Sobre as Testemunhas de Jeová
Uma Visita para Agradecer a um Amigo Maravilhoso – Cid Miranda
Uma Visita para Agradecer a um Amigo Maravilhoso – Cid Miranda

Uma Visita para Agradecer a um Amigo Maravilhoso – Cid Miranda

Copyright © 2010 Cid Miranda

Atualizado em 14/05/2022

Gotas de uma chuva fina, embaladas por um frio intenso, caíam preguiçosamente desde os céus de Atlanta, EUA, na madrugada do dia 22 de novembro de 2009 quando minha família e eu desembarcamos para uma visita deveras especial a um casal muito querido. Após cumprirmos todos os procedimentos normais de chegada no país, deixamos o aeroporto e por volta das 8h40min, o tempo frio foi mitigado por uma acolhida bastante calorosa e gentil de Raymond Victor Franz que nos recebeu na entrada de seu modesto e muito aconchegante lar. Estávamos cansados por causa das muitas horas de vôo, seguidas da pequena “viagem” até o endereço dele, mas ao vermos a expressão de felicidade do casal em nos receber na casa deles, e diante da polidez e hospitalidade de Raymond Franz, 87 anos e de sua esposa, Cynthia Franz, 74 anos, sentimo-nos completamente revigorados e logo uma súbita alegria contagiou a todos. Minha esposa, Silene, minha filha Priscila, meu filho Joel e eu fomos acolhidos como nos tempos bíblicos cristãos, quando a demonstração de amor e hospitalidade era um padrão recorrente. (Romanos 12:13b)

Foi uma manhã realmente maravilhosa!

Na foto a seguir, Raymond Victor Franz, Priscila Miranda e Joel Miranda:

Aquela visita havia sido aguardada por muito tempo com alegre expectativa em nossos corações cheios de apreço e gratidão pela pessoa daquele homem cujos escritos tiveram um papel revelador e um impacto libertador, modificador, na forma de adorar a Deus. As Testemunhas de Jeová e ex-membros da organização TJ que já os leram sabem o quanto os dois livros, Crise de Consciência e Em Busca da Liberdade Cristã, além de informativos e esclarecedores de questões essenciais na vida de uma TJ, possuem uma natureza especialmente educativa, cândida, didática e definitivamente elucidativa. Ambos foram traduzidos por William, meu cunhado, e eu:

Tão logo entramos na casa de Ray, entabulamos uma conversa divertida sobre um bom número de assuntos. Pouco depois, Cynthia nos chamou para um Brunch (Breakfast + Lunch), uma refeição bem americana. Na foto abaixo (depois da refeição), da esquerda para direita: Andrey Zorine (um amigo, tradutor dos dois livros de Ray para o Russo), Raymond Franz, Joel, Silene, eu e Cynthia (à mesa):

Após a oração de agradecimento ao Criador pela farta comida à mesa e do compartilhamento de tantos itens saborosos, amorosamente servidos, começamos a conhecer mais detalhes da vida de Raymond e Cynthia através de um álbum com dezenas de fotos antigas de vidas dedicadas a servir à organização religiosa que ambos adotaram por tantos longos anos como “a única religião verdadeira”. Testemunhamos também a lucidez incrível daquele homem que falava das recordações de família e de ex-companheiros daquela fé dentro da estrutura da organização TJ, e descrevia detalhadamente como muitos haviam reagido à saída deles do movimento religioso. Na foto abaixo, Raymond, Priscila e eu, nesse instante memorável:

Ao passo que ele explicava sobre pessoas e lugares nas fotografias antigas em preto e branco, imaginei pela enésima vez, o quanto ele havia demonstrado coragem, determinação e sinceridade ao expressar suas opiniões e posições antagônicas às de seus companheiros do Corpo Governante (a cúpula do poder eclesiástico das Testemunhas de Jeová), quando chamado para julgamento por algozes enviados por eles mesmos. Digno de nota, ele NÃO havia saído por algum motivo biblicamente condenável. Assim, pensei mais uma vez: “tivesse Raymond desejado todo o destaque e proeminência que aqueles homens do CG usufruem até hoje, ele certamente teria silenciado covardemente e continuado ali sem mexer no que estava quieto”. No entanto, ele optou por sair por motivo de consciência aos 59 anos (em dezembro de 1981), uma idade em que muitos contemplam uma aposentadoria e, no caso de membros do CG, uma vida de muitos mimos, completa segurança financeira, uma situação material bastante confortável, tranqüila. Portanto, esse fator espantoso me vinha à mente naquela hora, pois tendo estado encastelado no mundo TJ por toda uma vida, ele teria de sair do casulo TJ para enfrentar um mundo desconhecido, assustador.

Quão alto é o preço da liberdade!

Como Raymond iria sobreviver, entrar no mercado de trabalho secular, sustentar a si e esposa e assim por diante? O caminho foi encarar o trabalho pesado num terreno de um amigo que também havia saído da organização TJ, ao passo que escrevia seu primeiro livro, usando o dom e o treinamento como escritor (o tio dele, Fred Franz, também era escritor da Torre de Vigia). Ele utilizou esse talento com altruísmo ao compartilhar sua experiência e conhecimento para, diferentemente de muitos que saem da org. TJ e passam a cuidar apenas de assuntos de seu próprio interesse pessoal, ajudar pessoas a entender a poderosa programação e o bem elaborado controle mental aos quais um noviço (apelidado de “estudante da Bíblia”) é submetido quando da doutrinação (ou treinamento) até o batismo TJ.

Às vezes, alguns perguntam a ele a mim e tantos outros que saíram da organização religiosa TJ, sobre o motivo de termos passado tantos anos ali dentro, e só bem mais tarde tomarmos a radical decisão de sair definitivamente de lá. Tais pessoas parecem não entender que tanto o processo de entrada como o da saída de uma religião fechada como a da Torre, não ocorrem da noite para o dia, e que o fato de alguém acreditar em algo por muitos anos não significa que não possa algum dia questionar as crenças e submeter a própria fé ao escrutínio, principalmente se essa fé é tomada emprestada de um punhado de homens que se dizem o “único canal de comunicação de Deus”, uma fonte “orientada pelo espírito santo de Deus”. Apenas quando se compreende quão tolo é crer nos mitos TJ, fica mais fácil encarar a natureza humana dos ensinos TJ e então entender que a decisão de sair pode ocorrer em algum período da vida, mesmo da vida de alguém muito “teocrático”, institucionalizado ou condicionado pelo pacote religioso. Não compreendem o tamanho do controle de informações, a dimensão psico-emocional das intimidações, o enorme peso da internalização dos medos implantados nas mentes de uma TJ ao longo de muitos anos (medo de perder amigos e parentes, a vida eterna, a aprovação de Deus, etc), pois toda a doutrinação é exaustivamente repetida reunião após reunião a fim de fazer a TJ achar que a esperança, a vida eterna, as promessas bíblicas, a ressurreição, a amizade com o Criador, etc, são propriedades exclusivas da organização das Testemunhas de Jeová e apenas por se manter totalmente fiel a ela, conseguir-se-á tudo isso e, por fim, a salvação no Armagedom, i.e., a guerra ou confronto final de Deus com todos os iníquos.

Independentemente de quantos anos se passe ali, as grandes ilusões das crenças puramente humanas podem ser finalmente confrontadas com a verdade dos fatos e a pessoa não mais querer fazer parte de tudo que antes advogava como “a verdade”. Para nós, isso só foi possível porque tivemos acesso aos livros de Raymond Franz. Como assim? William e eu éramos anciãos fiéis à organização TJ até janeiro de 1998 quando lemos casualmente sobre ele na Internet; apenas alguém com as credenciais dele poderia ter chamado nossa atenção por alguns decisivos minutos. Por quê? Porque ele havia estado entre aqueles mesmos homens do CG, e, portanto, possuía informações muito especiais, de primeira-mão, e documentos irrefutáveis além de conhecer fatos inquestionáveis, inquietantes, que finalmente nos mostraram quão fútil, instável, inconstante e perigoso era o pacote doutrinário de muitos artigos da fé TJ e dos elementos que vão (muito) “além do que está escrito”. (1Cor. 4:6).

Nessa visita inesquecível, expressei meus mais profundos sentimentos de gratidão por todas as informações disponibilizadas por ele, Raymond Franz, em dois seus livros, e disse para ele que, hoje em dia, eu já podia seguramente contabilizar (desde outubro de 1998, quando saí), centenas de pessoas que também se expressavam dessa mesma forma em relação aos livros dele no Brasil e em outros países. Daí, já ao final dessa inestimável e preciosa visita, afirmei convictamente para ele que minha família e eu éramos muito felizes com a escolha de uma saída bem estudada, consciente, e em caráter irrevogável, da organização da Torre de Vigia e que, naquele exato momento, estávamos muitíssimo felizes em estar ali pessoalmente para agradecer a enorme contribuição que ele havia dado a nós e a uma incontável multidão de pessoas que deixaram para trás um passado de fé subserviente em homens, uma coisa contra a qual a Bíblia adverte fortemente em 1 Cor. 7:23.

Muito obrigado, meu grande, bondoso e inesquecível amigo!

Foi um grande privilégio ter conhecido você, ter sido seu amigo e de sua esposa querida, Cynthia Marie Badame Franz (15.08.1935 a 29.12. 2013, faleceu aos 78 anos). Meu tributo a vocês dois, amigos maravilhosos!

Casamento em 1959

Fotos: final dos anos 90 e em 2009, aniversário de 50 anos de casados

Cynthia Franz, Silene e Priscila Miranda na visita descrita acima.

Ray, eu e Silene, minha amada esposa

Joel (sentado), Silene, Andrey Zorine, Priscila e Raymond Franz.

 

  • Mais considerações (postadas nessa página no dia 04/03/2010):

Mesmo quando alguém valoriza a liberdade cristã e nutre verdadeiro amor ao próximo, ao Criador e à Palavra Dele, encarar as intimidações e pressões na saída de uma religião totalitária como a da Torre de Vigia, exige muita coragem, anelo mental e zelo pela verdade, e tudo isso aliado a uma total rejeição às transgressões do ponto de vista bíblico, pois sair de uma religião não significa afastar-se de Deus e do que aprendeu na Bíblia como condenável aos olhos Dele. Em quase toda religião dita cristã, o adepto toma conhecimento de práticas que Deus condena. Assim, uma Testemunha de Jeová honesta e em rota de colisão com ensinos humanos que desonram a Deus busca, antes de tudo, “andar decentemente como em pleno dia”, não precisando cair num “mundanismo” de condutas desenfreadas, desaprovadas por Deus. (Romanos 13: 13,14) Sua sinceridade também se apóia em fatos contra o legalismo exacerbado, o autoritarismo asfixiador e fundamentalismo religioso da Torre de Vigia, e isso motiva uma Testemunha esclarecida a se tornar mais amante de Deus, apegando-se completamente aos ensinos do Criador, e não aos mandados de suas criaturas errantes. As provas contundentes de que aquela NÃO É “a religião verdadeira”, libertam-na das mentiras, dos sofismas teológicos bem elaborados e de falsos dilemas criados pela programação mental da organização TJ, mas NUNCA do amor à Palavra de Deus e dos passos do grande instrutor, Cristo Jesus. (João 14:6)

Plenamente munida de provas documentais contra a suposta “verdade” da Torre de Vigia, a pessoa faz então a escolha de abandonar o movimento religioso de modo mais tranqüilo e seguro. Todavia, é preciso ter convicção de que está tomando uma decisão correta diante do Criador, pois esse é o passaporte para um recomeço mais equilibrado e também o modo mais sereno e sóbrio para essa pessoa garantir que jamais se arrependerá desse passo importante na vida. Para que tudo isso? Simplesmente porque sem estar de posse de informações vitais, fidedignas e verdadeiras sobre os graves erros da organização TJ, a doutrinação religiosa da Torre de Vigia, como uma virose recorrente, pode atacar novamente e a pessoa certo dia se surpreender consigo mesma pensando que abandonou a organização “pura e verdadeira de Deus” e, pasme o leitor, que ela saiu de lá porque ela era “indigna” de estar ali. Ora, a pessoa que sai de uma religião como a Torre de Vigia deve ter certeza de que sua saída é correta em todos os sentidos e que a religião TJ, sim, ela é que é indigna dessa pessoa que sai. Tal pessoa precisa estar plenamente segura das informações obtidas, que essas sejam confiáveis, pois o emocional dominante bem no início do processo de saída, assemelha-se a lutar contra uma forte correnteza, tendo em vista que tal saída acarreta perdas imediatas de amigos de longas-datas (que ficam proibidos de sequer dá “oi”) bem como de parentes queridos que se afastam totalmente. Tudo isso sem falar do tempo investido (muitas vezes os melhores anos de uma vida). Sobre essas perdas, aplico aqui o que dizia Herbet Marcuse, filósofo alemão (1898-1979): “o tempo não cura nada, mas tira o incurável do foco central”. Funciona assim para maioria que abandona a organização por motivo sincero de consciência: o tempo realmente tira o foco das perdas, pois o que está em jogo são a consciência e integridade moral diante não apenas dos homens e de si mesmo, mas do próprio Criador. Ficar ali por mais tempo por medo ou por mera acomodação pode significar viver debaixo do manto da hipocrisia, do cinismo e do fingimento.

Alguns com quem falei pessoalmente e que saíram por motivo de consciência, disseram-me que durante sua saída da org. religiosa, sentiram-se como tendo “perdido” pais, mães, irmãos-carnais queridos, etc, ainda em vida, pois tais parentes os trataram a partir dali, como mortos-vivos, banindo-os da bolha de aconchego familiar, discriminando-os e rotulando-os de “apóstatas”, “filhos do diabo”, “porcas lavadas que voltaram a revolver-se no lamaçal”, e de outros bichos medonhos. Contra todo esse julgamento pesado e injusto, bastou que eles se lembrassem do registro balsâmico do Apóstolo Paulo em 1 Cor. 4:3-5.

É nesse ponto que a vida de Raymond Franz nos dá uma lição de imensurável valor: não podemos rebater a intolerância com intolerância (como fizeram os que nos rejeitaram), mas expor, prevenir e alertar as pessoas sobre os perigos do legalismo e fundamentalismo religiosos ao passo que reaprendemos a andar com os próprios pés, começando muitas vezes do zero, sabendo que a decisão (de sair e jamais voltar) foi criteriosa e baseada tão-somente na consciência cristã; que se usou a capacidade crítica, não mais se entregando ao papel de tolos, indigentes na fé, escravos de mais uma barbárie teológica e doutrinária de homens ‘enfunados de orgulho’, travestidos de “agentes de Deus” e que se arvoram de “canal de comunicação” do Criador, dentre outros arquétipos com títulos altissonantes. (Mateus 23:3,10-12 e Mateus 15:9)

Encharcada de humanidade, solidariedade e humildade, a Testemunha de Jeová em rota de colisão com os ensinos de sua religião deve enfrentar os verdadeiros dilemas de consciência com força além da normal, confiante no “Deus de amor” (1 João 4:8), pois Ele cuida amorosa e ternamente de cada indivíduo, fazendo-o sobrepujar as intempéries e vencer o ordálio imposto pela religião e ex-companheiros de fé. Essa fortaleza, a consequente superação e vitória são demonstradas nas vidas de milhares de pessoas mundo afora, e nessa seção específica de minha página, indubitavelmente provadas pelo exemplo de resiliência desse casal, Raymond e Cynthia Franz.

Nota de Falecimento (Dia 3 de junho de 2010):

Infelizmente, na manhã do dia 2 de junho de 2010, perdi esse grande e inesquecível amigo. Ray se foi e sua perda é irreparável para todos os que o conheceram. Raymond Franz foi um homem singular, inteligente, sincero, íntegro, marido exemplar, cristão honrado e muito amoroso com todos e, sem sombra de dúvida, um profundo conhecedor das Escrituras Sagradas, que tinha enorme amor e reverência pelo Criador e Seu filho, Cristo Jesus.

Raymond Franz foi também um dos maiores conhecedores de todo o funcionamento da organização da Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová e seus dois livros provam isso, servindo como sentinelas contra o autoritarismo e desvios da Palavra de Deus, a Bíblia.

Ray nunca se interessou em fundar um novo grupo religioso. O maior interesse dele era simplesmente ajudar pessoas a conhecerem as Escrituras, aprendendo delas com o propósito de usufruir uma consciência limpa diante de Deus, andando fielmente nas pisadas de Jesus, e apenas de Jesus que é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6), sem qualquer intervenção de seres humanos ou de qualquer religião que se afirme como único “canal de Deus”, mediadora da relação entre Deus e os seres humanos.

Ray sofreu uma grave hemorragia cerebral (derrame) que o levou a óbito aos seus 88 anos, completados em maio desse ano (2010). Ele faleceu em Winston, Geórgia, EUA, deixando viúva sua fiel apoiadora Cynthia Franz, que o acompanhou leal e amorosamente em todas as horas, compartilhando com coragem, firmeza e ternura, cada experiência de vida desde 1959 quando se casaram.

No dia 29 de dezembro de 2013, Cynthia Franz também faleceu de ataque cardíaco fulminante. Uma grande perda! Ela era tão amorosa e terna companheira de tantas lutas ao lado de Raymond.

Ambos estão enterrados no mesmo túmulo, juntos para eternidade, unidos na vida e na morte. Ambos são grandes exemplos de cristãos que se importavam com o próximo e demonstraram isso em toda ocasião, como testemunhei várias vezes e ao ouvir relatos de outras pessoas que contavam experiências sempre positivas de como haviam sido recebidos e ajudados por eles, sem falar da imensa contribuição dada através dos livros desse homem que honrou seu compromisso com Deus até o fim de sua carreira cristã.

 

  • Notas finais:

Você sabia que o livro “Crise de Consciência”, Raymond Victor Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e um dos principais responsáveis pela obra “Ajuda ao Entendimento da Bíblia” das Testemunhas de Jeová começa como está abaixo?

Capítulo 1

O PREÇO DA CONSCIÊNCIA

Quer gostemos quer não, o desafio moral afeta a cada um de nós. É um dos agridoces ingredientes da vida dos quais não se pode escapar com êxito. Tem o poder de enriquecer-nos ou empobrecer-nos, de determinar a verdadeira qualidade de nossas relações com os que nos conhecem. Tudo depende de como reagimos a este desafio. A escolha é nossa — raramente é das mais fáceis.

Temos naturalmente a opção de envolver nossa consciência com uma espécie de casulo de complacência, passivamente “ir levando”, protegendo os nossos pensamentos mais íntimos contra o que quer que possa perturbá-los. Quando surgem questões, em vez de tomarmos uma posição, podemos efetivamente dizer: “Eu permanecerei indiferente a isto; outros podem ser afetados — até mesmo prejudicados —, mas eu não.” Alguns passam sua vida inteira numa postura moralmente passiva. Porém, quando está tudo consumado, e quando a vida finalmente se aproxima de seu término, seria como se aquele que pode dizer, “Pelo menos tomei posição a favor de alguma coisa”, devesse sentir maior satisfação do que aquele que raramente toma posição a favor de alguma coisa.

Às vezes, talvez nos perguntemos se pessoas de profunda convicção têm-se tornado uma espécie em extinção, algo acerca do qual lemos como pertencente ao passado, mas que vemos pouco no presente. A maioria de nós acha razoavelmente fácil agir em boa consciência quando as coisas em questão são menores. Quanto mais está envolvido e maior é o custo, mais difícil se torna resolver as questões de consciência, fazer um julgamento moral e aceitar suas conseqüências. Quando o custo é muito grande, achamo-nos numa situação de encruzilhada moral, enfrentando uma verdadeira crise em nossas vidas.

Este livro é sobre esse tipo de crise, sobre o modo como pessoas a estão enfrentando e o efeito desta em suas vidas.

 


Este é só o comecinho do livro. Você realmente tirará proveito do relato de Ray Franz, escrito com candura, compaixão e sensibilidade.

Mesmo aqueles que sentem dificuldade em ler as duras realidades sobre a história das Testemunhas de Jeová por acharem que sua segurança emocional dentro da suposta “organização de Deus” pode de algum modo ficar ameaçada, ainda assim, deveriam ler tais relatos visto que os mesmos contêm informações valiosas sobre o outro lado da história não contada ou sem os branqueamentos costumeiros. Afinal de contas, o responsável pela escrita deste livro viveu de perto o drama oriundo da estrutura de poder da Sociedade Torre de Vigia e de suas conseqüências desastrosas sobre milhares de vidas humanas na comunidade mundial das Testemunhas de Jeová.

Novamente, mesmo para você que pensa que a “Verdade” jamais esconderia quaisquer dados importantes de sua história, não deixe de ler esse livro. Nele você poderá encontrar as cartas e os documentos do Corpo Governante (todos estão traduzidos mas os preservamos também os originais no livro (em inglês) sobre assuntos que o “escravo fiel e prudente” tem decidido arbitrariamente, produzindo, conforme mostra o próprio livro “Proclamadores”, página 674, mortes, estupros, perdas de lares, vitupério para o “nome de Deus”, etc.

O livro de História “oficial” das Testemunhas de Jeová, (“Proclamadores”) relata o que acabamos de citar acima (na página apontada) mas não mostra com detalhes que isso tudo ocorreu, nas décadas de 60 e 70, por exemplo, por causa da proibição da aquisição de um documento do único partido político de Malauí enquanto no México, no mesmo período, os irmãos usavam a “cartilla” (carteira de reservista), sendo assim, a mesma questão, a “neutralidade cristã nos assuntos políticos do mundo”.

Qual a razão de tantas mortes naquele país (Malaui) e nenhuma no outro (México) quando a questão era mesma? Uma delas se deve ao legalismo, ao autoritarismo religioso e aos duplos critérios voltados para certos interesses de um sistema religioso.

Contudo, esse caso é uma pequena ponta do iceberg; há muito mais que envolve você, Testemunha de Jeová, mas isso você poderá descobrir e julgar por si mesmo.

Sei que você, leitor, pode achar que tudo isso é mentira, meia-verdade. Isso é compreensível em vista da programação mental e todo o ferrenho controle de informações que a organização impõe às Testemunhas de Jeová, em nome da proteção contra uma suposta “apostasia”.

Como Testemunhas de Jeová por tantos e tantos anos, sabemos que elas, vez após vez, são incentivadas de forma sistemática a “não buscarem na lata de lixo”, “não comerem da mesa dos demônios”, e assim por diante. Conhecemos bem essa metodologia de controle de informação que utiliza tanto a intimidação como ameaças de expulsão; seguíamos esse aparente “conselho amoroso” que, no entanto, nada mais é do que apenas mais uma das estratégias de um punhado de homens que se apropriam indevidamente de um texto bíblico para se auto-proclamar o “escravo fiel e discreto” de que Jesus falou.

Mas por que a verdade temeria o confronto com a mentira? Afinal de contas, Rutherford que se autointitulava Juiz (na verdade, advogado), já declarava em seu livro “Milhões que agora vivem jamais morrerão” (pág. 16, par. 1): “O erro procura sempre a obscuridade; enquanto a verdade é sempre realçada pela luz. O ERRO NUNCA DESEJA SER INVESTIGADO. A LUZ SEMPRE PROCURA UMA PERFEITA E COMPLETA INVESTIGAÇÃO”.

  • Eis o prefácio do livro “Crise de Consciência”, em português:

Prefácio

A tendência da autoridade religiosa de procurar dominar ao invés de servir, e a luta dos que não querem perder sua liberdade de consciência dada por Deus – sim, estes componentes formam a essência da narrativa franca e muito pessoal de “Crise de Consciência”. O cenário do conflito reside na associação com um grupo religioso específico, as Testemunhas de Jeová. Os mesmos temas fundamentais que assinalam esta narrativa, contudo, podem surgir dentro de qualquer religião do mundo.

Começando nos anos posteriores a 1870 como grupo independente de Estudo Bíblico, formado por um punhado de pessoas em Pittsburgh, Pensilvânia, as Testemunhas de Jeová já contam hoje com mais de seis milhões de adeptos em mais de 200 terras. Quando sua agência editorial, a Sociedade Torre de Vigia, lança um novo livro a impressão inicial regular é de um milhão de exemplares, seguidos de outros milhões. Nos países em que estão ativas, poucas pessoas ainda não tiveram contato com as Testemunhas em resultado de sua intensa atividade de porta em porta.

Assim mesmo, para a maioria das pessoas, esta continua a ser uma religião quase misteriosa. De modo mais notável, bem poucas das próprias Testemunhas têm qualquer conhecimento dos processos de elaboração de doutrinas e criação de normas de sua própria organização. Os debates de seu Corpo Governante, que tem autoridade mundial, ocorrem em total sigilo. Ainda assim, as decisões do Corpo se aplicam – e de modo obrigatório – a todas as Testemunhas da terra.

Tendo sido um membro de terceira geração das Testemunhas de Jeová, o autor viveu entre elas os primeiros sessenta anos de sua vida servindo em diversos países e em todos os níveis da estrutura organizacional. Desses sessenta anos, os últimos nove ele passou no conselho executivo central, o Corpo Governante. Aqueles anos o levaram à crise de consciência que tornou-se o tema deste livro. É uma narrativa ímpar. Proporciona ao leitor uma visão das sessões decisórias de um conselho religioso fechado, e do poderoso, às vezes dramático, impacto que suas decisões têm sobre as vidas das pessoas. Apresentada com sensibilidade e compaixão, a informação suscita ao mesmo tempo questões bem fundamentais que tanto afetam quanto estimulam a nossa consciência.

Foto do Corpo Governante com Raymond Franz nela (1975):

Em 1975, com seus companheiros do Corpo Governante numa foto particular.

Na fila de cima, da esquerda para direita: Daniel Sydlik, Theodore Jaracz, Raymond Franz (renunciou em 1980), Lyman Swingle, Lloyd Barry (faleceu em 1999), Milton Henschel (faleceu em março de 2003), William Jackson (falecido, abaixo) Karl Klein (faleceu em Jan 2001), Grant Suiter (falecido), Albert Schroeder, Leo Greenlees (foi forçado a renunciar) Na fila de baixo: Ewart Chitty (foi forçado a renunciar), Frederick Franz (faleceu em 1992 e foi o 4o. presidente da Sociedade Torre de Vigia), Nathan Knorr (faleceu em 1977 e foi o 3o. presidente), George Gangas (falecido), John Booth (falecido), Charles Fekel (falecido). Não aparecem: John Barr, Carey Barber, Martin Poetzinger (falecido) e Gerrit Loesch

Fotos extras com Raymond e Cynthia Franz: