ex-m1: TJ, 3 João 9-11 diz que não devemos cumprimentar quem não traz “O ENSINO DE CRISTO”. O ensino de Cristo não tem a ver com os ensinos da organização – Jesus empossado Rei em 1914, voltando de modo invisível em 1914, aprovando a org. em 1919 com o Pai Dele, 144 mil Testemunhas “ungidas” indo pro céu reinar com Cristo, fora as profecias se cumprindo exatamente nessa organização [como a das “duas Testemunhas de Revelação” que eram, — imagine quanta bobagem! –, os sete diretores da org. presos em 21 de junho de 1918] – ah, e tantos outros mitos…

TJ: (Expressando cautela) Rapaaaz! Cuidaaado…! (Mudando para um tom de sarcasmo total) Vem cá…, agora tu virou o “escravo fiel e discreto” é?

Ex-m1: (Sorrindo levemente) Deus me livre de cometer uma apostasia dessas! Deus me livre de uma blasfêmia desse tamanho!

TJ: (Com voz de “fada-madrinha”) Rapaaaz, como é triste ver que tu esqueceste tudo de bom que a organização te ensinou, tudo que tu aprendeste sobre Jeová…! Como estás cego…! E o que é pior, cegou essa aqui também..

Ex-m2: (Cortando exasperadamente) Meniiiina! Tu tá me chamando de “burra”? Tu achas que eu não sou capaz de discernir as coisas? Eu, héin? Quando eu tava na org., mesmo nas minhas fases mais “teocráticas, eu já tinha mil dúvidas. Era muita interpretação, meu Deus…! Eu vivia dizendo isso pro ex-m1. Apenas vi muito mais e resolvi sair desse barco furado.

Ex-m1: (Calmamente) Olha, eu não estou cego, não. Tudo que está na Bíblia, continuo enxergando… e bem… e crendo. SÓ O QUE TÁ NA BÍBLIA! Mas muitas outras religiões ensinam coisas que estão na Bíblia também… mas impõem também seus próprios conceitos humanos. Em todo lugar há o joio e o trigo, o lado bom e o podre, os enganados e os enganadores. Portanto, não devo à org. TJ. (Pausa breve para refrigerantes) Ela deve a mim. Eu também ajudei essa organização crescer. É claro que aprendi coisas da Bíblia mas teria aprendido na Adventista, na Batista, noutras religiões também – coisas certas e coisas erradas. Só que essa aqui me enganou em grau maior do que [mesmo] ensinou a Bíblia… e tem mais: hoje pago um alto preço.

TJ: (Resmungando) Ruuuuum…!

Ex-m1: Digo mais: o (outra TJ) ficou chateado quando eu comecei a questionar o Corpo Governante. Ora, eu tinha de questionar a fonte de tudo que eu cria, o CG. No dia que uma TJ questiona essa fonte de TUDO que pensa como sendo “de Deus”, no caso o CG, ela começa a “sair” da organização por percebê-la de homens, não de Deus. O (TJ em questão) se irritou mas ele mesmo, quando teve dúvidas sobre a mudança de 1995 (Geração de 1914), falando abertamente comigo, criticando a org., e dizendo que o “CG havia, mais uma vez, adiado o Armagedom”, eu ouvi e respeitei a atitude dele. Só que ele podia ter dúvidas, eu não… Engraçado, não?!

TJ: Isso aí não me interessa. Vocês sempre tiveram as diferenças de vocês. Mas tu saíste para causar esse transtorno todo…

Ex-m1: Saí por motivo de consciência. Consciência e liberdade caras. Não poder, por exemplo, me associar contigo livremente, com teu marido e com outras pessoas que sei que gostam de mim, e eu delas, é culpa dessa religião autoritária. Mas não exponho as coisas vergonhosas dela [como as audiências judicativas sem precedentes na Bíblia], por vingança mas por obrigação moral, e porque tenho desejo de alertar outras pessoas para elas não saírem nessa armadilha…, ou então saírem dela…

TJ: (Expressão de quem está com muita pena) Ai, ai… que coisa horrível! (Olha para ex-m1 com dó). Isso é ridículo, meu Deus…! Já vi que não adianta esse nosso papo…

Ex-m1: …Denuncio tudo para quem quiser ouvir porque sei que há OS QUE nem querem saber mesmo de nada, que não estão nem aí para a verdade dos fatos. Não querem “mexer no que está quieto”. Agora…, eu não saio atrás de ninguém como já disseram de mim por aí, héin?! Disponibilizo a informação de alguns modos e vem a mim quem quer saber dos fatos. Para dizer mais, tenho até cuidado em eleger o público para quem falo… eu sei a dimensão do padecimento emocional!

TJ: Eu seeei…! (ex-m1), “O Bondoso”…! (Risos)

Ex-m2: (Falando com segurança) …E é uma armadilha mesmo! E o que é pior, quando a gente vai se batizar, não sabe de um monte de coisas como por exemplo, sobre como funciona a desassociação/dissociação. Foi por isso que eu não deixei meus filhos (nomes) se batizarem e a (nome de outra TJ) ficava insistindo para eu motivar meus filhos ao batismo. Eu dizia para ela e o marido dela que o próprio Jesus deu o exemplo ao se batizar aos 30 anos. Eu sempre achei isso e tivemos acaloradas discussões com (nome do casal TJ) sobre essa questão. Se o batismo é uma decisão tão séria para um adulto, imagine pra um adolescente. Eu, héin?!

TJ: (Serenamente) Não, sobre isso eu confesso que também quero que meus filhos só se batizem quando tiverem certeza do que querem… mais na frente…

Ex-m2: (De modo admoestador) É…! Tenha cuidado! Essa religião é desumanizante. Se eles se batizarem logo e depois mudarem de opinião… Tu sabe, né? (Breve pausa) O fato é que Jesus deu o exemplo de que o amor é que importa ao curar no sábado, mesmo com a lei dizendo “não”. Mas, para a organização, as leis, as regras são mais importantes que o amor.

TJ: (Categoricamente) Eu sou a favor que existam regras e tento seguir a todas… (rindo-se) quebrando só essa falando com vocês dois… Tem de ter normas…! E… doutrinas e elas que fazem o conjunto da verdade de Jeová. Ou tu achas que Jeová não tem um “povo escolhido” para herdar o paraíso?

Ex-m1: (Tom firme, convictamente) Jeová vai tirar esse povo de várias religiões. Quanto às doutrinas, “Deus não levará em conta o tempo da ignorância” de muitos… Há muita gente que está na “ignorância” mas poderá ser salva. Russell, que fazia coisas “erradas” do ponto de vista da “verdade atual” da org., poderá ou não ser salvo?

TJ: (Arrazoando) Sei lá…! Como eu disse, não vou julgar ninguém. Faço a minha parte, divulgando gratuitamente as “Boas Novas”. Ouve quem quer…

Ex-m2: De graça, não. E o alto preço das regras rígidas que são como cargas pesadas nos ombros das TJ?

Ex-m1: “Gratuitamente”, tu disseste? Não me parece “gratuito” pedir donativos e os membros também contribuírem pela literatura… além do quê, a organização não paga impostos sobre essa literatura…

TJ: (Balançando a cabeça de um lado para o outro) Meu Deus…! Tu agora achas que a org. tem interesse em dinheiro, rapaz? Como estás cego, héin? Desaprendeu tudo?

Ex-m1: (Mantendo o tom calmo mas firme) A org. tem um altíssimo faturamento em cima de tudo que publica, embora esteja encarando redução de despesas como há pouco – a “Despertai!” agora é mensal (e não quinzenal como era), a Bíblia de capa de luxo deixou de ser impressa e o papel usando em algumas publicações é reciclado – ecológico não?! – redução no quadro de Pioneiros Especiais…, Superintendentes…, enxugamento de despesas nos Betéis… e por aí vai…

TJ: (Com espanto) Eta, mas tu estás é informado…! Por isso que tu és perigoso, viu?! Fica aí… se informando de tudo e tentando, com essa conversinha mansa, lançar dúvidas na cabeça das pessoas… é muita… (não completa a frase) sei não… tu pensa então que mais de 6 milhões de pessoas (referindo-se às Testemunhas) são burrinhas, né?!

Ex-m1: E os mais de 6 bilhões de outras pessoas, de outras religiões? Os mais de 2 bilhões de muçulmanos, budistas e hindus? São “burros”? São “inteligentes”?

Ex-m2: “Não podemos parar de falar das coisas que vimos e ouvimos”, assim como os seguidores de Jesus. Afinal de contas, por que a “verdade” de vocês deveria temer a suposta “mentira”?

(Diálogo brevemente interrompido por alguém)

Ex-m1: E só vou te dizer mais uma coisinha: a escolha religiosa, A FÉ ou o fervor religioso da pessoa não têm nada a ver com inteligência ou “burrice”. Pense naqueles terroristas que tomaram os aviões e se jogaram contra as torres gêmeas no onze de setembro de 2001, em NY, EUA. Eles eram seres humanos capazes, “inteligentes”. Aprenderam outra língua, estudaram fora do país deles, foram supostamente aculturados, expostos a outro modo de vida. No entanto, eles tinham certeza de que estavam com a “verdade divina”. Pela fé eles tinham certeza de que seriam recebidos no paraíso… de Alá…

Ex-m2: (Em tom melancólico, triste) É uma pena a religião ter dividido a gente assim, sabia? Não da nossa parte. Jamais! Nós gostamos muito de você e você sabe muito bem disso.

TJ: Eu também gosto demais de vocês mas hoje eu vi como a gente tá distante…! É uma pena mesmo…!

 

— A conversa ainda seguiu outros rumos e terminou num clima amigável pouco tempo depois. Contudo, aos 3 participantes, restou a certeza de que estavam em dois mundos distintos, separados tão-somente pelas crenças e mitos da Torre de Vigia, embora plenamente convencidos do amor mútuo que continuam compartilhando até hoje quando releio esse post em outubro de 2020, 14 anos depois dessa conversa reveladora do poder da programação mental da Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová.