Sobre as Testemunhas de Jeová
Unidade ou Conformidade de Grupo? – Cid Miranda
Unidade ou Conformidade de Grupo? – Cid Miranda

Unidade ou Conformidade de Grupo? – Cid Miranda

Copyright © 1999 Cid Miranda

Atualizado 2021

“Portanto, eu, o prisioneiro no Senhor, suplico-vos que andeis dignamente da chamada com que fostes chamados…, diligenciando observar a UNIDADE do espírito no vínculo unificador da paz…” (Efésios 4:1, 3 – Tradução do Novo Mundo – Versão anterior à atual)

Grande parte do que se professa crer, não só entre as Testemunhas de Jeová mas em qualquer outra religião, garante às religiões que elas mantenham uma certa medida de aparente “unidade na fé”, seja essa qual for, dentro de seus pátios.

O que ocorre muitas vezes é que o cristão sincero se vê numa verdadeira luta para não submeter sua liberdade cristã a moldes forçados e adesão a crenças que ele reconhece como sendo oriundas apenas da autoridade religiosa constituída dentro da estrutura da organização religiosa de sua escolha.

É sempre muito doloroso quando permitimos que nossa consciência cristã seja violentada em prol de “artigos de fé” difíceis de serem aceitos; não é nada fácil dizer “sim” àquilo se transforma em mera acomodação ao coletivo, ou seja, à conformidade de grupo.

É bem verdade que precisamos ter uma mesma mentalidade em relação a muitas regras e princípios tratados na própria Bíblia. (Rom. 12:16) Contudo, isso não significa que tenhamos de aceitar todo o pacote de doutrinas e ensinamentos que hoje as religiões do mundo pregam como emanando de uma fonte divina ou da própria Palavra de Deus.

Nisso reside boa parte da diferença que há entre “conformidade de grupo” e “unidade Cristã”.

Se alguém, por exemplo, não usa cabelos curtos, passa a usar barba, deixa de relatar um bom número de horas de pregação COLOCANDO O NOME numa folha de relatório, “namora com pessoas do mundo”, comemora aniversários natalícios, empenha-se arduamente na vida acadêmica ou comercial, etc, entre as Testemunhas de Jeová, isso significará que a pessoa não vive inteiramente a “verdadeira fé cristã” e, portanto, não é merecedora de privilégios de serviço na congregação dela, e não está, portanto, a fazer o devido progresso. É tido como um cristão “fraco na fé”, “imaturo” e é necessário até mesmo que “se tome nota dele”; Pasme o leitor, tal “cristão” poderá ser visto apenas como uma mera pedra de tropeço para os outros na congregação, “alguém que não se encaixa”.

Assim, o cristianismo de cada Testemunha de Jeová é julgado pelos seus concristãos, incluindo-se os homens da dianteira (anciãos), à base de sua adesão às imposições da autoridade religiosa centralizada do Corpo Governante que é “a única organização na Terra que entende as coisas profundas de Deus”. (A Sentinela de 1 de janeiro de 1974, página 18, parágrafo 4)

Sendo assim, para uma TJ fiel, não importa quão real e verdadeiro seja aquilo que escrevo aqui nesta página. Todas as evidências e todo o apoio bíblico defendido serão rejeitados antes mesmo de serem lidos. Por que? Simplesmente porque a autoridade central delas decreta que elas devam abominar, expurgar qualquer que seja a discordância proposta. Tais irmãos ficam desse modo privados da liberdade de escolher e decidir por si mesmos se a informação é factual ou falaciosa, benéfica ou danosa.

Isso é o que se pode chamar de conformidade de grupo. Nada tem a ver com unidade cristã.

Na página anterior perguntamos o que fazem ou como reagem as Testemunhas de Jeová que descobrem que têm crido em mitos e seguido mandados de homens. Infelizmente, quase sempre que alguém descobre isso, o método intimidatório empregado pela Sociedade termina por forçar tal pessoa a novamente aderir silenciosamente à conformidade de grupo.

A suprema força e as pressões emocionais, espirituais e psicológicas contidas na ameaça de se ser expulso, de se perder todos os amigos de longa data e de se ter cortada a relação íntima com familiares Testemunhas de Jeová, a crendice de se perder a total aprovação de Jeová e, consequentemente, a própria vida no Armagedom, e assim por diante, são cargas deveras pesadas, quase impossíveis de serem suportadas por qualquer TJ, mesmo que ela chegue a entender esse lado negro da alegação de que há uma “unidade na fé”.

E o que ocorre quando alguém talvez simplesmente opte por discordar do que a organização ensina? Bem, discordar da organização implica em “opor-se” a Deus”? O ensino formal que se propaga entre as Testemunhas é o de que opor-se à “organização de Deus” é realmente opor-se ao PRÓPRIO DEUS pois “Ele usa essa organização como seu canal visível”. Esse é o raciocínio fortemente implantado nas mentes das Testemunhas. Membros de inúmeras outras religiões do mundo, no entanto, têm esse mesmo conceito declarando seguir “a sã doutrina”.

Ademais, é uma tarefa demasiadamente árdua alguém reaprender a andar com os próprios pés e a pensar por si mesmo depois de anos. Conheci alguns que me disseram que apreciavam ser comandados tendo sempre quem lhes mostrasse aonde deveriam ir, como deveriam viver, como deveriam prestar adoração a Deus, etc. Conheço, no entanto, pessoas que saíram e conseguem hoje viver bem melhor do que quando eram Testemunhas de Jeová. Esses dizem que podem até não saber aonde estão indo, mas têm certeza de para onde não querem mais voltar. Outros dizem que não sentem necessidade de “ir a algum lugar” em vista de sua boa relação com Jeová Deus e seu filho. E isso é mais do que suficiente para tais.

Alguns que saem, terminam voltando. A organização coopera para que eles se sintam impuros, indignos e sujos. É bem verdade que alguns saem por motivos egoístas, por quererem usar sua “liberdade como disfarce para a maldade” e como “escravidão à corrupção”. (1Pedro 2:16; 2Pedro 2:19-22)

O que é curioso é que a organização tem usado tais textos bíblicos e tantos outros para manter TODOS os seus adeptos como reféns incondicionais do Corpo Governante. Para exemplificar, ela ameaça os que estão discordando de seus ensinos, e impõe o mesmo castigo, a mesma punição que é ministrada aos que estão entregues aos “desejos da carne.”

A conclusão é que não há forma honrosa para se sair, mesmo que a pessoa simplesmente não concorde mais, e apenas isso, com os ensinos e doutrinas, e não deseje mais estar subordinado ao corpo central em Warwick, NY, EUA.

Alguns terminam ficando “na moita”. Vão fazendo suas escolhas de foro íntimo de acordo com o que suas consciências lhes mandam, e pronto. Mas viver assim, já significa que a pessoa está vivendo contra os ensinos de sua mãe-organização que lhes dita que “devem concordar com tudo em 100%.” (Despertai! 8 de setembro de 1987, págs 8-11)

Para entendermos melhor a complexidade desse assunto, vamos antecipar um pequeno trecho do livro Em Busca da Liberdade Cristã, de Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Esse livro já está sendo traduzido e será publicado em português.

Iremos colocar algumas partes de um julgamento realizado na Escócia em 1954.

  • Início da citação do livro:

O caso, conhecido como caso Walsh, focalizava a alegação da condição de ministro religioso por parte de uma Testemunha de Jeová, que era superintendente presidente de uma congregação da Escócia. Recordo-me de, anos atrás, escutar pessoalmente de meu tio, (Fred Franz) o relato de seu papel nesse julgamento, mas foi só ao ver o registro final do tribunal, em data recente, que descobri tudo o que foi abrangido por esse depoimento.

Com autorização do Guardião de Registros da Escócia, alguns trechos do registro oficial são aqui reproduzidos. Como se pode observar, Fred Franz, na época vice-presidente da organização, foi o primeiro no banco das testemunhas e o registro do tribunal inclui esta informação, com alguns trechos que sublinhei. (“P” representa a pergunta feita e “R” a resposta dada):

P: Além dessas publicações regulares vocês preparam e lançam vários panfletos e livros teológicos de tempos em tempos?

R: Sim.

P: Poderia dizer-me isto; são estas publicações teológicas e os periódicos quinzenais usados para consideração de afirmações doutrinárias?

R: Sim.

P: São estas afirmações doutrinárias compulsórias dentro da Sociedade?

R: Sim.

P: É a aceitação delas uma questão de opção, ou é obrigatória para todos os que são e desejam continuar a ser membros da Sociedade?

R: É obrigatória.

Segundo esse depoimento, quem quer que deseje continuar a ser uma Testemunha de Jeová não tem alternativa, nenhuma opção senão aceitar as declarações publicadas pela Sociedade Torre de Vigia, da qual Fred Franz falava como representante. A aceitação é “obrigatória”. As conseqüências são indicadas mais adiante no depoimento dele:

P: Quer dizer então que, efetivamente, existirá na Terra uma nova sociedade humana em resultado disso?

R: Sim. Haverá uma sociedade do novo mundo numa nova Terra, sob novos céus, tendo os céus e terras anteriores já passado, após a batalha do Armagedom.

P: Então a população desta nova Terra, consistirá apenas de Testemunhas de Jeová?

R: Inicialmente consistirá apenas de Testemunhas de Jeová. Os membros do restante esperam sobreviver a essa batalha do Armagedom, bem como uma grande multidão destas outras ovelhas. A permanência do restante sobre a Terra após a batalha do Armagedom será temporária, pois eles devem primeiro terminar seu percurso terreno, fiéis na morte, mas as outras ovelhas por meio da contínua obediência à vontade de Deus, poderão continuar a viver na Terra para sempre.

A aceitação, portanto, torna-se um assunto de vida ou morte, pois os que sobreviverem ao Armagedom consistirão “apenas de Testemunhas de Jeová”. Que dizer do caso em que, o membro de uma congregação rejeita um certo ensino organizacional, por conscienciosamente acreditar que lhe falta apoio das Escrituras, e, como resultado, é subsequentemente desassociado? Qual é a postura oficial para com as pessoas desassociadas que não obtêm readmissão? Esta postura é explicitada conforme segue no depoimento:

P: E são estes poderes disciplinares de fato exercidos quando surge a ocasião?

R: Sim, são.

P: Bem, não vou mais fazer-lhe perguntas sobre este aspecto da questão, mas há transgressões tidas como graves o bastante para merecer a expulsão sem esperança de readmissão?

R: Sim. O fato é que a excomunhão em si mesma pode levar a aniquilação do excomungado, se esse indivíduo jamais se arrepender e corrigir o seu proceder, e continuar fora da organização. Não haveria para ele esperança alguma de vida no novo mundo, mas existe um proceder que resultaria em excomunhão, da qual pode-se ter certeza que o indivíduo jamais retornaria, e este é chamado de pecado contra o espírito santo.

O advogado do governo britânico dirigiu depois sua atenção para certos ensinos que a organização Torre de Vigia tinha, com o tempo, rejeitado, inclusive os que envolviam certas datas específicas. O que dizer de alguém que, na época, em que o ensino foi estabelecido, visse o erro dele, e em conseqüência, não o aceitasse? Qual seria a atitude da organização para com tal pessoa?

(Vamos dar um salto e nos dirigir agora para o testemunho de Hayden C. Covington, conselheiro jurídico da Sociedade na época):

P: Não é vital falar a verdade em assuntos religiosos?

R: Certamente que é.

P: Em sua opinião, há margem em uma religião para mudanças na interpretação dos Escritos Sagrados de tempos em tempos?

R: Há todas as razões para as mudanças de interpretação da Bíblia, segundo nossa visão. Nossa visão se torna mais clara à medida que vemos o tempo cumprir as profecias.

P: Os senhores já anunciaram – perdoem-me a palavra – falsas profecias?

R: Anunciamos – não acho que anunciamos falsas profecias, houve declarações que foram errôneas, é assim que coloco, equivocadas.

P: É uma consideração muito vital, na atual situação do mundo, saber quando esta profecia, a Segunda Vinda de Cristo, ocorreu?

R: Isto é verdade, e sempre nos esforçamos para saber que estamos com a verdade, antes de anunciá-la. Nos guiamos pelas melhores informações que temos, mas não podemos esperar até ficar perfeitos, porque se esperássemos até ficar perfeitos jamais poderíamos falar.

(QUANTO A FALSA PROFECIA DA “SEGUNDA VINDA DE CRISTO” EM 1874):

P: Foi anunciada uma falsa profecia?

R: Concordo com isso.

P: Ela tinha de ser aceita pelas Testemunhas de Jeová?

R: Está correto.

P: Se um membro das Testemunhas de Jeová tomasse uma posição própria de que essa profecia estava errada e o dissesse, seria ele desassociado?

R: Sim, se ele o dissesse e continuasse a persistir em criar problemas, por que se a organização inteira acredita em uma coisa, ainda que errônea, e alguém, por sua própria conta, começa a espalhar suas idéias, então vai haver desunião e problemas, não pode haver harmonia, nem marcha alinhada. Quando ocorre uma mudança, ela deve vir da fonte apropriada, da dianteira da organização, o Corpo Governante, não de “baixo para cima, pois cada um teria idéias próprias, e a organização se desintegraria em mil direções diferentes. Nosso objetivo é manter UNIDADE!

P: UNIDADE a qualquer preço?

R: UNIDADE a qualquer preço, por que cremos e temos certeza de que Jeová Deus está usando nossa organização, o Corpo Governante de nossa organizaçào para dirigi-la, mesmo que de vez em quando se cometam erros.

P: UNIDADE baseada na aceitação obrigatória de falsas profecias?

R: Reconhece-se que isso é verdade.

P: E a pessoa que expressar uma opinião como o senhor diz, de que isso estava errado, e é desassociada, estaria violando o pacto se ela fosse batizada?

R: Está correto.

P: E como o senhor disse ontem expressamente, ela mereceria a morte?

R: Acho que…

P: O senhor diz sim ou não?

R: Digo sim, sem hesitar.

P: O senhor chama isso de religião?

R: Certamente que sim.

P: O senhor chama isso de cristianismo?

R: Certamente que sim.

(E assim prossegue o trecho…)

  • Comentários de Raymond Franz:

A unidade, segundo o depoimento deste representante da Sociedade, pode exigir de um cristão que ele aceite como verdade aquilo que ele crê que a Palavra de Deus mostra ser falso. Não importa o que ele leia na Bíblia, ele não pode expressá-lo se isso não coincidir com os ensinos obrigatórios da organização. Embora isso possa, na própria Palavra de Deus, estar claro, isto não basta. Ele deve esperar até que a mudança parta da “fonte apropriada”, da dianteira da organização, o Corpo Governante, não “de baixo para cima”. Não importa o que ele leia na Bíblia, ele deve esperar que o Corpo Governante lhe diga o que é aceitável para se crer e para se conversar.

A justificativa para uma alegação tão incrível? Deve haver “UNIDADE A QUALQUER PREÇO”, mesmo que baseada na aceitação obrigatória de falsas profecias. Falhar nesse aspecto é ser passível de desassociação e “merecer a morte”. Com efeito, embora alguém possa ler as PRÓPRIAS PALAVRAS do Amo, por escrito, ele não pode aceitá-las, ou agir segundo elas SE O PROFESSO “ESCRAVO” DO AMO LHE DIZ ALGO DIFERENTE. Este é, em linguagem clara, o conceito promulgado pela organização.

  • (FIM DA CITAÇÃO)

Bem, tendo lido parte dos depoimentos e alguns comentários de Raymond Victor Franz, ex-membro do Corpo Governante e sobrinho do falecido presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, fica claro que UNIDADE tem uma definição peculiar e distinta para os que compõem o Corpo Governante.

Talvez, após essa breve leitura resumida de todo o processo, que na realidade tem muito mais detalhes interessantes, o leitor possa entender bem mais claramente o objetivo de se tratar aqui de Conformidade de Grupo X Unidade.

Acredito que, todos os que passarem os olhos por essa página e que pararem para refletir mais profundamente no verdadeiro significado do cristianismo na vida das pessoas, jamais poderão admitir que UNIDADE é algo que deve ser imposto a “QUALQUER PREÇO”.