Copyright © 2000 Cid Miranda
Atualizado em 01/11/2020
Toda pessoa normal anela usufruir uma existência de paz e tranqüilidade, requisitos preciosos e fundamentais para a felicidade humana.
Para as Testemunhas de Jeová, no entanto, a obtenção desses dois artigos só é possível se estiverem vivendo 100% em dia com suas obrigações organizacionais, as tais “atividades teocráticas”.
“Atividades teocráticas” é o apelido que receberam os intermináveis deveres religiosos das Testemunhas de Jeová. Essas obrigações são encorajadas em A Sentinela, Despertai! e em inúmeras outras publicações oriundas do Betel Central em Warwick, EUA.
De que atividades tão importantes para as Testemunhas estamos falando? Algumas delas:
– Estudo pessoal (o que se lê? Revistas e livros publicados pela Sociedade Torre de Vigia)
– Estudo familiar (livros e publicações da organização Torre de Vigia)
– Leituras de textos diários extraídos da Bíblia (usados para consolidar muitas das crenças e ensinos da Torre de Vigia)
– Saída regular semanal ao serviço de campo (pregação de porta em porta sobre coisas que a organização alega que a Bíblia ensina)
– Assistência a 4 reuniões por semana (inclusive “treinamento de vendas” de revistas e publicações da Torre de Vigia, como é praxe ocorrer na “Reunião de Serviço” com vistas nos “donativos” dos “moradores”)
– Ida a congressos durante os quais se leem e se ouvem ensinos, doutrinas e conselhos especialmente tirados da literatura da organização
– Preparação sistemática de reuniões e “partes” das reuniões de modo repetitivo e enfadonho
– Manter-se em dia com a leitura das revistas A Sentinela e Despertai! e todas as publicações da Torre.
– Limpeza do salão do Reino
– Reuniões de anciãos e servos (quando se é membro designado)
– Reuniões “especiais” ou “extras” (uma delas ocorre quando um “Superintendente Viajante” visita as congregações de seu circuito)
– Etc.
Quando há diminuição dessas atividades ou uma Testemunha de Jeová se torna “inativa”, isso é visto como sinal de perigoso afastamento, e então um processo de rejeição ao “fraco” é imediatamente iniciado. Muitas vezes tal pessoa termina por não aguentar a discriminação e rejeição, e escolhe sair por “dissociar-se”.
O tratamento dado ao membro “dissociado”, independentemente do que ele fará de sua vida, quer como alguém temente a Deus quer não, será SEMPRE o mesmo: ele deverá ser evitado e todos os seus amigos lhe virarão as costas, repentinamente. Esse é o padrão mundial recorrente.
Mas será que isso significa que as Testemunhas de Jeová são sádicas, más e apreciam fazer isso? Não, isso não é verdade.
As Testemunhas de Jeová apenas pensam estar servindo a Jeová Deus e somente a Ele. Contudo, é muito difícil uma Testemunha “ativa” enxergar a diferença entre aquilo que ela faz exclusivamente para a organização e aquilo que ela REALMENTE faz para o louvor EXCLUSIVO de Deus.
A verdade é que, durante toda a História do homem, sempre existiu um terrível conflito entre a lealdade a Deus e a lealdade à religião. Embora esse conflito ocorra com membros de outras denominações religiosas, no caso das Testemunhas de Jeová, as coisas se confundem mais ainda porque para uma Testemunha de Jeová, fazer bastante para a organização está intimamente associado a fazer “bastante na obra de Deus” de que fala a Bíblia em 1 Cor.15:58.
Muitas pessoas boas são levadas a viver toda uma existência “fazendo isso (isto é, muitas das coisas alistadas no terceiro parágrafo) de modo ressentido e sob compulsão”, não “conforme tem resolvido no coração pois Deus ama o dador animado.” (2 Cor. 9:7)
O que as revistas A Sentinela, Despertai! e outras literaturas alegam como sendo bíblico, é automaticamente aceito assim pelos mais de seis milhões de Testemunhas de Jeová mundo afora. Nesse sentido, por incrível que isso possa parecer, o “escravo fiel e prudente” (entendido pelas Testemunhas como sendo o Corpo Governante TJ nos EUA) tem autoridade igual à autoridade daquele a quem eles dizem reconhecer como seu “amo”. Toda informação que vem de lá é aceita pelas Testemunhas como algo de Deus, alimento espiritual adquirido “sob direção teocrática”.
Mas como vimos nas páginas anteriores, muitas das crenças e ensinamentos das Testemunhas se baseiam em especulações e interpretações dos homens do Corpo Governante nos EUA que impõem um estilo de vida baseado em conclusões particulares sobre coisas que a Bíblia supostamente expressa.
O tratamento dispensado a todos que passam pela desassociação (expulsão) e dissociação (solicitação voluntária para sair) é totalmente contrário ao amor demonstrado pelo filho de Deus. No entanto, esse ensinamento impiedoso não é questionado entre as Testemunhas de Jeová. Ele é simplesmente aceito, por incrível que pareça, como instrução baseada na Bíblia.
Textos são torcidos para dizer aquilo que não dizem; tudo para que se satisfaça o capricho que pertenceu inicialmente apenas a um homem, Frederick Franz. Esse homem foi, por muito tempo, o oráculo principal da Torre de Vigia.
Que a Bíblia manda que se “remova o homem iníquo” (1 Cor. 5:13), isso não resta dúvida. Mas de que tipo de pessoa estava falando a Bíblia nos versículos que antecedem a essa ordem final, ou seja, em 1 Cor. 5:12?
Em primeiro lugar, os termos “dissociação” ou “desassociação”, não se acham registrados na Bíblia; eles foram inventados por Frederick Franz, o quarto presidente da Torre de Vigia que morreu em 1992 aos seus 99 anos de idade. Havia muita coisa em jogo e a organização sabia que precisava se precaver contra os que poderiam ser estorvos e ameaçar a estabilidade e o crescimento dela.
Um artigo de A Sentinela de dezembro 1981 mudou a posição da Sociedade e proibiu a associação com dissociados e o tratamento aos mesmos passou a ser igual ao dado aos desassociados. Por que a mudança? Porque Raymond Franz, sobrinho de Fred Franz, havia renunciado ao Corpo Governante no ano anterior e estava trabalhando e morando no terreno de Peter Gregerson, uma ex-Testemunha de Jeová, dissociada, que possuía uma cadeia de supermercados, empregando mais de trinta irmãos, inclusive Ray Franz que, ao sair do Corpo Governante precisava agora trabalhar para se manter e à sua esposa, Cynthia. Certo dia, Ray almoçava com ele e por causa disso, foi chamado para comparecer a uma comissão judicativa (tribunal inquisitorial humano que julga as Testemunhas de Jeová “errantes”). Almoçar com Peter foi o motivo, sim, a única razão pela qual ele foi rapidamente expulso da organização à qual servira por mais de 40 anos. Isso ocorreu em dezembro de 1981. Ray Franz não achava que havia alguma prova de que aquele homem idoso, Peter Gregerson, se encaixava em nenhum texto usado pela Sociedade através de seus algozes, três anciãos de sua congregação. Embora tenha tentado fazer tudo que estava a seu alcance, ele terminou por não poder continuar naquela que havia sido a organização que ele defendera por todo o curso de sua existência e à qual ele havia dedicado cada dia de sua vida.
E realmente tem sido assim com muitos outros que saem também por MOTIVO DE CONSCIÊNCIA.
Em segundo lugar, os textos da Bíblia que falam sobre “não conviver nem mesmo cumprimentar pessoas”, não foram escritos para absoluta generalização e aplicação a qualquer pessoa que sai por meramente discordar dos ensinamentos da organização TJ, mas não da Bíblia.
A grande maioria das Testemunhas de Jeová não assimila que “Jeová” não tem o mesmo significado de “organização”, e que ser fiel a Ele, não é o mesmo que ser fiel a essa organização. A evidência dessa falta de entendimento é facilmente percebida ao se observar a obediência cega das Testemunhas aos “mandados destes homens” de seu Corpo Central de Governantes em Warwick, EUA. (Mat. 15:9)
E então, ao que e a quem se referem os textos bíblicos abaixo? Vejamos:
– 1 Coríntios 5:9-13. Esse texto proíbe a convivência, isto é, a intimidade, amizade e companheirismo com pessoas que preenchem os perfis de fornicadores, extorsores, idólatras, beberrões, injuriadores, gananciosos. A expressão grega é a mesma que Paulo usou em 2 Tes. 3:14, e significa “não vos mistureis com”, “parai de associar-se com ele” tendo aplicação a pessoas dentro da congregação, a serem “admoestadas como irmãos” (1 Tim. 1:14).
E ainda assim, o texto de 2 Cor. 5:11 se refere a “fornicadores, idólatras”, etc.
Portanto, aplicar esse texto a pessoas que crêem em Jeová, em Cristo e na Bíblia, e tentam seguir suas orientações, é “ir além das coisas que estão escritas”. (1 Cor. 4:6)
– A Segunda de João 7-11. Aqui a Bíblia diz que o tipo de pessoa a quem “não se cumprimentar e nem receber em casa é o Anticristo, alguém que não confessa a Cristo vindo na carne, que não aceita o ensino de Cristo e não tem Deus”.
Veja bem, esse texto não se aplica a pessoas que discordam de doutrinas humanas criadas nesse século, sem base bíblica; ensinos que são, à propósito, apresentados como sendo produto da “orientação divina” sobre um grupo de homens.
Mais uma vez, aplicar o CG esse texto a pessoas cristãs que temem a Jeová, aceitam a Cristo como Messias e respeitam as Escrituras não é algo bíblico!
Não cumprimentá-las porque não aceitam conscienciosamente ensinos não claros e nem baseados na Palavra de Deus, mas que são meras especulações de homens imperfeitos que presunçosamente afirmam ser o canal competente EXCLUSIVO de comunicação de Deus, é seguir a seres humanos.
Toda Testemunha de Jeová deveria encarar o fato de que esses homens criadores de tais legalismos, não são como Moisés, os profetas e apóstolos pois eles não têm nenhuma designação nem receberam credenciais comprovadas pelas Escrituras Sagradas.
Isso é tirar o sentido daquilo que recomenda a Bíblia.
Isso, sim, é apostasia, um sério desvio dos ensinos de Cristo! (3 João 9-11)
O pior de tudo é que os irmãos tomam tais regras proibitivas, legalistas e anticristãs e as aumentam em alcance. Como assim?
Uma grande parte das Testemunhas de Jeová teme ver sua zona de segurança emocional e espiritual ameaçada pelos chamados “apóstatas”, “odiadores do povo de Deus”, etc, e passam a justificar um ódio “teocrático” pelos seus ex-companheiros de fé.
Um membro de minha própria família, por exemplo, chegou a dizer que, para ele, eu já não passava de um zumbi, um “morto-vivo”. Depois disso, nunca mais falou comigo e da última vez que tentei, sua esposa disse que eu não insistisse nisso porque eu “não iria gostar do resultado”. Centenas de outras pessoas têm relatos semelhantes e, em alguns casos, ainda mais lamentáveis.
Além de perder todos os meus amigos que ficaram proibidos de qualquer contato comigo sob a intimidação e ameaça de serem também sumariamente expulsos, perdi irmãos carnais que não mais me contactam por elastecerem as regras sobre “contato com os que saem”. Para parentes próximos, a Sociedade Torre de Vigia incentiva que os parentes Testemunhas mantenham o mínimo contato possível com os que saem, não importa o motivo nem o grau de parentesco. (A Sentinela 15/12/1981)
Mas é claro que muitos familiares Testemunhas tendem a fazer da regra geral algo mais “nem mesmo cumprimentando” seus parentes desassociados e dissociados.
Esse é o triste resultado de um ensinamento criado pelo cérebro de um único homem integrante de um Corpo Governante que continua como que governando com vara de ferro, a vida de humanos obedientes às suas diretrizes.
Esse é o alto preço que qualquer Testemunha de Jeová poderá pagar caso ouse discordar destes homens.
A perseguição e a punição que ocorriam na idade média, a caça às bruxas e aos hereges, a fogueira da Inquisição e toda a indescritível aflição imposta aos que ousavam discordar da autoridade religiosa clerical constituída, continuam a ocorrer em pleno século 21, em formatos diferentes e cenários adaptados para nossos dias.
O que mudou de verdade foi apenas a forma em que os golpes são desferidos nos tais “apóstatas” ou “hereges”. No entanto, tais golpes continuam a causar profunda mágoa e dor à alma dos que escolhem sair do controle desta organização por motivo de consciência.
Sei quão duro é, para uma Testemunha de Jeová “fiel”, ver esse ensino vergonhoso exposto ao público em geral, mas a verdade é que a saída da organização das Testemunhas de Jeová acarreta, de imediato, a perda permanente de pessoas queridas e o afastamento repentino, abrupto, cruel e injusto de parentes próximos que se mantêm fiéis aos dogmas de sua organização, a Torre de Vigia.
É por tudo isso que sinto vergonha de ter sido parte desta organização religiosa que vê méritos em perpetuar seu autoritarismo e arrogância, e que usa deturpadamente a Palavra de Deus para costurar leis que estão em total desarmonia com o que a Bíblia ensina e com a vontade explícita de Deus. (1 João 4:7,8)
É por isso que sei que jamais sentirei qualquer compulsão de fazer parte dessa organização novamente. E nesse respeito, conheço um incontável número de pessoas que se sentem do mesmo modo.
Sem demagogia nem hipocrisia, espero sinceramente que Deus me perdoe por eu talvez ter agido com desdém em relação a alguém que por acaso tenha saído por motivo de consciência quando eu ainda era parte da organização Torre de Vigia e agia como hoje vejo alguns agirem.
E que Deus perdoe a todas as Testemunhas de Jeová sinceras que não conseguem livrar-se dos poderosos tentáculos psicológicos e espirituais que abraçam fortemente suas mentes e mantêm cativos seus corações.
Esse é um dos motivos da existência dessa página na Internet…
Desejo esclarecer pessoas e expor esses conceitos desamorosos e atitudes de superioridade inigualável, que é infundada.
São comportamentos incentivados pela organização que merecem ser combatidos e questionados por aquilo que realmente são: frutos de dogmas que prejudicam a PAZ e a TRANQÜILIDADE na vida das pessoas e em seus relacionamentos familiares e sociais, destruindo-os impiedosamente, desonrando assim, ao Deus de amor. (1 João 4:8)
Espero poder continuar alertando mais pessoas quanto ao perigo que é tornar-se refém de um regime ditatorial religioso como o da Torre de Vigia, que significa entre outras coisas, entrar numa organização da qual jamais se pode sair de modo honroso e digno, preservando-se as relações de afeto e amor entre os que nos são caros.
Inspirado nessa foto que mostra uma caminhada solitária, dedico agora um texto bíblico a todos os que têm sido, de alguma modo, ainda dentro ou já fora da organização, afetados pela desamorosa prática de exclusão do Corpo Governante. Que estes possam refletir nestas palavras e sentir-se encorajados por elas:
“Jeová é meu pastor. Nada me faltará. Ele me faz deitar em pastagens relvosas; Conduz-me junto a lugares de descanso bem regados. Refrigera a minha alma. Guia-me nos trilhos da justiça…; Ainda que eu ande pelo vale da sombra tenebrosa, Não temerei mal nenhum, Porque tu estás comigo; Aprontas diante de mim uma mesa perante os que me são hostis. Decerto, a própria bondade e benevolência estarão no meu encalço todos os dias da minha vida; E eu vou morar na casa de Jeová pela longura dos dias.” (Salmos 23 TNM)
E que o resultado do que escrevo agora descanse tão-somente nas mãos de Deus!