Sobre as Testemunhas de Jeová
Ensinos TJ – uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar – Cid Miranda
Ensinos TJ – uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar – Cid Miranda

Ensinos TJ – uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar – Cid Miranda

Copyright © 2000 Cid Miranda

Atualizado 02/11/2020

  • O Início de um Processo de Ruptura do Tecido Familiar

Quando uma pessoa resolve estudar com uma Testemunha de Jeová, ela aprende, logo no início, que está ganhando uma nova e maravilhosa família, uma família espiritual. Isso assegura ao membro novato que, caso sua família o reprove por seguir o movimento, ele não estará sozinho e contará com essa nova e grande família de milhares de irmãos e, de presente, ganhará também os melhores e mais leais amigos que irá conhecer em breve.

Sua família “mundana” (como tratam as Testemunhas os parentes não TJ), deverá entender que aquela futura Testemunha de Jeová terá muitos compromissos “teocráticos” e que a mesma convivência com eles não mais poderá existir, pois eles não fazem parte da “associação cristã, aprovada por Deus”.

Esse rompimento familiar é muito comum em várias religiões e seitas espalhadas pelo mundo. O processo de ruptura familiar é obviamente uma das características mais evidentes nas religiões fundamentalistas, exclusivistas, que alegam ser as verdadeiras continuadoras do cristianismo.

Ver um querido membro da família afastar-se do convívio e do seio familiar em direção a um sistema religioso “vitoriano” é uma amarga experiência.

  • O Processo de Indução

Incontáveis milhares de indivíduos têm sofrido dores emocionais e psicológicas infligidas por diversos ensinos da organização das Testemunhas de Jeová. Vejamos as razões para essa afirmação nos parágrafos seguintes.

A maioria das pessoas está familiarizada com as Testemunhas de Jeová apenas pelo fato de serem acordadas nos fins de semana por seus zelosos recrutadores de prosélitos. Há, porém, ainda muito mais por se saber.

A Torre de Vigia é um movimento religioso americano do século XX, que tem afetado de modo adverso as famílias em todo o mundo, pondo em erosão tanto a coesão como a unidade de uma família, uma vez que um dos membros seja iniciado na fase de doutrinação advinda do processo de recrutamento.

A fase de recrutamento acontece por meio de um estudo sistemático das verdades teológicas subjetivas da organização Torre de Vigia que, com o tempo, tornam-se a única verdade aceitável.

Nos primeiros estágios desta fase de doutrinação, diz-se ao novo recruta que ele deve esperar uma certa oposição da família. Vários textos bíblicos são usados em apoio desse argumento. O que o “estudante” não imagina é que, neste ponto, os laços familiares já começaram a ser cortados. Esta programação sutil é feita por meio da produção de crenças que atuam como filtros mentais, que conduzem a uma percepção míope, deficiente. Isto se faz por meio de uma linguagem hipnótica a qual apenas um linguista experiente, treinado em PNL (Programação Neuro-Linguística) poderia detectar. A programação sutil é feita através de terminologias (nomenclaturas especiais e clichês) e super generalizações com as quais se alimenta o incauto prosélito. 

A dieta de palavras conduz a um modo de pensar radical, que é muito generalizado e, que, com freqüência, está fora de contexto. Uma vez colocados os filtros, a pessoa doutrinada olha para si mesma, para a família e para os outros através de um ponto de vista extremista. Neste ponto, tudo passa a ser visto como preto ou branco, certo ou errado, “nós contra eles”, “Deus ou Satanás”. À essa altura, qualquer desaprovação da família à Torre de Vigia, é percebida como uma trama satânica para minar a fé em Deus e em sua “organização visível aqui na terra”.

  • Isolamento e Alienação

Eventualmente, o novo adepto perde a capacidade de ser objetivo. Não mais consegue olhar suas ações e comentários no contexto mais amplo da estrutura social e do tecido familiar. Passa a ficar plenamente envolvido na agenda da organização. A partir desse ponto, a família não-Testemunha é vista como “parentes mundanos”. Com este rótulo, a família é desumanizada como pessoas “destinadas à destruição” a menos que aceitem a doutrina e o modo de vida das Testemunhas de Jeová, os únicos que praticam “a verdadeira adoração”.

A TJ novata é levada a crer que ela é agora parte de uma família mundial, cujos membros serão os únicos a sobreviver à cataclísmica destruição da humanidade no Armagedom.

O “estudante” ou a TJ recém-batizada passa então a ser mantida num estilo de vida regulamentado que não deixa tempo nem motivação para visitas ou reuniões familiares, e caso estas ocorram, ensina-se ao novo membro que ele deve aproveitá-las para fins de proselitismo ou para “dar testemunho informal”. Isto, naturalmente, com freqüência, irrita e ofende os parentes “mundanos” e serve para comprovar à essa nova Testemunha de Jeová que Satanás realmente cega sua família.

Muitas ex-Testemunhas sofreram dores emocionais e remorsos da culpa de imaginar que cortaram todos os vínculos familiares a ponto de sequer comparecerem a funerais ou eventos da família de que teriam participado antes de se tornarem Testemunhas.

  • A Solidão da Saída

O verdadeiro problema começa quando acontece algo que faz a TJ querer deixar a organização, ou quando ela é expulsa. É então que a própria pessoa descobre que está separada dos antigos amigos e dos membros da família biológica. Isso se deve às práticas extremistas de rejeição comuns ao movimento religioso.

Não há modo honroso de deixar a organização das Testemunhas de Jeová.

Na fase de doutrinação, não se diz ao novo prosélito que recebeu uma PASSAGEM APENAS DE IDA para um sistema de vida regulamentado, monitorado.

Muitas ex-Testemunhas relatam dificuldades para reintegrar-se aos ex-amigos, à família e à comunidade. É como se tivessem estado presos num lapso, ou vácuo de tempo, reféns deste grupo religioso de controle cerrado.

Nos anos recentes, muitos começaram a descobrir que o que lhes foi dito pelo Corpo Governante era inconsistente e enganoso, e que vinham seguindo ordens irrealistas e autoritárias de uma liderança nebulosa chamada de “A Sociedade” ou “A Organização”.

Descobrem também que vinham mantendo suas vidas reguladas até o ponto de terem de ler matéria impressa com procedimentos destinados a serem usados nos conflitos familiares. Vamos a dois exemplos rápidos:

1. Um ancião contatou Betel para saber se sua responsabilidade paterna estava livre de culpa devido à sua filha adolescente rebelde que não se submetia a suas decisões.

2. Um ancião se reuniu com outros co-anciãos para indagar sobre como ele deveria tratar seu filho recém-desassociado, conforme as instruções da Sociedade.

Isto evidencia um sério problema de total dependência a uma estrutura de autoridade que segue reinando sobre vidas humanas.

Devido a recentes mudanças doutrinais dentro da organização, alguns começaram a ter dúvidas sobre esse modo de vida regulamentado e legalista, mas assim mesmo existe um medo de se discutir isso abertamente, já que isto pode levar a uma investigação e depois à expulsão com direito a um “Cartão de Desassociação” no qual será escrito “por apostasia” e que será guardado no Betel e na congregação do ex-membro.

Alguns optam por sair silenciosamente e não deixam seu endereço posterior.

Certo ex-ancião calcula que nos últimos 12 anos em que foi superintendente presidente, cerca de 40% dos membros da congregação simplesmente desapareceram sem deixar endereço algum para que não fossem localizados.

Após ficarem no movimento durante décadas, os indivíduos encontram-se numa situação de grandes perdas por terem sido apartados durante anos a fio de suas famílias e antigos amigos que nunca aceitaram sua abordagem frequentemente extremista das coisas, como Testemunhas de Jeová. Podem sentir o desejo de reestabelecer os vínculos familiares, mas alguns sentem-se incapazes de fazê-lo. É possível que queiram buscar alvos de trabalho e de carreira diferentes dos que tinham quando Testemunhas, mas observam que estão agora num mundo altamente tecnológico que os deixou para trás. Assim, alguns destes que saem se defrontam com um mundo de alta tecnologia que os ultrapassou.

A dicotomia é que a família não-Testemunha nem sempre rejeita a Testemunha do mesmo modo que a Testemunha a rejeita por afastar-se ela mesma da família e dos amigos, pensando estar assim agindo em benefício espiritual.

Muitos desenvolvem vidas sociais de destaque e proeminência dentro desta subcultura religiosa e fazem grandes investimentos em seu status na comunidade das Testemunhas de Jeová “recebendo designações” (“privilégios”) como “servos ministeriais”, “anciãos”, “superintendentes”, etc. Alguns níveis de autoridade eclesiástica conduzem a uma “condição especial” dentro da organização, condição essa que muitos preferem manter a ter de discordar de qualquer ensino da Sociedade.

Ter boa instrução secular não é pré-requisito para se alcançar o poder em qualquer cargo ministerial na organização das Testemunhas de Jeová. Por conta disso, muitos gostam de usufruir de um poder que jamais teriam fora da congregação.

Muitos acham difícil sair porque têm filhos adultos e netos com os quais perderiam contato caso abandonassem a organização.

Se uma Testemunha fôr expulsa ou decidir sair devido a um conflito de consciência, ela repentinamente perderá tudo no qual investiu todo o curso de sua vida. Perderá amigos e parentes na organização, a boa reputação e até mesmo tratos comerciais ou empregos dados por Testemunhas.

Algumas pessoas que passaram vários anos na organização, viram todo um histórico de fidelidade e dedicação se pulverizar em menos de cinco minutos nas mãos de homens que seguiam ordens do conselho executivo central em  Warwick, EUA, que não aceita que seus ensinos sejam questionados impunemente por um membro de sua organização.

A Sociedade força uma purgação sistemática de indivíduos e intelectuais que gostam de pensar livremente, mesmo que estes se mostrem pessoas devotadas, muitas delas tendo gasto a maior parte de suas vidas em prol dos interesses da “organização de Deus”.

O relato de expulsão de Raymond Victor Franz, um ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, é a regra ao invés da exceção, e ilustra bem a arrogância, a intolerância e o espírito beligerante dos homens no comando central da organização Torre de Vigia, que alimentam a paranoia contra qualquer questionamento ou crítica de seus ensinos.

Essa atmosfera que atualmente existe entre as Testemunhas é similar à era da ditadura militar no Brasil ou à era de McCarthy nos Estados Unidos quando o medo do comunismo era usado para controlar o pensamento e o comportamento da população. Muitos se lembrarão de como carreiras profissionais foram errônea e negligentemente arruinadas ou destruídas por causa do abuso da autoridade governamental. O Corpo Governante, ou “a Sociedade” segue os mesmos moldes inquisitoriais contra os que discordam de qualquer um de seus ensinos.

Nesse ambiente controlador ninguém está imune à perseguição caso venha a discordar dos ensinamentos da Sociedade e manifestar isso. Alguns indivíduos esbarram em questões doutrinais, encaram a expulsão, e mais tarde descobrem que a Sociedade adotou aqueles mesmos itens questionados como “verdade atual”. Um bom exemplo disso teve a ver com a doutrina da “separação das ovelhas e dos cabritos” por meio da pregação de porta em porta. Em se tratando desse tipo de ocorrência, a única saída para algumas Testemunhas é dizer que “têm esperado em Jeová e que Ele tem sempre enviado uma ‘nova luz’ no devido tempo”. Isso acontece em outras religiões como a dos Mórmons, cujo “Conselho dos Doze Apóstolos” (uma espécie de Corpo Governante composto por doze homens idosos) comumente recebe “novas revelações” ou a dos Adventistas que recebem “novas profecias” como as já famosas de Ellen G. White, uma profetisa.

  • Questões Sexuais

Muitos se recordarão de vários casamentos que foram destruídos quando a Sociedade decidiu regulamentar a vida sexual íntima de seus membros.

Sexo anal e oral – A Sentinela de 1970, (páginas 380 e 381) tratou pela primeira vez desse tema, dizendo:

“Alguns sustentaram, porém que entre marido e mulher é permissível absolutamente tudo. No entanto, tal conceito não é apoiado pela Bíblia. Em Romanos 1:34, 32, onde se fala tanto de homens como de mulheres que praticavam atos sexuais imorais, inclusive atos lésbicos e sodômicos, a Bíblia menciona o uso natural da fêmea. Assim se mostra que entregar-se a tal uso dos órgãos de procriação para satisfazer algum desejo cobiçoso de excitação sexual não é aprovado por Deus.”

Por conta disso, houve grande agitação entre as Testemunhas para saber quem estava praticando sexo oral ou anal no casamento.

Mais artigos foram publicados nos anos seguintes. Ray Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, em seu livro Crise de Consciência, na página 51, (em português) diz:

“A decisão do Corpo Governante em 1972 resultou num considerável número de audiências judicativas à medida em que os anciãos investigavam os relatórios ou confissões das práticas sexuais envolvidas. As mulheres sofriam uma vergonha aflitiva em tais audiências ao responderem às perguntas dos anciãos sobre as intimidades de suas relações maritais. Muitos casamentos, em que o cônjuge que não era Testemunha de Jeová, passaram por um período turbulento, com o cônjuge que não era Testemunha de Jeová protestando veementemente contra o que ele ou ela considerava uma invasão imprópria de sua privacidade no leito conjugal. Alguns casamentos se romperam, resultando em divórcio.”

Prejuízo observado no tecido familiar das Testemunhas através do mundo, veio então uma mudança em A Sentinela de 1 de agosto de 1978, páginas 29-31, onde ainda se lê:

“… Em vista da ausência de claras instruções bíblicas, trata-se de assuntos pelos quais o casal tem de levar a responsabilidade perante Deus, e que estas intimidades maritais não são competência dos anciãos congregacionais, para tentar controlá-las ou promover a desassociação…”

Mas, como sempre, as mudanças tinham de continuar! Brilhou então mais uma luz “progressiva” em 1983, em A Sentinela de 15 de setembro, páginas 30 e 31, na qual a Sociedade VOLTOU aos pontos básicos de sua posição anterior sobre sexo oral e anal ao declarar que embora não coubesse aos anciãos policiar os assuntos maritais privados dos membros de uma congregação, a defesa ou a prática do que ela determinara como relações sexuais desnaturais, pervertidas, entre pessoas casadas, não apenas desqualificaria um homem para ser servo ministerial, ancião, pioneiro ou para qualquer outra posição como também poderia levar até mesmo a expulsão da congregação.

Artigos desse tipo ainda exercem uma tremenda pressão para muitas Testemunhas casadas e, em plena entrada de um novo milênio, isso tudo ainda leva a muitas confissões difíceis de relatos íntimos de casais TJ, aos seus pastores, os anciãos congregacionais.

Ray Franz dá detalhes no mínimo curiosos sobre o que ocorria no Corpo Governante na época em que se discutia muito sobre as práticas sexuais “impróprias”. Leiamos alguns pequenos trechos do capítulo 3 de seu livro Crise de Consciência

Início da citação do livro de Ray Franz:


Certa mulher disse que tinha falado com um ancião e ele lhe havia dito para escrever ao Corpo Governante “a fim de obter uma resposta segura”. Assim, ela escreveu dizendo que ela e seu marido se amavam profundamente e descreveu então “certo tipo de preliminares sexuais” a que estavam acostumados, dizendo: “Creio que é um assunto de consciência, mas estou lhes escrevendo para ter certeza”. Encerrou com as seguintes palavras:

“Estou assustada, sinto-me magoada, e estou mais preocupada neste momento com o sentimento [do meu marido] com relação à verdade… Eu sei que vocês me dirão o que devo fazer.”

Em outra carta típica, um ancião escreveu dizendo que tinha um problema que precisava resolver em sua mente e em seu coração e, para chegar a isto, achou que “era melhor contatar a ‘mãe’ em busca de conselho”. O problema tinha a ver com sua vida sexual dentro do casamento e disse que ele e sua esposa estavam confusos quanto a “onde traçar uma linha entre as preliminares sexuais e o próprio ato sexual”. Garantiu à Sociedade que ele e sua esposa “seguiriam ao pé da letra qualquer conselho que lhes fosse dado”.

Estas cartas ilustram a confiança implícita que estas pessoas vieram a depositar no Corpo Governante e a crença de que os homens que formam esse Corpo poderiam dizer-lhes onde ‘traçar os limites’, mesmo em aspectos tão íntimos de suas vidas pessoais, que eles deveriam seguir estritamente à risca, “ao pé da letra”.

Muitas cartas foram expedidas em resposta pela Sociedade. Com freqüência, esforçavam-se em prover algum esclarecimento limitado (expressando sem dizer diretamente) quanto a quais preliminares sexuais estavam dentro dos limites das ações condenadas, enquanto outras estavam, em razão disso, liberadas.

Carta após carta revelava que as pessoas envolvidas sentiam claramente a responsabilidade diante de Deus de relatar aos anciãos qualquer desvio da norma estabelecida pelo Corpo Governante.

Um homem em um estado do meio-oeste americano, que confessou ter violado a decisão do Corpo Governante no que se refere a suas relações maritais com a esposa, foi informado pelos anciãos que eles estavam escrevendo para Sociedade sobre isto; ele também escreveu uma carta que seguiu anexa.

Passaram-se oito semanas e finalmente ele escreveu outra vez a Brooklyn dizendo que a “espera, a ansiedade e a antecipação estão quase além do que posso aguentar”. Disse que tinha sido removido de todas as designações na congregação, inclusive de fazer oração nas reuniões, e que, “quase a cada semana, estou perdendo alguma coisa pela qual tenho me esforçado e orado durante trinta anos”. Ele implorava por uma resposta urgente, dizendo:

“Preciso muito de algum alívio mental quanto ao conceito que a organização de Jeová tem de mim.”

Alguns dos afetados pela regra da organização eram pessoas cujas funções sexuais normais haviam sido seriamente prejudicadas por uma operação ou acidente. Algumas destas expressavam desalento diante da situação em que foram colocadas pela decisão do Corpo Governante.

Uma destas pessoas, a qual havia ficado impotente desta maneira, havia durante os anos seguintes conseguido realizar sua função sexual por um dos meios agora condenados pela organização. Ele disse que, antes da decisão do Corpo Governante, fora capaz de deixar de sentir-se como um meio-homem porque ainda conseguia satisfazer sua esposa. Agora, ele escrevia dizendo que não podia ver nenhuma prova bíblica para a posição adotada na revista A Sentinela, mas que sua esposa se sentia na obrigação de obedecer e, como ele a amava, acedeu. Disse que sabia que ele era o mesmo de antes, embora estivesse emocionalmente se desmoronando, visto temer que seu casamento fosse ficar seriamente afetado. Implorou que lhe informassem se não havia uma “brecha” na vontade de Deus que lhe permitisse o prazer de satisfazer sua esposa.

Todas estas situações exerciam uma enorme tensão sobre a consciência dos anciãos exortados a tratar com os que violavam a decisão do Corpo Governante. Na conclusão da carta de um ancião, ele diz:

“Acho que posso usar somente aquelas leis e princípios da Bíblia que compreendo com absoluta sinceridade e convicção ao representar a Jeová e Jesus Cristo e, caso tenha de aplicar estas leis e princípios ao exercer minha responsabilidade como ancião na congregação, quero fazê-lo, não porque vim a confiar que esta seja a organização de Jeová e vou segui-la, seja lá o que for que ela diga, mas fazê-lo porque creio sinceramente que é biblicamente aprovado e correto. Quero verdadeiramente continuar crendo como Paulo admoestou aos Tessalonicenses no segundo capítulo, versículo 13 [de sua primeira carta], a aceitar a palavra de Deus, não como de homens, mas pelo que verazmente é, como a palavra de Deus.”

Apesar de eu achar as práticas sexuais envolvidas como sendo definitivamente contrárias a meus padrões pessoais, posso dizer honestamente que não fui a favor da decisão de desassociação tomada pelo Corpo. Mas isso é tudo o que posso dizer. Pois, quando veio a votação, agi de acordo com a decisão da maioria. Senti-me consternado quando o Corpo me designou para preparar a matéria em apoio da decisão. Assim mesmo, aceitei a designação e a redigi como era desejo do Corpo e em conformidade com sua decisão. Assim, não posso dizer que agi de acordo com o mesmo ponto de vista excelente expresso pelo ancião que acabei de citar. A minha crença na organização como a única representação de Deus na terra me levou a fazer o que fiz naquela ocasião sem sentir, particularmente, grandes dores de consciência.

Fim da citação de Ray Franz.


  • Destruição dos Vínculos Maritais

Quando um cônjuge é expulso, a possibilidade de sobrevivência do casamento é pequena ou quase inexistente.

Embora as pessoas desejem paz em sua unidade familiar, um membro ativo da organização poderá não ter paz e viver em eterno conflito por encarar seu cônjuge desassociado/dissociado como perigo ou ameaça em potencial à sua espiritualidade e relação com Deus.

Soando até como tema de um filme do tipo: “Dormindo com o Inimigo”, podemos dizer que a versão do amor, segundo a Torre de Vigia, é algo que evapora instantaneamente quando se é expulso…

  • É Incentivada a Ruptura?

A Sentinela de 15/12/1981, página 25 diz:

“O absoluto perigo à espiritualidade também provê base para a separação. O crente num lar dividido em sentido religioso deve fazer todo o possível para aproveitar-se das provisões espirituais de Deus. Mas, permite-se a separação caso a oposição do cônjuge descrente realmente impossibilite praticar a adoração pura e deveras puser em risco a espiritualidade”.

O livro “Organizados para Pregar o Reino e Fazer Discípulos”, página 172:

“Não há motivos de se escutar o filho ou o cônjuge desassociado, se este tentar justificar-se ou procurar convencer o fiel do seu modo de pensar e agir. Tampouco deve dar-se ouvidos às suas objeções quanto a como o caso foi tratado pela comissão judicativa”.

E na página 171 desse mesmo livro, encontramos a instrução:

“Em fidelidade a Deus, nenhum dos da congregação deve cumprimentar tais pessoas (que saem) ao se encontrar com elas em público, nem deve acolhê-las no seu lar. Até mesmo parentes consanguíneos, que moram no mesmo lar com o parente desassociado, por darem mais valor às relações espirituais do que as carnais, evitam tanto quanto possível o contato com tal parente desassociado”.

Muitas pessoas se sentem amedrontadas diante de tais “conselhos amorosos”. Na verdade, sentem-se intimidadas de modo severo. Muitos membros que já perderam grande parte de sua fé nos ensinos dos homens do Corpo Governante, ainda assim podem se manter na organização pelo resto de seus dias. Adicionalmente, podemos afirmar que alguns que discordam da organização ainda assim se mantém ali por causa de alguns tipos comuns de MEDO que são sutilmente internalizados por meio de publicações estudadas nas reuniões semanais programadas e controladas pelo Corpo Governante.

  • Medos, culpas, intimidações, ameaças:

de perder a família (TJ) e amigos ao se ver desassociado/dissociado;

de ser destruído na Guerra do Armagedom por se estar fora da “hodierna arca de salvação, a organização de Deus”;

de não ser ressuscitado, caso venha a falecer fora da organização;

de “faltar chão” ou não haver vida alguma fora da organização;

de ver a boa reputação destruída por meio de boatos maldosos;

de perder o emprego ou tratos comerciais essenciais com Testemunhas de Jeová.

É tudo parte da doutrinação do medo, a tática de ameaças e intimidação opressivas, o método sinistro de implantação de culpas nas mentes e corações dos membros. 

Para tornar ainda maior essa lista, a Sociedade, através de algumas de suas publicações da Torre de Vigia lança artigos alertando contra os “perigos da Internet” ao se referir aos supostos “apóstatas” que estão na rede. Na verdade, essas estratégias de controle de informação tendem a mergulhar a estrutura da psique humana das Testemunhas num conjunto mental de intolerância e dogmatismo cada vez maior.

No entanto, controles desse tipo talvez sejam uma das razões pelas quais, em muitos países, cada vez mais pessoas se refreiam de batizar-se como Testemunhas de Jeová, pois elas se dão conta de que, ao assumirem publicamente o compromisso de servir lealmente a Jeová Deus e à organização Torre de Vigia, no dia do batismo, estarão também assinando a perda de vários direitos humanos importantes, como a liberdade de expressão, o direito de ir e vir como persona-grata, pois afinal de contas, não cometeu nenhum crime (apesar de para essa organização, discordar dela é tornar-se “apóstata” e ser execrado, considerado um “leproso espiritual” a ser tratado com toda a discriminação abominável dentro dos salões do reino e fora deles).

 

 

  • Um outro seria “Apostasy” — 2017: 

 

 

 

Nota de Agradecimento: uma parte do texto foi adaptada a partir de um outro texto escrito por Victor Escalante.