Copyright © 2000 Cid Miranda
Atualizado em 05/11/2020
Por mais de um século, “luzes” multicoloridas têm brilhado intensamente desde a Torre de Vigia nos EUA. Diversas destas luzes vieram e se foram rapidamente, deixando ofuscada e embaçada a visão de um vasto número de Testemunhas de Jeová sinceras que buscavam a verdade.
A organização tem visto milhares destas Testemunhas expostas à forte luminosidade dos clarões repentinos de “novas luzes”, sentirem-se profundamente desapontadas pelas expectativas enganosas criadas por ela, e presencia um êxodo cada vez maior. Quantas Testemunhas morreram sem imaginar que, aquilo em que criam como parte do “Conjunto da Verdade”, era algo a ser mudado nos anos à frente?
Estranhamente, contudo, centenas de milhares de Testemunhas, mesmo algumas das que presenciaram tais mudanças, continuam a nutrir um forte sentimento de “povo especial” que sobreviverá ao dia da “ira de Jeová”; aplicam para si a profecia de Sofonias 2:3 ao passo que adotam para si mesmas a mesma expressão de auto-louvor de seu Corpo Governante que afirma num artigo de “A Sentinela” de 15 de novembro de 1997, página 18, parágrafo 11:
“Os que esperam sobreviver ao Dia de Jeová e viver para sempre na terra têm de apoiar de todo o coração a adoração verdadeira”.
E por esta auto-glorificação de “adoração verdadeira”, entenda-se “a organização das Testemunhas de Jeová”, os “únicos genuínos cristãos”.
Não é de admirar, portanto, que as Testemunhas hodiernas se considerem “propriedade especial de Jeová”, presumindo ser “residentes forasteiros” em um “mundo caótico, doentio e moribundo, prestes a findar e do qual não podem fazer parte”. (João 17:16)
- O Primeiro Mito
Mas em que sentido as Testemunhas pretendem ser realmente “diferentes”? Bem, responder essa pergunta requer também falar sobre o PRIMEIRO MITO entre as Testemunhas, o mito de ser a única religião a ostentar e defender a incontestável verdade da Palavra de Deus e defendê-la por meio de um “alimento espiritual” APENAS provido por meio de um grupo de homens auto-designados como o “escravo fiel e prudente” do qual a Bíblia fala em Mateus 24:45.
Surgem, portanto, duas perguntas dentre várias outras: defendem as Testemunhas de Jeová a única verdade de Deus encontrada em sua santa Palavra? Têm as Testemunhas seguido orientações APENAS da Bíblia ou por outras fornecidas pela organização Torre de Vigia?
“Tudo em que cremos se baseia na Bíblia”, advogam as Testemunhas.
Então, por que escrevemos aqui que essa afirmativa se constitui em um dos maiores mitos das Testemunhas?
- Entendendo o Primeiro Mito
Para entendermos essa questão, vale a pena lermos primeiramente as palavras do livro “Raciocínios à Base das Escrituras”, página 388, parágrafo 3:
“Em razão de as Testemunhas de Jeová basearem todas as suas crenças, normas de conduta e procedimentos organizacionais, sua fé na própria Bíblia como sendo a Palavra de Deus lhes dá a convicção de que possuem realmente a verdade.”
Como se prova nestas palavras, a própria organização indica que TODAS AS CRENÇAS das Testemunhas de Jeová se originam da Bíblia.
Na página seguinte do mesmo livro (389), parágrafo 2, a organização reafirma isso categoricamente:
“Para mostrarem o significado da linguagem simbólica encontrada na Bíblia, deixam que a própria Bíblia forneça a explicação, ao invés de apresentarem suas teorias quanto ao seu significado”.
Mas verifique o leitor que, logo depois de afirmar isso, a organização se mostra contraditória ao usar SUA PRÓPRIA TEORIA sobre o “escravo fiel e prudente”, apossando-se de um texto bíblico e aplicando-o exclusivamente a ela. Para a organização da Torre de Vigia, o “escravo fiel e prudente” citado por Jesus não pode ser cada cristão individual fiel a Deus que provê a outros, alimento espiritual; tem de ser uma interpretada “classe escolhida” – OS “UNGIDOS” DELA. Veja como ela descreve essa TEORIA na página 390, par. 1, deste mesmo livro:
“Jesus disse que teria na terra um ‘escravo fiel e discreto’ (seus seguidores ungidos considerados como um grupo), por meio do qual proveria alimento espiritual aos que constituem a família da fé. (Mateus 24:45-47)”
Embora essa TEORIA seja uma das mais fortes premissas que norteia todo o conceito de supremacia religiosa das Testemunhas de Jeová, quando pesquisada à luz da Bíblia, não resiste à análise; vê-se facilmente que não passa de um mito, uma mera “teoria” criada para fazer as Testemunhas de Jeová se sentirem, como citado nos parágrafos iniciais, um “povo especialmente abençoado e diferente”. Faz também que os membros acreditem que seu líder coletivo, o “escravo fiel e prudente”, esteja provendo um “alimento espiritual nutritivo”, inigualável, para seis milhões de seguidores.
Mas sempre foi essa a crença das Testemunhas de Jeová? Qual era o desejo do fundador da Torre de Vigia, o primeiro “escravo fiel e prudente” da organização em sua fase embrionária?
- Intervalo para uma Séria Reflexão
Antes de respondermos à pergunta acima, caso você ainda seja uma Testemunha de Jeová, será de proveito perguntar-se: vale a pena uma Testemunha de Jeová, fiel à sua organização, ler essa página de alguém que REFUTA algumas de suas crenças? (“refutar” significa “combater com argumentos e provas contrárias” – “Dicionário Pedro Luft” – 4a. Edição – Editora Ática)
A revista “Despertai!”, 8 de setembro de 1997, página 6, sexto parágrafo, diz:
“Não é errado a pessoa tentar refutar os ensinos e as práticas de um grupo religioso que ela julgue ser incorretos.”
Ora, como pode uma pessoa “refutar” alguma coisa sem ter pleno conhecimento dos “argumentos e provas contrárias”? E por que será que muitas Testemunhas têm “refutado” algumas das crenças de sua organização ao longo dos anos? Será proveitoso uma Testemunha ler isenta e imparcialmente o que estará sendo apresentado a seguir? Existem realmente “Mitos e Crendices” entre as Testemunhas de Jeová?
Para responder a tudo isso, voltemos à análise do primeiro mito citado acima…
- Como Surgiu o Primeiro Mito
Vejamos o que Charles Taze Russell havia idealizado em seu Testamento para a organização que fundou e COMO ele mesmo se considerava antes de seu sucessor, Rutherford, tomar o controle da Sociedade (Livro “Crise de Consciência”):
Início da citação:
O documento abaixo é o testamento redigido por Charles Traze Russell, fundador da Sociedade Torre de Vigia e de sua revista, conforme publicado em “A Sentinela” de 1º de dezembro de 1916. Segue-se a tradução dos trechos principais desta “Última Vontade e Testamento”. Foram sublinhadas as partes de maior interesse.
Tendo doado à SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, em várias ocasiões durante os anos passados, todos os meus bens pessoais, com exceção de uma pequena conta bancária de cerca de duzentos dólares, no Exchange National Bank de Pittsburgh, a ser paga à minha esposa caso ela sobreviva a mim, deixo apenas meu amor cristão e meus melhores votos a todos os queridos membros da família da Casa da Bíblia – e a todos os demais queridos colaboradores na obra da colheita – sim, a todos os da família da fé e em todos os lugares onde invocam o Senhor Jesus como seu Redentor.
Contudo, ao fazer doação da revista Torre de Vigia de Sião, do Trimestral da Velha Teologia e dos direitos autorais dos livros ESTUDOS DAS ESCRITURAS DA AURORA DO MILÊNIO e de vários outros folhetos e hinários, etc, à Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, eu o fiz com o entendimento de que manteria completo controle de todos os interesses destas publicações durante a minha existência, e que depois de minha morte estes seriam conduzidos de acordo com meus desejos. Passo agora a declarar tais desejos – minha vontade com relação aos mesmos – Conforme segue:
UMA COMISSÃO EDITORA DE CINCO
Determino que a inteira responsabilidade pela TORRE DE VIGIA DE SIÃO fique nas mãos de uma comissão de cinco irmãos aos quais exorto a exercer grande cuidado e fidelidade para com a verdade. Todos os artigos que aparecerem nas colunas da TORRE DE VIGIA DE SIÃO deverão ter a aprovação absoluta de pelo menos três da comissão dos cinco, e insto a que, qualquer que seja o assunto aprovado pelos três, que seja, ou pareça ser, contrário ao ponto de vista de um ou de ambos os demais membros da comissão, que tais artigos sejam retidos para maior consideração, oração e discussão por três meses antes de ser publicado – que até onde for possível seja mantida a unidade da fé e o vínculo a paz na direção editorial da revista.
A Comissão Editora se auto perpetua, no sentido de que se um de seus membros renunciar ou morrer, será dever dos restantes, eleger um sucessor, de modo que a revista jamais tenha um número publicado sem uma Comissão Editora completa de cinco. Encarrego a Comissão designada de ter grande cuidado na eleição dos outros que venham a completar seu número – que a pureza de vida, a clareza da verdade, o zelo por Deus, o amor pelos irmãos e a fidelidade ao Redentor sejam características proeminentes dos escolhidos. Em acréscimo aos cinco designados para a comissão, designei outros cinco, dentre os quais prefiro que se faça a seleção, caso surjam vagas na Comissão Editora, antes que se parta para uma seleção geral – a menos que, no ínterim, entre a data da feitura deste testamento e a data de minha morte, ocorra algo que indique a estes como menos desejáveis ou a outros como mais desejáveis para preencher as vagas. Os nomes da Comissão Editora são como segue:
WILLIAM E. PAGE, WILLIAM E. VAN AMBURGH, HENRY CLAY ROCKWELL, E. W. BRENNEISON, F.H.ROBISON
Os nomes dos cinco a quem sugiro como possíveis candidatos a preencher as vagas da Comissão Editora são conforme segue: A. Burgess, Robert Hirsh, Isaac Hoskins, Geo. H. Fisher (Scranton), J.F.Rutherford, Dr. Jonh Edgar.
Eu doei à Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados todas as minhas ações com direito a voto, pondo as mesmas nas mãos de cinco fideicomissárias, como se segue: Hna. E. Louise Hamilton, Hna. Almeta M. Nation Robison, Hna. J.G. Herr, Hna. C. Tomlins, Hna. Alice G. James.
A posição destas fideicomissárias é vitalícia. Em caso de morte ou renúncia as substitutas serão designadas pelos diretores e pela Comissão Editora da Sociedade Torre de Vigia, e pelas fideicomissárias restantes, depois de feita oração em busca da orientação divina.
Faço agora provisão para a possível necessidade de destituir ou demitir qualquer um dos membros da Comissão Editora que tenha sido considerado indigno do cargo, seja por razão doutrinal ou falta moral.
Pelo menos três devem formar uma junta para apresentar as acusações, e a Junta Judicativa que cuidará do assunto será composta dos fideicomissários da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, e das cinco fideicomissárias portadoras de minhas ações com direito a voto, com exceção do acusado. Para que se efetue a destituição é preciso que destes dezesseis membros pelo menos treze estejam de acordo com a ação judicativa.
É meu desejo que esta Última Vontade e Testamento seja publicado no número de A Sentinela que se seguir à minha morte.
É minha esperança que tanto no meu caso, como no caso do querido Israel de Deus, logo nos encontraremos para jamais nos separarmos, na primeira ressurreição, na presença de nosso Amo, com quem está a plenitude do gozo para sempre. Estaremos satisfeitos quando despertarmos na semelhança dele –
“Transformado de glória em glória”
(Assinado),
Charles Taze Russell
Entre outras coisas, deve-se notar que Russell declarou que considerava a revista “A Sentinela” como sua propriedade, depois doada à corporação, mas com o entendimento de que tivesse pleno controle sobre seu conteúdo e publicação. Isto obviamente não se enquadra ao ensino atual da organização quanto à direção e alimentação espiritual por meio de uma classe do “escravo fiel e prudente.”
Pode-se observar também que ele deu instruções para formação de uma comissão para dirigir a publicação da matéria e que Rutherford não se achava no primeiro grupo de cinco candidatos alistados. Além disso, nota-se que Russel deixou suas ações da corporação para cinco mulheres como fideicomissárias, e que selecionou três mulheres para servir como testemunhas de seu testamento.
“A Sentinela” de 15 de março de 1990 contém artigos sobre o Corpo Governante e suas funções, explicações destinadas a aparentar um quadro ideal. Estas falam dos “progressivos aprimoramentos” e dos “refinamentos contínuos” da organização, como se estes fossem um processo constante e harmoniosamente conduzido em cumprimento de Isaías 60:17. Elas apresentam a ficção de que um Corpo Governante estava em funcionamento ao longo da história da Torre de Vigia. Conforme demonstrado nos capítulos 3 e 4 deste livro, a realidade é bastante diferente. Durante as primeiras sete décadas da história da organização, não se falava e nem se pensava em termos de um “corpo governante”. Russell fez arranjos para que, após sua morte, comissões cuidassem dos assuntos e compartilhassem a autoridade e a responsabilidade. Imediata e efetivamente, Rutherford eliminou essas comissões, esmagou qualquer oposição e durante as duas décadas seguintes, exerceu de modo autocrático o controle total como presidente da sociedade civil. Ao mesmo tempo em que tentou amenizar a atmosfera existente, Knorr reteve em suas mãos esse controle total até que uma espécie de “revolução palaciana” arrancou da presidência da sociedade o seu poder. A partir de 1976, a autoridade foi transferida de um único homem para um grupo de homens, e, depois de 50 anos, as comissões passaram novamente a funcionar. Este cenário de vai-e-vem dificilmente se ajusta ao quadro de um processo harmonioso de “progressivos aprimoramentos” e “refinamentos contínuos”.
Mais recentemente, a organização produziu um novo livro de sua história, publicado em 1993, e intitulado “Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus”, substituindo seu similar anterior “As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino” (em inglês). Em seu prefácio, ele comenta que embora outros tenham escrito sobre as Testemunhas de Jeová, “nem sempre o fizeram de modo imparcial”. Consequentemente, ele declara que:
“Os redatores desta obra empenharam-se em ser objetivos e em apresentar uma história cândida”
A vasta maioria das Testemunhas de Jeová não tem qualquer acesso aos arquivos do passado, como também nenhum conhecimento pessoal dos eventos relacionados com o desenvolvimento da organização. O funcionamento da estrutura central de autoridade ou dos homens que formam essa estrutura interna de autoridade são igualmente desconhecidos para elas. Ficam elas assim, à mercê dos redatores dessa “história cândida” e imparcial. Poucas vezes vi uma versão mais “saneada” e menos “objetiva” dos fatos. Sua descrição da história da organização e de seus procedimentos pinta um quadro que em boa medida difere da realidade.
Para citar apenas alguns exemplos dentre muitos:
Com respeito à identificação do “servo fiel e prudente” de Mateus 24:45-47, este livro finalmente admite (nas páginas 142, 143, 626) que, “por vários anos” a revista A Sentinela expressou o conceito de que Charles Taze Russell era aquele escolhido “servo fiel e prudente”, e de que de 1896 em diante, o próprio Russell reconheceu “a aparente razoabilidade” deste conceito. O livro não reconhece o fato de que Russell não apenas considerava como “razoável” a aplicação feita a um indivíduo (ele próprio) como o especialmente escolhido “servo fiel fiel e prudente”, mas que (nos números de A Sentinela que o livro alista ao pé da página) ele efetivamente argumentou em favor disso como uma verdadeira aplicação do texto, ao invés da posição que havia assumido em 1881. Em vez disso, continua-se a enfatizar a declaração de Russell em que ele aplicava o termo ao inteiro “Corpo de Cristo”.
O livro não informa seus leitores que na edição de 1 de outubro de 1909 de A Sentinela Russell descreveu como seus “opositores” aqueles que aplicassem o termo “servo fiel e prudente” a “todos os membros da igreja de Cristo”, em vez de a um indivíduo. Tampouco conta a seus leitores que a edição especial de “A Sentinela” de 16 de outubro de 1916 afirmava que, embora não reivindicasse abertamente o título, Russell “admitia isso em conversa particular”.
E embora finalmente reconhecendo que durante anos após sua morte, a revista “A Sentinela” promovia o conceito de que Russell era aquele “servo”, o livro não dá ao leitor nenhuma idéia da insistência com que isto era feito, como quando se afirmou que todo aquele que tivesse conhecimento do plano divino de Deus deveria admitir verazmente que “derivou esse conhecimento de seu estudo da Bíblia em conexão com o que o irmão Russell escreveu; que antes desse tempo, ele nem sequer sabia que Deus tinha um plano de salvação”; ou quando se descreveram aqueles que questionassem qualquer ensino de Russell como tendo “rejeitado o Senhor” por terem rejeitado seu servo especial. (Veja páginas 179 a 183 deste livro; também em sua seqüência “In Search of Christian Freedom” (“Em Busca da Liberdade Cristã”), páginas 78-84).
Da mesma forma não explica o paradoxo criado pelo próprio ensino da Torre de Vigia: por um lado, o ensino da atualidade de que em 1919 Cristo Jesus definitivamente selecionou, aprovou e identificou uma “classe do servo fiel e sábio” e, por outro, o fato de que em 1919 os mesmíssimos que foram escolhidos acreditavam que o “servo fiel e prudente” eram, não uma classe, mas um só indivíduo, Charles Taze Russell, selecionado muitas décadas antes de 1914 por um Cristo reinante que se tornara “presente” desde 1874.
Faz-se um esforço (nas páginas 220 e 221 do novo livro de história) para negar que o segundo presidente Joseph F. Rutherford, buscou ganhar pleno e total controle da organização. Apresenta-se uma citação de Karl Klein para retratá-lo como um homem essencialmente humilde, que ‘parecia um garotinho em oração a Deus’.
Revela ainda o registro histórico que qualquer um, incluindo os membros da Diretoria ou da Comissão Editora que expressasse discordância dele era rapidamente eliminado de qualquer posição organizacional que porventura ocupasse. Basta apenas conversar com outros que estavam na sede durante a presidência dele para saber que o quadro de humildade descrito por Karl Klein não se harmoniza com a realidade, e que para todos os efeitos e propósitos a palavra do “Juiz” era lei. Eu estive ativamente associado com a organização durante os últimos cinco anos de sua presidência, e sei da forte impressão que o homem me causava e da opinião que os outros expressavam. A maioria das Testemunhas de hoje não teve tal experiência. Mas o Filho de Deus disse que ‘da abundância do coração a boca fala’, e que ‘é pelas tuas palavras que serás declarado justo ou condenado’. (Mat.12:34,37) Creio que qualquer um que simplesmente leia as matérias encontradas na revista “A Sentinela” dos anos 20 a 1942 pode facilmente perceber o espírito não de humildade, mas de dogmatismo e autoritarismo que emanavam de seus artigos. As invectivas e até a linguagem rude eram empregadas contra qualquer um que ousasse questionar qualquer posição, diretriz ou ensinamento que procedesse da organização da qual ele era o chefe.
Nas mesmas páginas, faz-se um esforço para demonstrar que Rutherford não era visto pelos membros da organização como “seu líder”, e cita-se a sua negativa pessoal desta posição, feita em 1941 pouco antes de sua morte, como prova disso. As palavras estão lá mas os fatos não. Ao passo que reconhecidamente os adeptos da Torre de Vigia viam a Cristo como seu líder invisível, o fato é que eles consideravam Rutherford como seu líder terrestre visível, contrariando a injunção de Cristo em Mateus 23:10: “tampouco sejais chamados ‘líderes’, pois o vosso Líder é um só, o Cristo.” Rutherford não podia deixar de ter sabido que os membros da organização o viam sob essa luz. Considere essa matéria de O Mensageiro, o relatório de um congresso da Torre de Vigia, de 25 de julho de 1931, descrevendo grandes assembléias realizadas naquele ano nas principais cidades européias.
Aqui termina essa citação do livro de Ray Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová nos EUA.
Nas páginas seguintes deste livro, há fartos documentos e fotos históricas DA PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO com Rutherford sendo chamado nas legendas, de “LÍDER” e assim reconhecido pelas Testemunhas de Jeová de sua época.
Eis aí o início do mito. Aqui estão as mudanças “progressivas” até o quadro de hoje no qual se acham homens auto-designados como “escravo” e que se dizem orientados pelo espírito santo de Deus.
- Mais Dois Mitos
Alistaremos a seguir alguns outros mitos e crendices que sustentam as fantasias teológicas e alegadamente “bíblicas” das Testemunhas de Jeová.
O SEGUNDO MITO (crendice) tem a ver com o valor nutritivo do alimento espiritual provido pela classe deste referido “escravo fiel e discreto”.
É muito difícil para uma Testemunha de Jeová achar que esse “alimento espiritual” possa causar indigestão aos que dele se alimentam. E tem isso ocorrido? Para responder a essa pergunta, teremos de estudar concomitantemente um TERCEIRO MITO que fez parte da vida de muitas Testemunhas por várias décadas: a “geração de 1914 que não passaria”.
Para introdução desse tema, vejamos o que a organização ensinava sobre isso em “A Sentinela” de 1 de janeiro de 1970, página 11 , parágrafos 2 e 3. Com o tema “Retorne a Jeová enquanto ainda há tempo” e sub-tópico: “O tempo para se retornar se está esgotando”, ela fez as seguintes afirmativas: (Sublinhei algumas partes)
“Se é alguém que antes já estudou a Palavra de Deus com as Testemunhas de Jeová, conhece bem a ABUNDÂNCIA DE EVIDÊNCIA bíblica que prova que, desde o ano de 1914, todo este sistema de coisas está no seu “tempo do fim” e encara em breve a destruição completa na guerra universal do Armagedom. Leu as palavras de Jesus em Mateus 24, Lucas 21 e Marcos 13, descrevendo as guerras mundiais que tem observado, acompanhadas por fome, pestilência e grandes terremotos.
Não se lembra de que Jesus, ao profetizar sobre este período dos últimos dias, que começou em 1914, disse também: Deveras, eu vos digo: Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram? (Luc. 21:32) Os que tinham apenas idade suficiente para compreender o que estava acontecendo ao mundo em 1914 já estão chegando agora aos setenta anos de idade. Sim, o número dos daquela geração esta diminuindo rapidamente, mas antes que todos eles desapareçam, este sistema terá de ter o seu fim na guerra do Armagedom. Isto certamente salienta que resta agora apenas um tempo muito curto para se retornar a Jeová.”
Há alguns anos, o ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, Ray Franz, discorreu sobre esse alimento profético, a geração de 1914, servido durante muitos anos pela organização. Ele disse:
Início da Citação:
“Toda a referência a 1914 está agora apagada, apresentando a evidência gráfica desta mudança crucial – bem como, de fato, indicando que “o Criador” tinha, de algum modo, renegado sua “promessa” relacionada com a geração de 1914.
Resta saber que efeitos trará esta mudança. Imagino que os que sentirão estes efeitos de modo mais agudo serão os adeptos mais idosos, com mais tempo na organização, que haviam se agarrado à esperança de não morrerem antes do cumprimento de suas expectativas com respeito à plena realização das promessas de Deus. Provérbios 13:12 diz que “a expectativa adiada faz adoecer o coração, mas a coisa desejada, quando vem, é árvore de vida”. Quaisquer sentimentos advindos de um coração doente (devido à expectativa adiada) que estes venham agora a experimentar, não são de responsabilidade do Criador, mas dos homens que neles implantaram e alimentaram as expectativas falsas conectadas a uma data.
Os mais jovens ou mais recentemente filiados à organização provavelmente não sentirão de modo tão forte o impacto da mudança. Esta veio, afinal de contas, envolta num linguajar que nenhum reconhecimento faz dos erros por parte da organização, mas que recobre a mudança de termos como “entendimento progressivo” e “luz crescente”. Estes mais novos talvez não tenham conhecimento da intensa insistência com que, durante décadas, o conceito da “geração de 1914” foi propagado, de quão positivamente ele foi apresentado como indicador seguro da “proximidade do fim”. Eles talvez não imaginem o modo firme com que o ensino da “geração de 1914” foi apresentado como sendo, não de origem humana, mas de origem divina, não um cronograma baseado em promessas humanas, mas baseado na “promessa de Deus”. Esta vinculação implícita, de quarenta anos, entre Deus e sua Palavra e um conceito agora falido, apenas aumenta o peso da responsabilidade. Alguém poderia recordar-se das palavras de Jeová em Jeremias 23:21:
‘Eu não enviei os profetas, assim mesmo eles correram; não falei com eles, assim mesmo, eles profetizaram’.
Esta mudança básica só pode ter ocorrido em resultado de uma decisão do Corpo Governante. Como se demonstrou, o tema essencial envolvido veio a discussão ainda nos anos 70. Não se pode senão imaginar quais serão os pensamentos dos membros do Corpo Governante hoje, que sensação de responsabilidade eles sentem. Cada membro daquele Corpo sabia na ocasião, e sabe hoje, qual tem sido o histórico da organização no campo do estabelecimento de datas e das predições. Por meio das publicações, isto é explicado à base de “um desejo fervoroso de ver o cumprimento das promessas de Deus em sua própria época”, como se não se pudesse ter tal desejo fervoroso sem a presunção de estabelecer um cronograma para Deus, ou de fazer predições e atribuí-las a Ele, como se fossem baseadas em sua Palavra. Eles sabem também que, apesar dos repetidos erros os líderes da organização, continuaram a alimentar os membros dela com novas predições. Eles sabem que a liderança tem consistentemente deixado de assumir a plena responsabilidade pelos seus erros, de admitir que a liderança estava simples e meridianamente errada. Eles se empenharam em proteger a sua imagem e suas reivindicações de autoridade por esforçar-se em fazer parecer que os erros cabiam aos membros da religião como um todo. Em um artigo sobre “Predições Falsas ou Profecia Verdadeira”, a “Despertai!” De 22 de junho de 1995 (página 9) disse:
“Os Estudantes da Bíblia, conhecidos desde 1931 como Testemunhas de Jeová, esperavam também que o ano de 1925 traria o cumprimento de maravilhosas profecias bíblicas. Eles presumiram que naquele tempo começaria a resurreição terrestre, que traria de volta homens fiés do passado, como Abraão, Davi e Daniel. Mais recentemente, muitas testemunhas achavam que eventos relacionados com o começo do Reinado Milenar de Cristo poderiam começar a ocorrer em 1975. Sua expectativa baseava-se no entendimento de que o sétimo milênio da história humana começaria então.” [O sublinhado é meu].
A revista “A Sentinela” 1 de novembro de 1995, ao apresentar o novo ensino com respeito a “esta geração”, segue a mesma tática, ao dizer (página 17):
“O povo de Jeová, ansioso de ver o fim deste sistema iníquo, às vezes tem especulado sobre quando irromperia a “grande tribulação”, até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida duma geração desde 1914. No entanto, ‘introduzimos um coração de sabedoria’, não por especular sobre quantos anos ou dias constituem uma geração, mas por refletir em como ‘contamos os nossos dias’ em dar alegre louvor a Jeová. (Salmo 90:12) [O sublinhado é meu].
Desta forma, a liderança tira dos ombros a responsabilidade que, com toda justiça, cabe a ela, aconselhando piedosamente a comunidade de seus membros com respeito às suas condições espirituais, como se tivesse sido o ponto de vista espiritual deles a causa do problema. Não querem reconhecer que, os membros NÃO DÃO ORIGEM A NADA, e que os membros se apegaram a esperanças quanto a várias datas exclusivamente porque OS LÍDERES da organização os alimentaram com matéria claramente destinada a estimular tais esperanças, que cada data mencionada e todas as conjecturas e ‘especulações’ e ‘cálculos’ ligados a essas datas, se originaram, não da comunidade de membros, mas dos LÍDERES. De certo modo, é como se uma mãe, cujos filhos adoeceram de indigestão, dissessem de tais filhos, “Eles não tiveram cuidado com o que comeram”, quando, de fato, as crianças comeram simplesmente aquilo que a mãe lhes serviu. E não apenas lhes serviu mas insistiu que o alimento devia ser aceito como saudável, parte de uma dieta superior impossível de se obter em qualquer outro lugar, tanto que qualquer demonstração de insatisfação com tal alimento seria respondida com ameaça de punição.
Fim da segunda citação do livro “Crise de Consciência”, de Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová
- O Fim de uma Esperança Vã
Tal ensinamento (“alimento”) foi mudado vergonhosamente por ter se tornado insustentável!
Indubitavelmente, tal ensino tinha “alimentado” a esperança de muitas Testemunhas de Jeová de verem o Armagedom ou a justiça de Deus finalmente em ação enquanto ainda estavam vivas, mas, de repente, deixou de existir, sim, foi apagado como tênue luz que havia sido.
Com a rapidez que veio, esse mito se foi, aparecendo pela última vez no rodapé da edição da revista “Despertai!” de 22 de outubro de 1995:
Na “Despertai!” de 8 de novembro de 1995, ele já tinha sido completamente alterado. De uma revista para a outra, “a geração que não passaria”, deixou de existir como a luz de uma lâmpada que se apaga; não mais era a de 1914, mas qualquer uma que visse o fim:
Portanto, a afirmação categórica de rodapé da revista Despertai! acima, sustentada de 1982 até 22 de outubro de 1995, era:
“Esta revista gera a confiança na promessa do criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que passe a geração que viu os acontecimentos de 1914“.(Sublinhado é meu)
E como ficou essa afirmação surgida pela primeira vez no rodapé de uma edição de “Despertai!” 1982? Ela foi alterada em 08 de novembro de 1995 para:
“Essa revista gera confiança na promessa do criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, prestes a substituir o atual sistema de coisa perverso e anárquico.” (Sublinhado é meu)
Como é difícil manter viva uma esperança vã! A verdade e o tempo são os grandes inimigos dos mitos e das crendices. (Atos 1:7)
- Brilha uma Nova Luz
Mas um QUARTO MITO tem alimentado as Testemunhas de Jeová. Para entendê-lo, uma pergunta precede: será que “Grande Multidão” pertence a Cristo?
Segundo o Corpo Governante, a resposta é NÃO!
E assim começa mais um mito, o quarto em questão!
Falando da ressurreição em 1 Cor. 15:23, Paulo disse:
“Mas cada um na sua própria categoria: Cristo, as primícias, depois os que pertencem a Cristo durante a sua presença.”
Segundo a Sociedade, quem são os que pertencem a Cristo? A resposta está no livro “Poderá Viver…”, página 172, par. 20:
“Os que pertencem a Cristo são os 144.000 discípulos fiéis escolhidos para dominarem com ele no Reino.”
- Aumentando o Poder de Dominância
O ensino da Sociedade é bem claro: APENAS OS 144 MIL pertencem a Cristo!
Em parte alguma da Bíblia, você leitor, encontrará a afirmação de que os que “pertencem a Cristo são os 144 mil”.
Ao invés, a Bíblia diz em João 1:12:
“No entanto, a tantos quantos o receberam, a estes deu autoridade para se tornarem FILHOS DE DEUS, porque exerciam fé no seu nome.”
Se o leitor escrever à Sociedade ou perguntar a um ancião sobre isso, a resposta será que esse texto se aplica APENAS AOS UNGIDOS, os 144 mil. Esta, porém, não é uma resposta bíblica. As duas passagens em que se mencionam os 144 mil (Rev. 7:4 e 14 1,3) não dizem isso.
O que a Bíblia diz (João 1:12) é que tantos quantos recebem a Cristo, tornam-se “filhos de Deus”. Como é inconcebível que os que “pertencem a Cristo” (1Cor. 15:23) não sejam também filhos de Deus (João 1:12) como o próprio Jesus é, torna-se bem claro que este ensino da Sociedade não está em harmonia com a Palavra de Deus.
A quem devemos ser leais? Ao ensino da Palavra de Deus ou à uma religião?
Esse tem sido mais um alimento espiritual servido à mesa dos irmãos que frequentam os salões do Reino das Testemunhas de Jeová. Por outro lado, essa abordagem de um grupo governante serve para aumentar o domínio, o controle e o poder sobre milhões de vidas humanas.
A organização TJ também afirmou: “De modo que, em estrito sentido bíblico, Jesus é o “mediador” apenas dos cristãos ungidos. O novo pacto terminará com a glorificação dos do restante que hoje estão neste pacto mediado por Cristo. A ‘grande multidão’ de ‘outras ovelhas’ que se forma hoje não está neste novo pacto. Mas, pela sua associação com o ‘pequeno rebanho’ dos que ainda estão neste pacto eles obtêm os benefícios que resultam deste novo pacto.” Ou seja, a organização TJ simplesmente afirma categoricamente que os da Grande Multidão NÃO TÊM Cristo como mediador deles. Isso está na revista A Sentinela de 15/09/1979, página 32. O leitor poderá verificar essa incrível declaração absurda no próprio site da organização.
Veja esse artigo mais detalhadamente e note que a ORG.TJ não inclui os da “Grande Multidão” no “Novo Pacto”. Observe de novo:
- Outros Mitos
Mas embora haja crenças fabricadas pelo Corpo Governante, outras surgem dentre elas mesmas. À guisa de exemplo, veja algumas destas nesta curta lista de mitos que circulam entre as Testemunhas de Jeová nos dias atuais:
- Contribuições Voluntárias
As Testemunhas pensam que a maior coleta de contribuições vem através de “contribuições voluntárias”, conforme diz o livro “Raciocínios” respondendo a pergunta da página 386:
“Como é financiada a obra das Testemunhas de Jeová? Por meio de contribuições voluntárias, como acontecia no primeiro século. (2 Cor. 8:12; 9:7).”
Na verdade, a maior quantidade de dinheiro obtido pela Sociedade Torre de Vigia realmente VEM de “doações” que as Testemunhas fazem e não de publicações “colocadas no campo” (vendidas) como alguns têm afirmado. A organização insiste em pedir doações e contribuições voluntárias o tempo todo em suas reuniões, copiando isso de muitas igrejas às quais ela apelidou de “cristandade”.
- Doações aos milhões:
As Testemunhas trazem “REGULARMENTE” um donativo e o depositam numa “caixa marcada” para isso. Podem dar o quanto quiserem e essas contribuições são encorajadas principalmente nas Reuniões de Serviço.
Evidentemente, os publicadores têm sido constantemente instados a “fazer uma distribuição sábia das publicações” com as quais contribuem $ e mostrar “habilidade de identificar o interesse genuíno” daqueles com quem eles deixarão publicações muitas vezes em troca de incentivados “donativos”.
É por tais donativos a Torre obtém um significativa coleta de dinheiro para a “obra”, principalmente nos países mais ricos, e também por meio de doações/contribuições espontâneas de irmãos mais abastados.
Com esse dinheiro arrecadado de várias formas e fontes e livre de impostos, a Sociedade tem comprado e mantido excelentes propriedades pelo mundo afora, muitas delas em países muito ricos como os Estados Unidos.
É válido frisar que não se investe em benefícios materiais de Testemunhas de Jeová pobres, como creches, escolas, hospitais, etc. A preocupação (e insistência) é apenas com o “alimento espiritual” que pode, conforme a organização ensina, produzir frutos para um “futuro eterno”. Sem nenhuma dúvida, posso afirmar que até mesmo alguns professos “ungidos” em idade avançada que conheci aqui no Brasil passavam por enorme aperto financeiro, uma vida muito difícil, fatos que testemunhei pessoalmente. Em contraste com isso, no entanto, Ray Franz, ex-membro do Corpo Governante, afirma em seu livro “Crise de Consciência”, página 269, parágrafo dois, primeira edição em português, que “os membros do Corpo Governante podem regularmente gozar de férias em lugares com os quais a maioria das pessoas só conseguem sonhar”.
Um último detalhe: de acordo com Tom Cabeen, que supervisionava as operações gerais da gráfica de Brooklyn por vários anos, cada revista “A Sentinela” e “Despertai!” tinham um custo total final de cerca de três centavos e meio de dólar até 1980 quando ele deixou este departamento. (Livro “Em Busca da Liberdade Cristã”, página 721, em inglês). Imagine o quanto a Torre faturou como gráfica em décadas seguidas até meados de 2000 quando ainda se imprimiam e eram comercializadas milhões de publicações da forma direta. Para a Torre, isso tem mudado para pior nos últimos anos até o presente ano 2020, entrando 2021.
E continua a fome cada vez maior para levantar mais e mais “donativos”. Há até mesmo um certo, digamos, desespero nos recentes clamores da organização para que seus membros revertam mais dinheiro e bens em benefício dela. O grande MITO do “derramamento de ricas bênçãos de Deus” na forma em que elas (as “bênçãos”) ocorriam, tem ficado para trás. Ou a Torre se reinventa para arrecadar de outras formas ou ela encontrará sérios problemas de fluxo de caixa. Talvez por isso a venda de tantas propriedades mundo afora também destinada a pagar processos e manter o fantasioso “carro celestial” andando…
- A “Grandeza” da Obra e o Espírito Cristão
De acordo com o livro “Em Busca da Liberdade Cristã”, de Ray Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, apenas na área do Brooklyn Heights, EUA, por exemplo, uma das áreas com o metro quadrado mais caro do mundo, ela tinha vários prédios residenciais e adicionalmente comprou enormes hotéis dentre os principais da área: O Hotel Towers, Hotel Standish Arms, e o hotel Bossert.
Há algumas décadas, a Torre de Vigia comprou por seis milhões de dólares um edifício de 26 andares nas proximidades do Brooklyn.
O que dizer dos complexos gráficos de edifícios que cobrem dúzias de quarteirões em muitos países?
E da área próxima (Vinegar Hill) ao Brooklyn, ela possui agora MAIS UM complexo residencial de 30 andares?
Ou no condado de Ulster, New York com propriedades avaliadas eram em milhões de dólares?
Ou perto de Patterson, Nova York onde ela havia comprado 684 acres de terra e um complexo multimilionário que incluiria a Escola Bíblica de Gileade e um hotel de 150 apartamentos que seria chamado de Patterson Inn.?
Na internet, o leitor hoje pode facilmente ver centenas de fotos de grandes propriedades da organização em Warwick, EUA e em outras dezenas de lugares pelo mundo. A Torre de Vigia é muito poderosa pelo império de imóveis que ela adquiriu através da força da irmandade TJ. São imensas áreas de ostentosos “Lares de Betel” com suas vistosas fazendas e gigantescos complexos gráficos, suntuosos salões de assembleias, salões do Reino, etc.
Todas essas são obras que impressionam os que as visitam ao passo que dão uma forte impressão de que, como em outras igrejas ainda mais ricas e também supostamente “abençoadas por Deus”, o espírito humilde de Cristo não está presente. (Compare com Mateus 8:20)
E onde ficam as palavras do exemplo maior dos cristãos? “As aves têm poleiros e as raposas têm covis, mas o filho do homem não tem onde recostar a cabeça”.
- A Obra de Pregação e os Novos Membros
As Testemunhas de Jeová pensam que a maior parte dos novos adeptos se chegam aos salões do Reino através da pregação de porta em porta, mas a grande maioria destes vêm por meio do testemunho informal e do contato com membros de suas famílias que são Testemunhas, processo esse igual ao que também ocorre em outras religiões.
- Bênçãos Singulares?
As Testemunhas creem que seu crescimento é maior do que o de outras religiões e que as “bênçãos” se abatem sobre “o pequeno que se torna mil” em cumprimento de Isaías 60:22. Alegam também que “sem a mão de Jeová, não seria possível tal crescimento e progresso da obra”. Mas basta o leitor olhar para outras religiões que verá crescimentos quer maiores em tamanho ou em riqueza. Ao estudar o impressionante crescimento de igrejas como Assembleia de Deus, Igreja Universal, Mórmons, etc, as Testemunhas poderão sentir que várias outras religiões do mundo alegam exatamente a mesma coisa: “bênçãos divinas” estão sendo igualmente “derramadas”, e tantas riquezas adentrando os umbrais da “adoração do verdadeiro Deus”.
Apenas como inferência para o leitor, vejamos o que ocorreu com os percentuais de “crescimento” da “Obra do Tempo do Fim” depois das DUAS grandes mudanças (novas “luzes” ou “entendimentos) em 1995. Mas antes de mostrarmos esses percentuais, lembremos as duas mudanças feitas naquele ano (1995):
Mudança Um: a geração que presenciou os acontecimentos de 1914 veria o fim deste sistema de coisas e o início de uma nova ordem de coisas na terra – “A Verdade Que Conduz à Vida Eterna”, página 95; esse ensino foi anulado em “A Sentinela” 1/11/95, página 19, par. 12 e;
Mudança Dois: a obra de separação de ovelhas e cabritos estava em andamento até aquele ano (1995) à medida que as “Boas Novas” da Sociedade Torre de Vigia eram pregadas – Livro “Poderá Viver…”, página 183, par. 22,23; esse ensino foi mudado em “A Sentinela” 15/10/95, página 23, par. 26.
- Doutrinas Exclusivas?
São ÚNICAS as doutrinas das Testemunhas de Jeová? Esse é um outro mito. Os Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja Mundial de Deus, e outras também acreditam na proximidade do Armagedom e no reino milenar de Cristo e no estabelecimento do paraíso terrestre. Essas crenças são encontradas em diversos grupos de “Estudantes da Bíblia” tais como “Associação da Aurora”, “Movimento da Casa Missionária do Leigo”, etc. A religião dos Cristadelfos não acredita na Trindade, nem no tormento eterno, nem na destruição da terra; não dão/recolhem dízimo, não vão à guerra (os Quakers também não); afirmam basear suas crenças unicamente na Bíblia e a tem como sendo inteiramente inspirada por Deus; não votam nem se unem a sindicatos de espécie alguma; são contra o fumo, o divórcio e não se casam com pessoas de fora; rejeitam as diversões mundanas e não tem clérigo assalariado nem distinção entre clero e leigos. (Fonte: “A Sentinela” de 15 de janeiro de 1963). Semelhantes aos Cristadelfos, há outras religiões que defendem várias doutrinas e modos de vida semelhantes às das Testemunhas de Jeová que acham que têm o único conjunto da “Verdade de Deus”.
- Pureza Cristã Ímpar?
Povo limpo, moralmente santo – uma proteção para as Testemunhas? Esse mito tem sido enfatizado nos discursos públicos, literaturas e conversas informais entre as Testemunhas de Jeová. O que ocorre na verdade é que, por causa da super proteção à imagem da organização, os membros são incentivados a não comentarem para os de fora o que acontece de errado lá dentro, para que não se dê “mau testemunho da verdade” e se cause “vitupério” para o “nome de Deus” (da “organização” também, é claro). Assim, quando ocorre algum caso sério, este é logo abafado e vetado ao consumo externo. Porém, quando alguém que saiu ou um “clérigo da cristandade” é exposto, o alarido é estrondoso e rapidamente usado com desdém pelas Testemunhas.
A regra do jogo é: o erro lá fora é iniquidade, aqui dentro é “imperfeição dos irmãos”.
Mas “A Sentinela” de 1 de janeiro de 1986, página 13, parágrafo 12, nos dá um bom exemplo de que não existe essa pretensa “proteção moral ao povo de Deus”:
“É chocante, mas o fato é que mesmo alguns que eram proeminentes na organização de Jeová sucumbiram a práticas imorais, incluindo o homossexualismo, a troca de casais e o abuso de crianças. É digno de nota, também, que no ano passado 36.638 indivíduos foram desassociados da congregação cristã, a maior parte por práticas imorais.”
Isso mostra que, embora haja a tentativa de ser limpa por expulsar os transgressores, isso não livra a organização das Testemunhas de Jeová e a nenhuma outra religião dos sempre existentes casos de crassa imoralidade sexual e outros pecados graves. E, como em várias religiões, há expulsões, restrições, perdas de privilégios congregacionais e outras formas de punições do tipo “excomunhão” de sacerdotes infratores (Ex.: revista “Isto É”, edição de 16/08/00, pág. 60).
Um chavão muito conhecido na década de 70 e 80 que tentava consolidar esse mito de “povo santo” entre as Testemunhas era: “o pior irmão ainda é muito melhor do que o melhor mundano.”
Injustificada e perigosa presunção! Muitos que criam nisso sofreram por pensar assim. E alguns dos que são lesados por membros (que muitas vezes aparentam ser “teocráticos”) terminam concluindo que “é melhor trabalhar com mundanos do que com irmãos”. É o mito que se desfaz aos poucos…
- Crença que Promove Obediência Prejudicial
E o que dizer da aura de santidade sobre as cabeças dos membros do Corpo Governante em sessão para decidir novos rumos ou “novas luzes”? As Testemunhas creem que tais sessões contemplam as Escrituras o tempo todo.
Esse é um mito que certamente tem servido para promover um espírito de obediência, reverência e subserviência das Testemunhas ao seu Corpo Governante. As Testemunhas de Jeová não têm a mínima ideia sobre o que acontece ou como são as reuniões do Corpo Governante em Warwick, EUA. Talvez achem que são reuniões nas quais os membros do Corpo esperam o derramamento do espírito santo de Deus e que esse os orientará completamente.
Mas como são essas reuniões? Deixemos que um membro que participou delas por muito tempo, possa nos relatar. O que você lerá agora se encontra nas primeiras páginas do livro “Crise de Consciência”. Vamos à citação…
- Início da citação:
“A maioria das Testemunhas de Jeová visualiza as sessões do Corpo Governante como reuniões de homens que passam grande quantidade de seu tempo em estudo profundo da Palavra de Deus. Fazem uma imagem deles como se reunindo para refletir humildemente sobre como podem ajudar seus irmãos a entender as Escrituras, para discutir maneiras construtivas e positivas de edificá-los na fé e no amor, qualidades que motivam as verdadeiras obras cristãs, fazendo tudo isto em sessões nas quais se recorre sempre às Escrituras como a única autoridade válida, final e suprema.
Como já foi observado, os membros do Corpo Governante, melhor do que ninguém, sabiam que os artigos de “A Sentinela” descrevendo a relação entre a corporação e o Corpo Governante apresentavam um quadro que não se harmonizava com a realidade. Do mesmo modo, também, os membros do Corpo Governante sabem, melhor do que ninguém, que o quadro descrito no parágrafo precedente difere na mesma proporção da realidade.
Examinando-se cuidadosamente os registros de uma reunião após outra, verifica-se que o aspecto mais destacado, mais constante e que consome mais tempo, é a discussão de questões que, em última análise, acabavam nesta questão: ‘É caso de desassociação?’
Eu compararia o Corpo Governante (e fiz tal comparação em minha mente por repetidas vezes) com um grupo de homens apoiados contra a parede com muitas pessoas arremessando bolas para eles pegarem e lançarem de volta. As bolas vêm com tamanha freqüência e em tal quantidade que há pouco tempo para qualquer outra coisa. Na verdade, parecia que cada regra feita e emitida produzia somente questões formuladas a partir de novos ângulos, sobrando pouco tempo para pensamento, estudo, discussão e ação verdadeiramente positivos e construtivos.
Durante os anos, acompanhei muitas e muitas sessões em que se discutiam questões que podiam afetar seriamente a vida das pessoas, sem que, no entanto, a Bíblia viesse às mãos ou mesmo aos lábios de praticamente nenhum dos participantes. Existiam motivos para isso; uma combinação de motivos.
Muitos membros do Corpo Governante admitiam que se encontravam tão ocupados com vários assuntos que havia pouco tempo para estudo da Bíblia. Não há nenhum exagero em dizer que o membro mediano não gastava mais tempo, e às vezes menos, em tal estudo que muitas Testemunhas dentre os denominados “as fileiras”. Alguns dos que faziam parte da Comissão Editora (que incluía encarregados e diretores da corporação de Pensilvânia) eram notáveis com relação a isto, devido à tremenda quantidade de trabalho de escrita com que se deparavam e por achar evidentemente que não poderiam ou não deveriam delegá-lo a qualquer outra pessoa para que tudo fosse revisado e apresentado incluindo-se aqui as conclusões ou recomendações.
Nas poucas ocasiões em que se programava alguma discussão puramente bíblica era geralmente para discutir um artigo ou artigos para ‘A Sentinela’ que alguém tinha preparado e sobre o qual havia alguma objeção. Nestes casos, regularmente acontecia que, apesar de avisado com uma ou duas semanas de antecedência sobre o assunto, Milton Henschel, Grant Suiter ou algum outro membro desta comissão se sentia obrigado a dizer: ‘Tenho estado tão ocupado que só tive tempo para examiná-lo rapidamente.’ Não havia nenhuma razão para se duvidar de que estivessem verdadeiramente ocupados. Essa era a questão que me vinha à mente: Como podiam eles votar então com boa consciência sobre a aprovação da matéria, quando não tinham conseguido meditar sobre ela, pesquisar as Escrituras para pô-la completamente à prova? Uma vez publicada, era vista como ‘a verdade’ por milhões de pessoas. Que trabalho de escrita poderia equiparar-se a isto em importância?
Um fator importante nas decisões do Corpo Governante era a regra da maioria de dois terços. Isto às vezes produzia alguns resultados curiosos.
Se, dos quatorze membros presentes, nove favorecessem a retirada do rótulo de “transgressão passível de desassociação” e só cinco favorecessem sua manutenção, a maioria não era suficiente para mudar o rótulo indicativo de desassociação. Apesar da clara maioria, os nove não formavam uma maioria de DOIS TERÇOS. (Mesmo se houvesse dez deles a favor desta mudança, ainda não eram suficientes, pois, apesar de serem dois terços da maioria dos catorze presentes, a regra era dois terços do TOTAL DOS MEMBROS ATIVOS, que durante a maior parte do tempo era dezessete ou dezoito.) Se alguém dentre os nove favoráveis à remoção da categoria passível de desassociação apresentasse uma moção, iria fracassar, já que eram necessários doze votos para que ela passasse. Se alguém dentre os cinco favoráveis à manutenção da categoria de ofensa ‘passível de desassociação’ apresentasse a moção de que a norma fosse mantida, fracassaria naturalmente também. Mas mesmo o fracasso da moção para se reter a categoria não resultaria na remoção dessa categoria passível de desassociação. Por que não? Porque a norma era que alguma moção tinha de ser aprovada antes de fazer-se qualquer mudança em uma norma anterior. Em um dos primeiros deste exemplos de tal voto dividido, Milton Henschel havia expressado o ponto de vista de que, quando não houvesse nenhuma maioria de dois terços, então o ‘status quo deveria prevalecer’, nada deveria mudar. Era muito raro, nestes casos, um membro fazer uma mudança no seu voto, de modo que a coisa acabava geralmente num impasse.”
Aqui termina a citação de Raymond Franz.
Um dos motivos da aura de “santidade e constante uso da Palavra de Deus” ser apenas um mito é muito simples: o Corpo Governante tinha de decidir várias coisas sem o uso da Bíblia porque havia questões sobre as quais as Escrituras eram omissas! Também, como eles mesmos reconhecem, estão muito atarefados com outras coisas e não têm tempo para a devida pesquisa nas Escrituras.
Infelizmente, esta situação gerou muita aflição mundo afora.
Houve muitos casos em que a maioria do Corpo Governante era contra a adoção de uma determinada norma, como são citados diversos casos no livro “Crise de Consciência” e ainda assim a norma foi aprovada porque não houve a maioria de dois terços. Ou seja, mesmo quando a maioria era contra a norma (Ex.: Três tirado de cinco é apenas 60%, não 66,66% como numa maioria de dois terços), a norma continuava a existir.
- Perigo Real
Há um exemplo do perigo real que representa este “arranjo teocrático” existente no Corpo Governante: O SERVIÇO CIVIL ALTERNATIVO que conduziu muitos jovens a prisões, torturas, perseguições, maus tratos e até mortes nas décadas passadas.
Sobre esse caso, há pouco tempo a Sociedade afirmou, falando pelos jovens que sofreram por se negarem a prestar o serviço civil alternativo, que eles apenas “agiram de acordo com o que entenderam” ou “de acordo com os ditames de suas consciências” e “não foi injusto da parte de Jeová” ter permitido o sofrimento, pois a maioria destes homens “alegram-se por ter tido a oportunidade de demonstrar em público e de forma clara que estavam decididos a se manter firmes na questão da soberania universal”. (“A Sentinela” 15 de agosto de 1998, pág. 17, pars. 6 e 7)
Para informação do leitor, o serviço civil alternativo foi proibido pela primeira vez no livro “Seja Deus Verdadeiro”, edição de 1949, pág. 228, depois em “Seja Deus Verdadeiro”, edição de 1955, pág. 231, “Despertai!” de 8 de maio de 1975, pág. 22 e “A Sentinela” de 1 de setembro de 1986, pág. 20. Foi liberado às TJs como “caso de consciência” em “A Sentinela” 1 de maio de 1996, págs. 19 e 20).
Retomando o ponto, veja se foi Jeová que “permitiu” toda a aflição a que foram submetidos tantos jovens. Participe agora de uma curta parte de uma das sessões do CG em que se trouxe o assunto à baila.
Esperavam-se mudanças!
Com o leitor, as palavras de Ray Franz, ex-membro deste conselho executivo central, O Corpo Governante:
- Início – citação:
“Na reunião de 11 de outubro de 1978, dos treze membros presentes, nove votaram a favor de mudar-se a norma tradicional de modo que a decisão de aceitar ou rejeitar o serviço civil alternativo seria deixado a cargo da consciência do indivíduo, mas quatro votaram contra. Resultado? Visto que havia então dezesseis membros no Corpo e nove não representavam dois terços de dezesseis, não se fez nenhuma mudança.
Em 15 de novembro, todos os dezesseis membros estavam presentes e onze votaram a favor da mudança da norma, de modo que a Testemunha que se sentisse conscienciosamente em condições de aceitar tal serviço, não seria automaticamente classificada como infiel a Deus e dissociada da Congregação. Isto representava uma maioria de dois terços. Realizou-se a mudança?
Não, pois depois de um breve intervalo, um dos membros do Corpo Governante anunciou que tinha mudado de idéia. Isso acabou com a maioria de dois terços. Feita uma votação subseqüente, com quinze membros presentes, houve nove a favor da mudança, cinco contra e uma abstenção.
Apesar de em todas estas votações, uma clara maioria do Corpo Governante favorecer a revogação da norma existente, essa norma continuou em vigor e, em conseqüência disso, ainda se esperava que varões Testemunhas corressem o risco de ser presos em vez de aceitar serviço alternativo apesar de achá-lo conscienciosamente apropriado aos olhos de Deus. Embora pareça incrível, esta foi a posição adotada, e a maioria dos membros do Corpo pareceu aceitá-la, tudo como se não houvesse nada com que se perturbar. Estavam, afinal de contas, simplesmente seguindo as regras em vigor.
Em todos estes casos controvertidos, a ‘transgressão passível de desassociação’ não era algo claramente identificado nas Escrituras como pecaminoso. Era assim puramente em resultado da norma organizacional. Uma vez publicada, essa norma se transformava numa carga lançada sobre a associação mundial dos irmãos para que eles a carregassem, junto com as conseqüências da norma. Em tais circunstâncias, é errado achar que se aplicam as palavras de Jesus: ‘Atam cargas pesadas e as põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um dedo para movê-las?’ Deixo que o leitor tire sua conclusão. Apenas sei o que me ditava minha consciência e a posição que me sentia forçado a tomar.
Aqui termina a citação.
Como pode notar o leitor, o perigoso mito de que “os homens do Corpo Governante estão sob a orientação do espírito de Deus”, fez (e ainda faz) com que até mesmo vidas humanas e interesses alheios sejam “sacrificáveis” como em outra questão que na época o Corpo veio à tona: as frações de sangue.
- Conclusão
Em conclusão, é bom lembrar que muitas outras lendas e crendices permeiam ambientes religiosos dogmáticos. As religiões por si só tendem a criar atmosferas vulneráveis aos mitos. Portanto, as Testemunhas de Jeová não são as únicas a sentirem essa compulsão por mitos.
Nos anos em que dirigia o “Estudo de Livro de Congregação”, eu mesmo sentia um orgulho tolo em dizer sobre o livro “Cumprir-se-á…”: “nossa organização é a única que compreende as revelações sagradas de Deus para os nossos dias.” Entendo porque me sentia assim e porque muitos se sentem do mesmo modo entre as Testemunhas de Jeová. Só hoje compreendo os motivos de eu próprio ter crido nas centenas de malabarismos interpretativos e na ginástica mental que a organização fazia (e faz) com a Bíblia, aplicando a si o conteúdo de muitas passagens e profecias bíblicas, descrevendo essas “aplicações” em seus livros como o de “Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo”. Alguns anciãos são surpreendidos com a pergunta que não quer calar em suas mentes: “mas como é que essa incrível trombeta bíblica ‘X’ foi tocar justamente num congresso insignificante em Cedar Point, Ohio e não num outro evento mundial realmente significativo?!” Muitas Testemunhas fazem perguntas desse tipo ao se empenharem no estudo de publicações da organização, enquanto uma outra pergunta insistentemente martela: “TERÁ SIDO TODO MEU TRABALHO EM VÃO?”
Muitas Testemunhas sinceras fazem intimamente tais perguntas talvez devido ao desânimo do tempo que já investiram na obra da organização, ou por causa da corrosão nas expectativas geradas por ela, ou quiçá devido à presunção de seus líderes e o tratamento de seus pastores, ao passo que observam mudanças fatais nos ensinamentos de sua organização!
Há, claro, dezenas de outras crendices e mitos descritos em nossas seções dessa página. O leitor está convidado a ler sobre eles. Muitos desses, fantasiosos demais, tipo: que Deus não ouve orações de quem sai da Torre, quem sai pára de ter bênçãos divinas, que na organização estão os mais honestos, fiéis e melhores pais, irmãos, amigos, cônjuges, que a organização Torre é “a hodierna arca de salvação”, que Jesus não só foi entronizado nos céus em 1914, mas que inspecionou e só aprovou a organização TJ, que o Corpo Governante nos EUA e até dirigentes locais (anciãos) são designados pelo espírito santo de Deus, que Cristo é mediador apenas dos 144 mil ungidos TJ e não da Grande Multidão nem de mais ninguém, etc.
Por conseguinte, a todas as Testemunhas de Jeová que estão lendo essa página, principalmente os que ocupam cargos na congregação, deixo uma reflexão nas palavras sugestivas de um amigo:
A declaração bíblica sobre um dia que na certa virá, em que cada ancião cristão ‘prestará contas’ ao Supremo Juiz dos seus procedimentos e tratamento com o rebanho de Deus, deveria certamente dar àqueles que exercem grande autoridade entre os cristãos, um sério motivo para avaliarem cuidadosamente o que fazem. (Hebreus 13:17)